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É hora de rediscutir as torcidas organizadas
JUCA KFOURI
Colunista da Folha
Não gosto das torcidas organizadas. Jamais gostei.
E não vejo nelas autoridade
para falar em nome da grande
massa de torcedores de qualquer clube, posto que ninguém
lhes deu mandato para tanto.
Além do mais, penso que
quem torce por um clube não
precisa se organizar para demonstrar sua paixão.
Em regra, o torcedor organizado gosta mais de sua facção
do que do clube, razão pela
qual fico pasmo quando vejo
diretorias ou comissões técnicas de grandes clubes do país
recebendo os ""organizados"
como se fossem porta-vozes da
grande massa. E por quê?
Porque provavelmente é o
que eles são.
Por contraditório que pareça,
o fato é que as organizadas
existem, são reconhecidas nos
clubes (o Flamengo chegou até
ao absurdo de transformar chefes de torcida em dirigentes de
seu futebol) e, justiça seja feita,
são as maiores responsáveis pelos belos espetáculos coreográficos em nossos estádios -exceção feita aos de São Paulo,
onde estão proibidas.
Quando a proibição foi estabelecida, logo após a carnificina de agosto de 1995, no Pacaembu, num jogo entre juniores de Palmeiras e São Paulo,
que resultou na morte de um
torcedor, não havia mesmo outra medida a ser adotada. Era
necessário estancar a demência, suspender o próprio futebol
se fosse o caso, porque não faz o
menor sentido que pessoas
morram em praças destinadas
à diversão pública. E estava virando moda em São Paulo
morrer nos campos de futebol.
Quase quatro anos se passaram desde então.
Se a violência em torno dos
estádios tem recrudescido, dentro, é verdade, diminuiu sensivelmente. E a ausência das organizadas como tais colaborou
decisivamente para isso.
Mas ninguém desconhece que
elas jamais deixaram de frequentar as arquibancadas.
Passaram a ir em número menor, com disfarces, mas lá estavam, sempre.
E, cada vez mais, lá estão.
Como a proibição não é solução definitiva para o problema,
além de provavelmente inconstitucional, talvez tenha chegado a hora de começar a se discutir a ""descriminalização"
das torcidas organizadas.
Sem pressa, com cuidado,
mas sem medo.
Porque as autoridades inglesas não proíbem os ""hooligans"
de ir a campo, mas os vigiam a
ponto de terem tirado os alambrados dos estádios.
Nossas autoridades já tiveram tempo suficiente para
aprender como tratar com
aqueles que se organizam para
a baderna. Não parece justo
que os que querem apenas se divertir paguem o mesmo preço,
além do direito de ir e vir -vestido como bem entender.
Quem passou maus bocados
com torcedores foi Eurico Miranda, em Brasília, no estádio
Mané Garrincha, palco de Brasil e EUA, no meio de semana.
Sem esboçar reação, sorrindo
amarelo, Miranda não só ouviu coros desagradáveis como,
na própria tribuna de honra
em que estava, um senhor de
idade postou-se a sua frente e,
dedo em riste, cara a cara, fez
seu desabafo pessoal, para delírio das pessoas em volta.
Aguarde novidades sobre a
deliciosa expressão ""matar a
cobra e mostrar o pau".
Juca Kfouri escreve aos domingos, terças e sextas
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