São Paulo, segunda-feira, 11 de junho de 2001

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FUTEBOL


Moedor de carne

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O empate entre Grêmio e Corinthians foi um resultado justo, pois nenhum dos dois times parece ter entrado em campo para vencer.
No primeiro tempo, o Grêmio criou mais chances, mas parecia atacar com o freio de mão puxado, com um temor excessivo do adversário. O Corinthians, por sua vez, não criou nada. Foi buscar um gol num chute de longe, desviado providencialmente no meio do caminho.
O time gaúcho só partiu para cima do alvinegro quando já estava tomando de 2 a 0.
O Corinthians mostrou a mesma cautela (para não dizer covardia). Em vez de aproveitar o desespero gremista, resolveu recuar para "segurar o resultado". Luxemburgo trocou um atacante (Muller) por um volante. E o Grêmio chegou ao empate.
Com a volta de Marcelinho Paraíba e a necessidade de vencer, o Grêmio deverá ser mais agressivo na partida de São Paulo. Quem sabe então teremos um jogo digno de uma final de Copa do Brasil.

Leão já é passado.
O problema agora, além da escolha do novo treinador, é saber qual a estratégia que será adotada para tentar chegar à Copa de 2002, se possível para lutar pelo título ou, pelo menos, não passar vergonha.
Os dilemas são vários:
1. Definir um time-base para todos os jogos das eliminatórias ou convocar um elenco diferente para cada adversário?
2. Convocar estrelas internacionais desprezadas por Leão ou buscar padrão de jogo com atletas que atuam no Brasil e têm mais tempo de treinar juntos?
3. Usar um clube brasileiro como base ou simplesmente convocar os melhores?
Foram tantos os equívocos acumulados desde a Copa da França que nenhuma dessas questões vê resposta fácil.
O Brasil, que já não produz craques em profusão como em outras épocas, não pode se dar ao luxo de queimar seguidas gerações de bons jogadores, como vem fazendo.
A perda da Copa de 98 para a França não tornou automaticamente ruins de bola atletas como Rivaldo, Roberto Carlos, Leonardo e Cafu, assim como o fracasso na Olimpíada de Sydney não fez Alex, Ronaldinho, Roger, Geovanni, Fábio Aurélio, Edu e Athirson esquecerem como se joga futebol.
No entanto, torcedores e jornalistas (e muitos treinadores) olham para eles como se fossem cartas fora do baralho, personagens de um filme antigo, pesos mortos -mesmo que continuem brilhando em seus clubes.
Por quê? Simplesmente porque passaram pela seleção e não ganharam os títulos que se esperava que ganhassem.
E o que dizer do ostracismo de gente como Serginho (ex-São Paulo), Djalminha, Amoroso, Giovanni (ex-Santos)?
Olhemos à nossa volta. Que outro país do mundo descartou em tão pouco tempo tantos talentos? Na seleção que foi à Copa das Confederações, por exemplo, só havia dois atletas que estiveram em Sydney no ano passado: Fábio Costa e Lúcio. E não havia nenhum "sobrevivente" da França-98.
Além da roubalheira, do calendário absurdo e da desorganização geral, é preciso mudar essa mentalidade predatória que domina o futebol brasileiro e que faz da seleção uma máquina de moer carne.

Que vitrine?
Encarar a seleção brasileira como vitrine para valorizar jogadores pode ser, como diria Vicente Mateus, "uma faca de dois legumes". Basta ver o caso de Washington. A diretoria da Ponte Preta, em plena semifinal da Copa do Brasil, cedeu o artilheiro à seleção pensando em exibi-lo ao mercado internacional. Caiu fora do torneio e expôs seu atleta ao vexame do timeco de Leão.

A aula do "tio"
Esperava-se um duelo entre a experiência do zagueiro Mauro Galvão e a juventude do atacante Ewerthon, que tem idade para ser seu filho. Mas quem acabou brilhando -ainda que só por um instante- no ataque do Corinthians foi outro veterano, Muller. Seu gol foi um primor de técnica, concisão e categoria: recebeu de costas para o gol, amorteceu com a esquerda, driblou com um toque de direita e fuzilou, de novo com a canhota.
Aprendeu, Ewerthon?

E-mail: jgcouto@uol.com.br


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