São Paulo, terça-feira, 11 de junho de 2002

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JOSÉ ROBERTO TORERO

Caviar x Amendoim ou Portugal x Portuguesa


O futebol é sempre o mesmo. É um duelo cheio de tragédia e alegria, heróis e vilões. Por isso é o maior esporte do planeta


Que jogo! Os portugueses marcaram primeiro e dominavam a partida, mas então o astro da equipe perdeu um pênalti e tudo se complicou.
Antes do fim do primeiro tempo, os adversários empataram, e a etapa final foi um deus-nos-acuda, com cada lance podendo decidir a partida. Os torcedores rubro-verdes quase arrancavam os cabelos de nervoso. Então, com o empate em 1 a 1, as duas equipes foram para os pênaltis e só na última cobrança tudo se resolveu.
Antes que os leitores pensem que devo procurar um médico, aviso que não estou me referindo ao jogo Portugal x Polônia, mas, sim, a Portuguesa Santista x Francana, partida que decidia quem iria para a segunda divisão do Campeonato Paulista.
Explico: no domingo, eu acordei um tanto cansado da pompa da Copa do Mundo na Ásia. Cansado das seleções poderosas, das camisas tecnologicamente fabricadas, dos estádios impecáveis, da cobertura jornalística sofisticada, com dezenas de comentaristas e os lances sendo mostrado de vários ângulos.
Deu-me saudade de ver algo mais simples, mais prosaico, e então calcei meu chinelo de tiras meio soltas, vesti uma camisa manchada, escolhi minha bermuda mais puída (o que demorou um certo tempo) e fui ao estádio da Briosa para comer amendoim e me irritar por causa das pilastras que não permitem ao espectador ver a partida direito.
Quero deixar claro que não sou contra a grandiosidade. O luxo é agradável e enche os olhos, mas também cansa um pouco. Ninguém veste sua fantasia de carnaval o ano todo.
Quanto ao jogo, foi mesmo emocionante.
A Portuguesa do técnico Pepe saiu na frente, desperdiçou uma penalidade com Silas (aquele) e deixou a Francana empatar, para desespero dos torcedores.
Tudo foi para a decisão por pênaltis, e o alívio só veio na última cobrança, quando Clemílson chutou na trave.
A bola percorreu toda a linha do gol e acabou saindo caprichosamente pela linha de fundo.
Pepe foi carregado nos braços, os jogadores se abraçaram e torcedores cantaram.
No final, fica a idéia de que com pompa ou sem pompa, num estádio coberto em Yokohama ou na arquibancada dura de Ulrico Mursa, o futebol é sempre o mesmo. É sempre um duelo repleto de tragédia e alegria, de heróis e vilões. E isso é o que faz dele o maior esporte do planeta.

torero@uol.com.br



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