São Paulo, terça-feira, 11 de junho de 2002

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LUIZ CARLOS BARRETO

No bate e rebate, com pitadas de Felipão

Quem já jogou futebol a sério ou para se divertir nos fins de semana sabe como é difícil enfrentar um rival que joga na base da correria.
Recentemente tivemos um exemplo, na Copa Brasil, do quão longe se pode chegar correndo, embora o dito popular afirme que "é devagar que se vai ao longe". O time do Brasiliense desmentiu o dito popular e sagrou-se vice-campeão do torneio, derrotando e deixando pra trás times de primeiríssima linha do futebol brasileiro como Fluminense e Atlético-MG.
O jogo do "abafa" é uma tática primária e antiga, que se emprega para perturbar e dificultar as ações de um adversário mais técnico e mais bem estruturado.
Exatamente isso foi o que ocorreu no jogo Brasil 4 x 0 China, em que o time dirigido pelo técnico iugoslavo Bora Milutinovic adotou, enquanto teve pernas, a tática do "abafa", que, em síntese, consiste em combater o adversário que tiver a posse da bola, com três e as vezes quatro jogadores, sempre em bloco, para "abafar" o toque e a troca de passes. O conceito desse tipo de jogo é diminuir o espaço e o tempo que os jogadores mais técnicos e virtuosos necessitam para realizar o lance com mais precisão e requinte.
Foi o que a China conseguiu fazer durante a primeira meia hora no jogo com o Brasil. Nosso time chegou a se perturbar e quase caiu na armadilha que o Bora, velho conhecedor e admirador do futebol brasileiro, sempre armou pra cima de nós.
Com 3 x 0 garantidos no primeiro tempo, Scolari, que a cada dia que passa revela-se um observador esperto, coloca em campo Denílson, emérito driblador e prendedor de bola, no intuito de reter o jogo e quebrar o ritmo chinês, procurando atrair para o lado esquerdo do nosso ataque a atenção do "abafa" dos chineses. O Denílson serviria de isca para que três ou quatro chineses se ocupassem dele. Em tarde (lá na Coréia) de pouca inspiração, Denílson pouco produziu e em nada preocupou a defesa da China.
Esta segunda apresentação do Brasil na Copa não foi brilhante nem muito animadora, mas serviu para mostrar que Scolari conseguiu estruturar um time e está a caminho de lhe dar um padrão definido, uma personalidade.
Em outras circunstâncias o time brasileiro chegou a ser derrotado e humilhado por equipes menores, que jogaram contra nós adotando a tática do "abafa", como nos casos de Honduras e Bolívia, que chegaram a colocar a seleção na roda e promover olés.
Isso é história recente: eliminatórias da Copa e Copa América.
Chegou a hora de deixarmos de lado os julgamentos preconceituosos com respeito ao Scolari, que vem dando provas e sinais de mudanças no sentido de fazer o futebol brasileiro voltar a ser o que sempre foi: fino, requintado, mas também vigoroso, com pitadas de Felipão.
Obs: Aqui em Miami, onde me encontro participando do Festival de Cinema Brasileiro, leio na imprensa norte-americana, "New York Times" inclusive, comentários exaltando a seleção brasileira e saudando a volta do nosso estilo solto e moleque. Os norte-americanos comemoraram a vitória de sua equipe sobre os portugueses como se fosse a conquista da Copa.


Luiz Carlos Barreto, é produtor de cinema, fotógrafo e jornalista



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