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LUIZ CARLOS BARRETO
No bate e rebate, com pitadas de Felipão
Quem já jogou futebol a
sério ou para se divertir
nos fins de semana sabe
como é difícil enfrentar um rival
que joga na base da correria.
Recentemente tivemos um
exemplo, na Copa Brasil, do quão
longe se pode chegar correndo,
embora o dito popular afirme
que "é devagar que se vai ao longe". O time do Brasiliense desmentiu o dito popular e sagrou-se
vice-campeão do torneio, derrotando e deixando pra trás times
de primeiríssima linha do futebol
brasileiro como Fluminense e
Atlético-MG.
O jogo do "abafa" é uma tática
primária e antiga, que se emprega para perturbar e dificultar as
ações de um adversário mais técnico e mais bem estruturado.
Exatamente isso foi o que ocorreu no jogo Brasil 4 x 0 China, em
que o time dirigido pelo técnico
iugoslavo Bora Milutinovic adotou, enquanto teve pernas, a tática do "abafa", que, em síntese,
consiste em combater o adversário que tiver a posse da bola, com
três e as vezes quatro jogadores,
sempre em bloco, para "abafar" o
toque e a troca de passes. O conceito desse tipo de jogo é diminuir
o espaço e o tempo que os jogadores mais técnicos e virtuosos necessitam para realizar o lance
com mais precisão e requinte.
Foi o que a China conseguiu fazer durante a primeira meia hora
no jogo com o Brasil. Nosso time
chegou a se perturbar e quase
caiu na armadilha que o Bora,
velho conhecedor e admirador do
futebol brasileiro, sempre armou
pra cima de nós.
Com 3 x 0 garantidos no primeiro tempo, Scolari, que a cada
dia que passa revela-se um observador esperto, coloca em campo
Denílson, emérito driblador e
prendedor de bola, no intuito de
reter o jogo e quebrar o ritmo chinês, procurando atrair para o lado esquerdo do nosso ataque a
atenção do "abafa" dos chineses.
O Denílson serviria de isca para
que três ou quatro chineses se
ocupassem dele. Em tarde (lá na
Coréia) de pouca inspiração, Denílson pouco produziu e em nada
preocupou a defesa da China.
Esta segunda apresentação do
Brasil na Copa não foi brilhante
nem muito animadora, mas serviu para mostrar que Scolari conseguiu estruturar um time e está
a caminho de lhe dar um padrão
definido, uma personalidade.
Em outras circunstâncias o time brasileiro chegou a ser derrotado e humilhado por equipes
menores, que jogaram contra nós
adotando a tática do "abafa", como nos casos de Honduras e Bolívia, que chegaram a colocar a seleção na roda e promover olés.
Isso é história recente: eliminatórias da Copa e Copa América.
Chegou a hora de deixarmos de
lado os julgamentos preconceituosos com respeito ao Scolari,
que vem dando provas e sinais de
mudanças no sentido de fazer o
futebol brasileiro voltar a ser o
que sempre foi: fino, requintado,
mas também vigoroso, com pitadas de Felipão.
Obs: Aqui em Miami, onde me
encontro participando do Festival de Cinema Brasileiro, leio na
imprensa norte-americana,
"New York Times" inclusive, comentários exaltando a seleção
brasileira e saudando a volta do
nosso estilo solto e moleque. Os
norte-americanos comemoraram
a vitória de sua equipe sobre os
portugueses como se fosse a conquista da Copa.
Luiz Carlos Barreto, é produtor de
cinema, fotógrafo e jornalista
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