São Paulo, quinta-feira, 11 de julho de 2002

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FUTEBOL

Será que vale a pena?

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Desligo a TV, pego minha filha no colo e a levo pra cama. Eu também gostava de dormir na sala, mas no meu tempo não passava desenho à noite... Minha mãe tinha mais trabalho comigo porque precisava subir uma escada; às vezes eu acordava no meio do caminho, mas continuava de olho fechado, pra não ter de subir andando. Eu queria mesmo era ficar no sofá -era tão bom, e a cama tão gelada...
Volto para a sala e para o presente e reinicio o computador para responder e-mails antes de dormir. Nunca vou dar conta de todos, mas faço o que posso. Em dia de coluna, já sei o que me espera -pau. Especialmente depois da Copa do Mundo.
Começou: "Tomara que a senhora e os seus coleguinhas vão para o olho da rua". "Coleguinhas?", respondo. "Quais? Os repórteres, os editores ou os colunistas? O Torero, o Zé Geraldo, o Tostão? Caramba, que jeito de se referir a eles! Algum deles já foi tão sarcástico em relação a alguém? Já desejou deliberadamente o mal para outra pessoa?"
Próximo: "Não fique com inveja da Globo, um dia eles te convidam para trabalhar lá". "Reply": "Milhões de coisas legais podem ser e são feitas na Globo, mas não concordo com determinados métodos. Como o de aniquilar a concorrência em vez de concorrer; tripudiar como se tivesse ganho uma batalha que nem houve".
A família dormindo, a cama me esperando, e eu respondendo e-mails agressivos...
Será que vale a pena?
Às vezes eu me pergunto se ter uma coluna sobre futebol faz mais mal do que bem. Traz mais dano ou proveito. Sem querer, causo raiva em alguém -alguém que não suporta ler uma palavra do que eu escrevo, que liga o computador e me manda um e-mail para escarnecer, agredir. Tudo porque eu disse alguma coisa sobre um jogador, um técnico ou um time a respeito do qual ele tem uma opinião diferente da minha. Só isso. Tamanho ódio por causa de uma opinião?
Engraçado é que todos nós temos mil opiniões diferentes.
Por acaso algum torcedor/leitor tem o mesmo conceito de todos os jogadores da seleção? Viu um jogo da Copa com a mesma avaliação do começo ao fim?
Pois é, eu também não.
Penso que a entonação com que cada um lê o texto muda muito o seu sentido. O que era mais leve, casual, dito de passagem, "soa" categórico, agressivo, definitivo. Afinal, "está escrito". A camisa da seleção eu não sei, mas a palavra impressa tem muito peso.
Embora eu escreva sempre em primeira pessoa, deixando claro que se trata da minha impressão, é a minha opinião, o meu ponto de vista, e não algo para ser chamado de "a verdade", há sempre alguém que diga que sou "dona da verdade". Como se houvesse uma só (verdade). E uma só dona, ou dono -todo mundo crê piamente na própria opinião!
Não faço idéia de como são essas pessoas que escrevem me detestando. Não sei se são jovens ou velhas, se têm filhos ou não, se gostam das mesmas músicas que eu. Se já lhes pedi uma informação na rua, se já me deram passagem em um cruzamento. Se estivemos juntos na mesma fila de banco ou de cinema. Se são gentis e afáveis. Se gostam de cozinhar e ler gibi. Se dormem no sofá vendo televisão.
Elas também não sabem quase nada sobre mim, mas deduzem o suficiente para morrer de raiva. E para me escrever contando.

Eles também
Faz parte da profissão e "eles ganham bem para isso", mas os jogadores também sofrem com as críticas. Muitas delas são justas, corretas e podem levar a um aperfeiçoamento dependendo de como o criticado vai lidar com elas. E é preciso haver também o direito à crítica, sempre! Mas entendo as queixas de alguns que se julgam esculhambados, ofendidos... Às vezes, eles são, mesmo.

Sem esculhambar 1
Os métodos dos partidários de Edmundo Santos Silva para tentar impedir a votação do impeachment dão um idéia do estilo da sua administração no Flamengo.

Sem esculhambar 2
Um contrato não é só um papel assinado, é um compromisso entre duas partes. Luizão pisou na bola ao abandonar o Grêmio agora.

E-mail
soninha.folha@uol.com.br



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