São Paulo, Quarta-feira, 11 de Agosto de 1999
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TOSTÃO
Animador de auditório

A ""Veja" publicou, nesta semana, uma entrevista com J. Hawilla, dono da Traffic, da programação esportiva da TV Bandeirantes e da maioria dos direitos de comercialização do futebol brasileiro.
Ele diz, entre outras coisas, que futebol na televisão é um show, um programa de entretenimento e não um assunto jornalístico. Fala ainda que os narradores têm de torcer para o Brasil, para não perder a audiência, e que o papel do narrador é o de um animador de auditório. Hawilla não dissimula e fala claramente qual é o objetivo do empresário: lucro. Nada mais que isso.
Não sou contra o marketing esportivo nem contra o lucro. Penso que, apesar dos riscos de acabarem com a beleza e a alma do futebol, o profissionalismo, por meio do clube-empresa, é o único caminho para o atual e desorganizado futebol brasileiro. Pior é o amadorismo hipócrita e marqueteiro, em que alguns profissionais usam o microfone para vender seus produtos, durante as transmissões dos jogos, em vez de dar informações. A Traffic acabou com esse negócio na Bandeirantes, durante as exibições das partidas, melhorando a qualidade técnica de suas transmissões esportivas.
Sou contra a manipulação de informação, a perda da independência e as transformações dos fatos jornalísticos em apenas um jogo de interesses comerciais.
Uma partida de futebol não é somente entretenimento, mercado persa e show de auditório, mas, principalmente, jornalismo e cultura esportiva.

Três atacantes

No ano passado, Santos e Cruzeiro jogaram com três atacantes e repetem essa mesma formação tática neste ano. O Palmeiras, que também experimentou esse esquema em 98, tem jogado nesta temporada com Oséas pelo centro do ataque e Paulo Nunes e Euller pelos flancos.
Essa formação tática é diferente da utilizada por alguns outros times e pela seleção brasileira, em alguns momentos, que jogam com dois atacantes e mais um outro vindo de trás, na ligação com o meio-campo. Na prática, são também três atacantes.
O Santos, no ano passado, além desses três jogadores avançados, tinha mais um outro na ligação entre o meio-campo e o ataque, totalizando quatro atacantes, além do apoio dos laterais. O Barcelona usa três atacantes (Rivaldo e Figo pelos lados e Kluivert pelo meio) mais dois meias (Cocu e Luis Enrique), formando, na prática, cinco atacantes.
Uma das vantagens de usar atacantes pelos lados, ou pontas, é a de deixar os laterais com funções quase que somente defensivas. Como a maioria não sabe apoiar, é melhor defender do que ficar cruzando bola atrás do gol adversário.
A mais importante de todas essas mudanças é a busca do gol. Essas variações somente terão sucesso se as características dos jogadores forem compatíveis com o esquema tático. Esse é um conceito antigo e permanente. Colocar, por exemplo, o lento e inteligente Alex, do Palmeiras, na função de atacante, é o mesmo erro que escalar o veloz e driblador Alex Alves, do Cruzeiro, no meio-campo.

Futebol e economia

Luxemburgo tem enfatizado que a seleção brasileira precisa arrumar a defesa, privilegiar a marcação, não tomar gols, porque seu ataque certamente faz pelo menos um gol por jogo.
Essa é a mesma filosofia vitoriosa da Copa de 94, o que não quer dizer que será sempre eficiente. Corre-se o risco de tomar um gol e não ter tempo de reagir. Parreira justificava essa conduta dizendo que raramente em uma Copa do Mundo uma equipe reverte um placar. Penso que esse é mais um motivo para fazer um gol antes do adversário.
Armar uma boa defesa com muitos marcadores é fácil. Seria como controlar a inflação com a recessão. Difícil é armar uma boa defesa com a equipe jogando no ataque e com ousadia -o Palmeiras e o Corinthians de Luxemburgo. Seria como controlar a inflação com o aumento da produção.
Na partida final da Copa das Confederações, contra o México, a seleção colocou muitos marcadores no meio-campo e foi péssima no sistema defensivo. Foi como ter inflação e recessão ao mesmo tempo. Um desastre.

Passada a euforia do Pan-Americano, penso que as empresas jornalísticas deveriam dar mais espaços aos especialistas de outros esportes, além de futebol, vôlei e basquete. Com conhecimentos técnicos, eles poderiam explicar, didaticamente, detalhes e regras, difundindo a cultura esportiva.
Ronaldo, em vez de estar treinando e fazendo exercícios especiais para sua completa recuperação, como prometera, inclusive para justificar sua ausência da Copa das Confederações, está fazendo propaganda de seu relógio pelo mundo e da CBF na Fifa.
Enquanto os bancos anunciam lucros recordes e não pagam imposto de renda, nada se faz para diminuir os problemas sociais. É o fim do mundo.


Tostão escreve aos domingos e às quartas-feiras

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