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TOSTÃO
Animador de auditório
A ""Veja" publicou, nesta semana, uma entrevista com J.
Hawilla, dono da Traffic, da
programação esportiva da TV
Bandeirantes e da maioria dos
direitos de comercialização do
futebol brasileiro.
Ele diz, entre outras
coisas, que futebol na
televisão é um show,
um programa de entretenimento e não
um assunto jornalístico. Fala ainda que os
narradores têm de
torcer para o Brasil,
para não perder a audiência, e que o papel do narrador é o de um animador de
auditório. Hawilla não dissimula e fala claramente qual é o
objetivo do empresário: lucro.
Nada mais que isso.
Não sou contra o marketing
esportivo nem contra o lucro.
Penso que, apesar dos riscos de
acabarem com a beleza e a alma do futebol, o profissionalismo, por meio do clube-empresa, é o único caminho para o
atual e desorganizado futebol
brasileiro. Pior é o amadorismo hipócrita e marqueteiro,
em que alguns profissionais
usam o microfone para vender
seus produtos, durante as
transmissões dos jogos,
em vez de dar informações. A Traffic acabou
com esse negócio na Bandeirantes, durante as exibições das partidas, melhorando a qualidade
técnica de suas transmissões esportivas.
Sou contra a manipulação de
informação, a perda da independência e as transformações
dos fatos jornalísticos em apenas um jogo de interesses comerciais.
Uma partida de futebol não é
somente entretenimento, mercado persa e show de auditório,
mas, principalmente, jornalismo e cultura esportiva.
Três atacantes
No ano passado, Santos e
Cruzeiro jogaram com três atacantes e repetem essa mesma
formação tática neste ano. O
Palmeiras, que também experimentou esse esquema em 98,
tem jogado nesta temporada
com Oséas pelo centro do ataque e Paulo Nunes e Euller pelos flancos.
Essa formação tática é diferente da utilizada por alguns
outros times e pela seleção brasileira, em alguns momentos,
que jogam com dois atacantes
e mais um outro vindo de trás,
na ligação com o meio-campo.
Na prática, são também três
atacantes.
O Santos, no ano passado,
além desses três jogadores
avançados, tinha mais um outro na ligação entre o meio-campo e o ataque, totalizando
quatro atacantes, além do
apoio dos laterais. O Barcelona
usa três atacantes (Rivaldo e
Figo pelos lados e Kluivert pelo
meio) mais dois meias (Cocu e
Luis Enrique), formando, na
prática, cinco atacantes.
Uma das vantagens de usar
atacantes pelos lados, ou pontas, é a de deixar os laterais
com funções quase que somente defensivas. Como a maioria
não sabe apoiar, é melhor defender do que ficar cruzando
bola atrás do gol adversário.
A mais importante de todas
essas mudanças é a busca do
gol. Essas variações somente terão sucesso se as características
dos jogadores forem compatíveis com o esquema tático. Esse
é um conceito antigo e permanente. Colocar, por exemplo, o
lento e inteligente Alex, do Palmeiras, na função de atacante,
é o mesmo erro que escalar o
veloz e driblador Alex Alves, do
Cruzeiro, no meio-campo.
Futebol e economia
Luxemburgo tem enfatizado
que a seleção brasileira precisa
arrumar a defesa, privilegiar a
marcação, não tomar gols, porque seu ataque certamente faz
pelo menos um gol por jogo.
Essa é a mesma filosofia vitoriosa da Copa de 94, o que não
quer dizer que será sempre eficiente. Corre-se o risco de tomar um gol e não ter tempo de
reagir. Parreira justificava essa
conduta dizendo que raramente em uma Copa do Mundo uma equipe reverte um placar. Penso que esse é mais um
motivo para fazer um gol antes
do adversário.
Armar uma boa defesa com
muitos marcadores é fácil. Seria como controlar a inflação
com a recessão. Difícil é armar
uma boa defesa com a equipe
jogando no ataque e com ousadia -o Palmeiras e o Corinthians de Luxemburgo. Seria
como controlar a inflação com
o aumento da produção.
Na partida final da Copa das
Confederações, contra o México, a seleção colocou muitos
marcadores no meio-campo e
foi péssima no sistema defensivo. Foi como ter inflação e recessão ao mesmo tempo. Um
desastre.
Passada a euforia do Pan-Americano, penso que as empresas jornalísticas deveriam
dar mais espaços aos especialistas de outros esportes, além
de futebol, vôlei e basquete.
Com conhecimentos técnicos,
eles poderiam explicar, didaticamente, detalhes e regras, difundindo a cultura esportiva.
Ronaldo, em vez de estar
treinando e fazendo exercícios
especiais para sua completa recuperação, como prometera,
inclusive para justificar sua
ausência da Copa das Confederações, está fazendo propaganda de seu relógio pelo mundo e da CBF na Fifa.
Enquanto os bancos anunciam lucros recordes e não pagam imposto de renda, nada se
faz para diminuir os problemas sociais. É o fim do mundo.
Tostão escreve aos domingos e às quartas-feiras
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