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São Paulo, sábado, 11 de outubro de 2003

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MOTOR

Geografias

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

Aprendemos na escola o nome de países e capitais, rios, mares, atividades econômicas, sistemas políticos e sociais. A não ser por exigência profissional ou afetiva, esquecemos tudo depois. Ou, pior, alteramos o mundo.
Pintamos novos mapas por conveniência. Deslocamos países e fronteiras para entender o planeta ou simplesmente suportá-lo. Carregamos na tinta por preconceito e ignorância. E ainda nos surpreendemos quando alguém faz isso conosco, transformando Buenos Aires em Brasília ou reduzindo o país a samba e futebol -ou a puro sexo e narcotráfico.
No esporte, nosso mapa é cíclico. A cada quatro anos viramos potência na Copa. Lembramos que existe Nigéria e Camarões e que os EUA são um nada. A cada quatro anos outros nos reconhecemos pequenos durante a Olimpíada. Lembramos de Cuba e sentimos o peso dos americanos.
E todo ano, há vários anos, assistimos aos GPs de Suzuka por puro impulso ou falta de sono. Na atual geografia da F-1, somos lembrança. Merecemos respeito e nada mais. A categoria hoje fala alemão, o alemão classe média, familiar e definitivamente espetacular de Michael Schumacher.
E isso incomoda, não apenas a nós, viúvas de Senna e dos outros, mas a todos que por obra do destino não falam a língua de Goethe, ingleses à frente. Dias depois de Indianápolis, o "Guardian", por exemplo, perguntava: Se Schumacher tivesse nascido no Brasil, na Argentina ou em qualquer país sul-americano, não estariam todos o considerando próximo, batizando os filhos com seu nome ou torcendo nos pubs aos domingos? "Mas ele é alemão e portanto uma máquina, calculista e arrogante, a negação de qualquer coisa que pareça falível".
O objeto do artigo, na verdade, não é esse. A proposta vem logo depois, na forma de outra pergunta: "O que não toleramos é um esporte ser dominado por um time ou por alguém ou isso simplesmente depende de quem o está dominando?". Sim, para muitos é um problema reconhecer Schumacher como o maior campeão de todos os tempos. Porque grandes campeões, como diz o texto, precisam de grandes rivais e "um passaporte brasileiro".
Após ler tudo isso, não consegui parar de pensar, não em Schumacher, mas em Senna, espécie de paradigma de perfeição para 99% da população. Pela tese proposta, então, Senna não seria um Senna se tivesse nascido na Itália? Ou somos algo digno de nota na F-1 pelo simples fato de ser incrível um país semimiserável produzir esportistas competentes?
Sim, isso é incrível, mas para europeus que nos associam a amazônias e churrascarias.
Fangio é e será sempre o maior pela média de vitórias que alcançou. Mas foi reconhecido em livros e filmes apenas porque a Europa de pós-guerra precisava justificar com algo misterioso -um argentino- o fracasso dos seus.
O mesmo aconteceu com Senna, que percebeu e usou isso, descaradamente. Deixou a F-1 de joelhos.
Com Schumacher será diferente. Será sempre um alemão, o que, na geografia de lá e de cá, significa o sujeito que deveria ganhar.

Racing Day
Da madrugada ao fim da tarde, um domingo quase legal. Quem tiver fôlego começa com as motos, na Malásia, passa pela decisão em Suzuka, volta para as motos, vai para Indy na Cidade do México e espera pelo jornal para saber como Gil se despediu da IRL. É incrível, mas a Sportv, até ontem, não tinha colocado o GP do Texas em sua grade.

Cresce e aparece
Segundo a Mo Nunn, equipe de Felipe Giaffone, a IRL voltará à TV aberta na próxima temporada. A Bandeirantes comprou os direitos.

Fique de olho
Atenção em Barrichello nesta madrugada. Corre por sua temporada de 2004. Dentro ou fora da Ferrari, seu futuro está em jogo no Japão.

E-mail mariante@uol.com.br


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