São Paulo, domingo, 11 de outubro de 1998

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FUTEBOL
Além de budismo e Internet, atleta quer concluir leitura de biografia
Contundido, Ronaldinho lê "meio livro' do Garrincha

do enviado ao Rio

Afastado dos gramados há exatas três semanas, Ronaldinho tem tido a possibilidade de atender a um sonho antigo de sua mãe: o de se dedicar à leitura.
Não com muito afinco, é verdade, mas as "quase 200 páginas" que já leu do livro "Estrela Solitária -Um Brasileiro Chamado Garrincha", de Ruy Castro, são, para ele, um verdadeiro recorde.
Algo tão importante quanto a média de 0,94 gol por jogo atingida em 1993/94, no início da carreira. Ou mais, porque "dá mais trabalho ler um livro do que marcar um gol", como disse o jogador.
Na infância, ele teimava em não seguir os conselhos da mãe, que insistia para que Ronaldinho se dedicasse aos estudos. De acordo com Sônia Barata, seu filho bem que tentou atendê-la. "Mas não era o que ele queria. Só mais tarde vi que ele tinha razão. Você tem que fazer aquilo em que é o melhor, tem que levar jeito para a coisa."
Ronaldinho, porém, parece que não se esqueceu dos conselhos da infância. "Há uns dois anos eu já tinha tentado ler o livro do Garrincha, mas não passei da página 40. Agora avancei bem mais, né?", brincou o jogador.
Mas, mesmo tendo se aproximado das 200 primeiras páginas, Ronaldinho não chegou à metade da obra, que tem 487.
Quando indagado sobre o motivo da escolha do livro, que narra a história de um dos maiores jogadores do Brasil, herói das Copas de 1958 e 62, e morto em 1983, na miséria e no abandono, depois de ter se entregue ao alcoolismo, aos 49 anos, Ronaldinho disse apenas que "mais de uma pessoa me recomendou, porque fala (sic) de futebol."
Coincidentemente, no entanto, a primeira tentativa de Ronaldinho de ler a obra de Ruy Castro fora há pouco mais de dois anos, quando se preocupava, como agora, com dores no joelho. Na ocasião, o atacante tinha sido operado do joelho direito, na Holanda, e se recuperava no Brasil, atendido pelo fisioterapeuta Nílton Petroni, o Filé, indicação de seu amigo Romário.
Aconselhado por seu pai, Nélio Nazário de Lima, Ronaldinho leu "umas 20 páginas" do livro. Mais tarde, já recuperado da contusão, viajou para Miami com a seleção brasileira para disputar a Olimpíada e leu outras 20 páginas.
Agora, no entanto, mais determinado, já leu quase cinco vezes mais do que naquela ocasião.
A leitura, no entanto, não é sua única diversão. O resto do tempo, além dos exercícios de hidroginástica, musculação e fisioterapia, Ronaldinho passa na Internet, conversando com amigos ou, em algumas ocasiões, até com fãs que lhe escrevem para dar apoio.
Nesse período "sem muito o que fazer", Ronaldinho tem podido se dedicar mais aos amigos.
É o caso de seus companheiros Zé Elias e Roberto Baggio, os dois com quem mais tem conversado.
O atacante italiano, inclusive, que também está contundido, chegou a lhe dar algumas lições de budismo, religião de origem asiática da qual é adepto.
Do Brasil, Ronaldinho diz que sente saudades do volante Vampeta, que lhe ensinou a falar holandês nos tempos em que esteve no PSV, e de seus amigos e familiares que estão no Rio.
Apesar das saudades, porém, afirma não ter intenção de retornar ao país antes das festas de Natal. O motivo não é só a preocupação com o estado de seus joelhos, mas o desejo de evitar a boataria sobre sua vida particular, que acaba acontecendo sempre que retorna ao Brasil.
E, enquanto se trata e espera a hora de voltar aos campos, Ronaldinho aproveita também para acompanhar, à distância, é verdade, a nova era da seleção brasileira, iniciada com a chegada de Wanderley Luxemburgo ao cargo de treinador da equipe.
"Ele é um grande técnico e vai fazer ótimo trabalho com a seleção. É só darem um tempo, ninguém ficar pegando no pé, que as coisas vão se encaminhar bem", comentou o jogador, que aproveitou para lamentar a perda do título para a França, recusando-se a falar sobre o dia da final. "É uma coisa que já passou. Agora é pensar para a frente, não para trás", disse ele.
E, por falar em futuro, faz questão de dizer que a seleção faz parte dos seus planos. "Assim que estiver em forma e for convocado, eu volto", avisou. ( JCA)



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