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Intérpretes são exemplares
JOÃO BATISTA NATALI
da Reportagem Local
Os discos temáticos são objetos
meio estranhos, porque partem do
pressuposto de que a música tem
conteúdo ou conta uma história.
O que pode no máximo ocorrer é
uma evocação, uma sugestão, que
o ouvinte consome a seu modo,
sem necessariamente associar
uma polca de Josef Strauss a uma
corrida de cavalos ou uma marcha
de Julius Fucik a um confronto
movimentado entre gladiadores.
Mesmo assim, "Les Classiques
du Sport" é um CD que vale pela
qualidade dos intérpretes, todos
exemplares em seu gênero.
As polcas e valsas vienenses sob a
direção de Willi Boskovsky (1909-1991) têm o sabor correto do clássico ligeiro do século 19, com sua superficialidade e mesmisse.
As peças orquestrais de Erik Satie já são coisa de especialista.
O maestro francês Michel Plasson, 66, deu à sua orquestra, a Capitole de Toulouse, uma dimensão
que até os anos 70 poucas sinfônicas francesas de província haviam
conseguido.
Seu Satie é exemplar. Ele busca
no andamento lento a mesma dramaticidade que obteve ao gravar
(bem, para um francês) as sinfonias de Gustav Mahler.
O mesmo vale para as 20 peças
para piano do mesmo compositor,
interpretadas por Aldo Ciccolini,
73, um especialista no repertório
francês do início do século.
Jean Martinon (1910-1976),
que dirige "Rúgbi", de Arthur Honegger, domina a
orquestra com a cabeça
de um matemático. Ele
busca sempre a lógica
correta da interpretação. A música
pode parecer à
primeira vista difícil. Mas é bela
como a solução
de um problema.
Por fim, o tcheco Libor Pesek
não chega a ser
um intérprete
brilhante ao dirigir a Filarmônica
de Liverpool, da
qual é o maestro
titular, na marcha "A Entrada
dos Gladiadores",
de Julius Fucik.
Mas isso não tem
tanta importância.
Afinal, o que vale é a
cadência e a sequência
dos acordes em "fortissimi" que o autor por certo
exigiu.
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