São Paulo, domingo, 11 de outubro de 1998

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Brasileiro usa sons do futebol

da Reportagem Local

"Estava descendo para Santos, quando alguém no carro ligou o rádio para ouvir a transmissão de uma partida. Senti na locução uma música, uma flutuação, um sobe-e-desce. Parecia um canto gregoriano acelerado."
Assim o compositor Gilberto Mendes descreve o momento de inspiração para sua peça sinfônica "Santos Football Music" (1969), que o autor rotula como "teatro musical". O futebol, porém, não contribui só com o nome da obra que tem duração de 20 minutos.
Na execução em sala de concerto, o maestro da orquestra personifica um juiz, com direito a apito, com o qual paralisa a música, e cartão vermelho, usado para expulsar algum músico.
O árbitro ainda dá uma cabeçada em uma bola que é lançada ao palco. Essa obra, porém, exige um outro regente, para transformar a platéia em uma torcida.
Para tanto, o segundo maestro utiliza placas com dizeres como "gol" e "mais um", orientando a participação do público.
Os músicos, vestidos de uniformes, disputam um jogo no palco. "Isso dá muito problema, porque alguns músicos se negam a fazer. Alegam que não são atores", afirma Mendes.
O recomendado é o jogo rasteiro, porque uma bolada em um violino poderia dar um belo prejuízo.
Para completar, caixas de som emitem um jogo narrado por Geraldo José Almeida em que o Santos de Pelé perde para o Palmeiras.
Apesar da inspiração, Mendes não simpatiza com o futebol."É intolerável. Um bando de magnatas atrás de uma bola."
Mesmo em 1969, o compositor estava mais preocupado com o movimento "Música Nova", influenciado do concretismo, do que com o lendário Santos de Pelé. "Só ia ao estádio para levar meus filhos, que queriam ver o Santos."
Além do Brasil, "Santos Football Music" já foi executada na Bélgica, Polônia e Alemanha, onde a obra foi gravada em disco. (RB)


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