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Brasileiro usa sons do futebol
da Reportagem Local
"Estava descendo para Santos,
quando alguém no carro ligou o
rádio para ouvir a transmissão
de uma partida. Senti na locução uma música, uma flutuação, um sobe-e-desce.
Parecia um canto gregoriano acelerado."
Assim o compositor Gilberto Mendes descreve o
momento de inspiração para sua
peça sinfônica
"Santos Football Music"
(1969), que o autor rotula como
"teatro musical". O futebol,
porém, não contribui só com o
nome da obra
que tem duração de 20 minutos.
Na execução
em sala de concerto, o maestro da
orquestra personifica um juiz, com direito a apito, com o qual
paralisa a música, e cartão vermelho, usado para
expulsar algum músico.
O árbitro ainda dá uma cabeçada
em uma bola que é lançada ao palco. Essa obra, porém, exige um outro regente, para transformar a
platéia em uma torcida.
Para tanto, o segundo maestro
utiliza placas com dizeres como
"gol" e "mais um", orientando a
participação do público.
Os músicos, vestidos de uniformes, disputam um jogo no palco.
"Isso dá muito problema, porque
alguns músicos se negam a fazer.
Alegam que não são atores", afirma Mendes.
O recomendado é o jogo rasteiro,
porque uma bolada em um violino
poderia dar um belo prejuízo.
Para completar, caixas de som
emitem um jogo narrado por Geraldo José Almeida em que o Santos de Pelé perde para o Palmeiras.
Apesar da inspiração, Mendes
não simpatiza com o futebol."É intolerável. Um bando de magnatas
atrás de uma bola."
Mesmo em 1969, o compositor
estava mais preocupado com o
movimento "Música Nova", influenciado do concretismo, do que
com o lendário Santos de Pelé. "Só
ia ao estádio para levar meus filhos, que queriam ver o Santos."
Além do Brasil, "Santos Football
Music" já foi executada na Bélgica,
Polônia e Alemanha, onde a obra
foi gravada em disco.
(RB)
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