São Paulo, quinta, 12 de fevereiro de 1998

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Futebol tem que mudar para a arte sobreviver

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

Equipes com 10 em vez de 11 jogadores; dois tempos de 35 ou 40 minutos cronometrados de bola em jogo; quatro auxiliares do juiz (e mais um cronometrista) em vez dos dois atuais; aumento das dimensões do gol; exclusão do jogador que cometer cinco infrações numa partida.
Essas são algumas das propostas de mudanças no futebol apresentadas pelo ex-diplomata e tradutor Márcio Ramalho em seu livro ""Futebol É Bola na Rede", que a editora Relume-Dumará lança em março.
Desde já, trata-se de um livro destinado à polêmica, até porque, em geral, temos uma espécie de resistência afetiva e inercial a ver modificado o esporte que aprendemos a amar desde o berço.
Mas Ramalho parte de um diagnóstico irrefutável: o futebol, apesar da superestrutura comercial e de mídia montada a sua volta, enfrenta uma crise em seus próprios fundamentos de jogo e espetáculo.
Com o notável avanço na preparação física dos atletas, aliado ao aumento da violência e à preponderância de orientações táticas defensivistas, o campo de jogo se congestionou, as partidas ficaram truncadas e monótonas, os gols minguaram, os estádios se esvaziaram.
Para Ramalho, têm sido muito tímidas as medidas tomadas pelo ""International Football Association Board", braço da Fifa que analisa as regras, para fazer frente a essa situação e restituir ao futebol o colorido e a alegria perdidos.
Daí o caráter drástico de suas propostas. Algumas são tão obviamente positivas que custa a crer que ainda não foram cogitadas pelo ""Board".
Exemplo: Ramalho propõe que a bola que sai do campo pelo ar, sem tocar no chão, possa continuar em jogo se for tocada uma única vez por um jogador (ou então se voltar a campo ""pelas próprias asas", por conta de uma curva, como em certos escanteios).
É claro que, além de diminuir o número de interrupções da partida, tornando-a mais fluente, essa mudança poderia suscitar lances dramáticos e espetaculares, em que brilhariam a habilidade e a inteligência dos melhores jogadores.
Outras propostas são mais complicadas, mas de maneira nenhuma devem ser descartadas.
Por exemplo: a divisão da grande área em três faixas perpendiculares à linha de fundo. As infrações cometidas na faixa central seriam punidas com o pênalti, tal como ocorre hoje. As infrações cometidas nas faixas laterais da área seriam punidas com um ""pênalti lateral" batido de um ponto localizado na faixa em questão.
O objetivo da proposta é superar a ""paralisia" que acomete os juízes na hora de apitar uma falta dentro da área.
A única sugestão que me parece descabida é a do aumento do tamanho do gol.
Primeiro porque soa como um modo simplista de combater a falta de gols (parece a história dos árabes que gostam tanto de gols que não treinam direito os goleiros). Segundo, porque iria incentivar os cabeças de bagre a chutar de qualquer distância, em vez de tentar criar jogadas de ataque.
Discordâncias à parte, é um livro corajoso, inteligente e oportuno. Que seja bem-vindo.


José Geraldo Couto escreve às quintas

E-mail: jgcouto@uol.com.br



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