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Futebol tem que mudar para a arte sobreviver
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
Equipes com 10 em vez de 11
jogadores; dois tempos de 35
ou 40 minutos cronometrados
de bola em jogo; quatro auxiliares do juiz (e mais um cronometrista) em vez dos dois
atuais; aumento das dimensões do gol; exclusão do jogador que cometer cinco infrações numa partida.
Essas são algumas das propostas de mudanças no futebol
apresentadas pelo ex-diplomata e tradutor Márcio Ramalho
em seu livro ""Futebol É Bola
na Rede", que a editora Relume-Dumará lança em março.
Desde já, trata-se de um livro
destinado à polêmica, até porque, em geral, temos uma espécie de resistência afetiva e
inercial a ver modificado o esporte que aprendemos a amar
desde o berço.
Mas Ramalho parte de um
diagnóstico irrefutável: o futebol, apesar da superestrutura
comercial e de mídia montada
a sua volta, enfrenta uma crise
em seus próprios fundamentos
de jogo e espetáculo.
Com o notável avanço na
preparação física dos atletas,
aliado ao aumento da violência e à preponderância de
orientações táticas defensivistas, o campo de jogo se congestionou, as partidas ficaram
truncadas e monótonas, os
gols minguaram, os estádios se
esvaziaram.
Para Ramalho, têm sido
muito tímidas as medidas tomadas pelo ""International
Football Association Board",
braço da Fifa que analisa as
regras, para fazer frente a essa
situação e restituir ao futebol o
colorido e a alegria perdidos.
Daí o caráter drástico de
suas propostas. Algumas são
tão obviamente positivas que
custa a crer que ainda não foram cogitadas pelo ""Board".
Exemplo: Ramalho propõe
que a bola que sai do campo
pelo ar, sem tocar no chão,
possa continuar em jogo se for
tocada uma única vez por um
jogador (ou então se voltar a
campo ""pelas próprias asas",
por conta de uma curva, como
em certos escanteios).
É claro que, além de diminuir o número de interrupções
da partida, tornando-a mais
fluente, essa mudança poderia
suscitar lances dramáticos e
espetaculares, em que brilhariam a habilidade e a inteligência dos melhores jogadores.
Outras propostas são mais
complicadas, mas de maneira
nenhuma devem ser descartadas.
Por exemplo: a divisão da
grande área em três faixas perpendiculares à linha de fundo.
As infrações cometidas na faixa central seriam punidas com
o pênalti, tal como ocorre hoje.
As infrações cometidas nas faixas laterais da área seriam punidas com um ""pênalti lateral" batido de um ponto localizado na faixa em questão.
O objetivo da proposta é superar a ""paralisia" que acomete os juízes na hora de apitar uma falta dentro da área.
A única sugestão que me parece descabida é a do aumento
do tamanho do gol.
Primeiro porque soa como
um modo simplista de combater a falta de gols (parece a história dos árabes que gostam
tanto de gols que não treinam
direito os goleiros). Segundo,
porque iria incentivar os cabeças de bagre a chutar de qualquer distância, em vez de tentar criar jogadas de ataque.
Discordâncias à parte, é um
livro corajoso, inteligente e
oportuno. Que seja bem-vindo.
José Geraldo Couto escreve às quintas
E-mail: jgcouto@uol.com.br
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