São Paulo, domingo, 12 de maio de 2002

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FUTEBOL
Boatos, rumores e verdades

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

A bem-comportada família Scolari viaja hoje para a Espanha e inicia sua trajetória rumo ao Mundial. O avião parte pesado de tanto feijão. O jogador brasileiro fica sem sexo, mas não fica sem feijão. Desejo bastante sorte à seleção.
Espero que comissão técnica e jogadores entendam que os jornalistas não estarão lá para relatar somente o que eles aprovarem. Vamos para informar e opinar com independência. Às vezes com um pouco de ironia, sem a intenção de ofender. O colunista precisa da subjetividade.
Numa Copa, muitos fatos sem ou com pouca importância tornam-se supervalorizados pela imprensa e também pela comissão técnica. Desde o tal de "grupo unido" até os cabelos encaracolados do Ronaldinho, a careca do Ronaldo, a sisudez do Rivaldo e o bigode do Felipão.
Não vi na comissão técnica um guru ou um "especialista" em auto-ajuda. Quase toda seleção tem um. Está na moda. Será que Felipão vai acumular mais essa função? Poderiam treinar o Antônio Lopes, que está com mais tempo.
Se contratarem um guru, espero que não mande os jogadores pisarem em brasas, como fizeram com os atletas na Olimpíada.
Geralmente, os técnicos -não sei se é o caso do Scolari- adoram palestras dos gurus e frases feitas, bonitas, para motivar os jogadores. Uma das preferidas na Copa-98 era: "Tudo que você quer você pode". Original, não? Desejo tantas coisas que não posso! Outra: "O campeão não será o melhor time, mas o que vai jogar melhor". Também bastante criativa.
São tantas informações e zunzuns durante uma Copa que às vezes é difícil separar a fofoca do boato, do rumor e da verdade. "Onde há fumaça, há fogo." O último boato foi de que a Ambev não permitiu a convocação do Romário porque ele era garoto propaganda da Coca-Cola. Deve ser a mesma fonte que garantiu que o presidente da Nike obrigou o Zagallo a escalar o Ronaldo na final da Copa-98. O público adora essas histórias. A versão é sempre mais interessante do que o fato.
Na ânsia de preservar a intimidade do grupo, atletas e técnicos vêem os jornalistas como intrusos e inimigos. Esconder, ou não dizer nem explicar claramente os fatos, aumenta ainda mais as fofocas, os boatos e os mistérios.
Uma das características do grupo fechado, tão falado por jogadores e técnicos, é a de não deixar vazar as informações. É difícil evitar. Desde a minha época de jogador, impressionava-me como alguns repórteres sabiam de tudo. Hoje não é diferente. Uns, por competência e trabalho, e outros, por amizades.
A fonte na seleção pode ser um jogador, um membro da comissão técnica, a cozinheira, o mordomo, o segurança, a camareira, o motorista (escuta tudo) e muitas outras. Abre o olho, Felipão!

Se jogarem França e Kaká, as chances de vitória são iguais hoje. Nelsinho deve ter aprendido com Péricles Chamusca, jovem técnico do Brasiliense, como se faz uma boa marcação contra o time do Corinthians.
Contra o Brasiliense, o Corinthians estava muito afobado, fora de suas características, com pressa para conseguir logo uma boa vantagem. Quase perde o jogo! O time beneficiou-se de dois prováveis erros do árbitro Carlos Eugênio Simon. Vi os lances um milhão de vezes, acho que Simon errou, mas não tenho certeza absoluta. As imagens não são 100% claras. Não sou comentarista de arbitragem e impressiona-me como as pessoas têm certeza absoluta de suas opiniões.
Toda semana acontecem erros muito mais graves em todo o mundo. Por isso, não se justifica a suspensão do árbitro. Falhas que só são vistas pela TV não são erros e sim uma limitação humana.
É preciso desmitificar a idéia de que imagens paradas, computadores e tira-teimas não falham. Máquinas também erram e são operadas por humanos. Os editores de tevê não são os donos da verdade. As imagens não mentem, mas também não pensam.

A Folha publicou um interessante estudo, de uma revista inglesa, que mostra que os gritos da torcida intimidam e influenciam nas decisões dos árbitros a favor do time da casa.
Acrescentaria que, na dúvida, os árbitros tendem, sem pensar e racionalizar, a beneficiar os times mais poderosos. Infelizmente, isso acontece em todas as atividades. Seria uma maneira de o árbitro ou qualquer profissional proteger e favorecer suas carreiras.

E-mail tostao.folha@uol.com.br



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