São Paulo, segunda-feira, 12 de junho de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Tenista rejeota comparações com Ayrton Senna e planeja escrever livro
Davis e Olimpíada são as prioridades de Kuerten

DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de conquistar o torneio de Roland Garros, Gustavo Kuerten afirma que seus principais objetivos este ano são a Copa Davis e as Olimpíadas de Sydney.
Prevendo menos de uma semana de folga, ao comentar a partida contra Magnus Norman, na final do Aberto da França, o tenista brasileiro rejeitou a condição de ídolo e afirmou que pretendia comemorar o título com seus familiares. Leia os principais trechos da entrevista concedida por ele após o jogo.
Gustavo Kuerten - Eu busquei impor um bom ritmo desde o primeiro set. Depois, no terceiro, caí um pouco de produção. Mas eu estava jogando de maneira mais serena. A parte psicológica acabou fazendo a diferença. Poderia ter ganho em três sets. Eu estava fazendo as coisas certas e ganhando sempre os pontos difíceis. Isso mudou no terceiro set. Mas nesses torneios é assim: às vezes, vai uma bolinha fora, e quase o jogo vai embora. Eu estava intimidando o cara, como tinha de ser.

Pergunta - Você já tinha disputado um jogo com 11 match points?
Kuerten -
Não. Para mim, agora, isso não faz muita diferença. Se ele tivesse virado o jogo, eu iria sentir muito, seria a pior derrota da minha vida.

Pergunta - Como você resume o campeonato? O que foi determinante para o bicampeonato?
Kuerten -
Na primeira vez em que ganhei, apareci como uma surpresa no torneio. Desde então, ficou uma dúvida no ar, se eu conseguiria ou não me manter no mesmo nível e ganhar torneios importantes. Cheguei aqui confiante para me manter entre os melhores.

Pergunta - Qual foi seu pior momento? Qual foi o jogo mais difícil?
Kuerten -
O período mais difícil foi no começo, quando eu sabia que teria que ganhar sete partidas para vencer o torneio. Você tem que jogar bem o tempo todo. Antes de começar, eu estava confiante, mas não tinha certeza de que eu iria jogar bem ou fazer um grande torneio. Creio que a partida contra o Kafelnikov foi o meu pior pesadelo. Eu não estava conseguindo encaixar meu jogo. Ele estava controlando a partida. De alguma maneira, as coisas mudaram. Foi maravilhoso. Depois disso, joguei mais relaxado. Eu estava na semifinal, claro, e tive outro jogo difícil. Mas o modo como enfrentei as outras partida foi completamente diferente.

Pergunta - Houve superstição nas comparações de sua campanha deste ano e a de 1997?
Kuerten -
Sim. O(Daniel) Orsanic(argentino, parceiro de Jaime Oncins em partidas de duplas) até lembrou que este ano, assim como em 1997, ele perdeu nas semifinais e na mesma quadra. Ganhei do Kafel(nikov) também nas quartas-de-final, novamente de virada. Quando escrever meu livro, vou colocar essas coisas.

Pergunta - Como serão as comemorações do título?
Kuerten -
Eu espero passar a noite (ontem) com meus familiares que estão aqui. Infelizmente, minha mãe e meu irmão mais novo estão ao Brasil. Ficarei um bom tempo com meu treinador(Larri Passos) e meu irmão(Rafael). Nós vamos achar algo para fazer, provavelmente um jantar ou algo assim, e relaxar mais. Eu já estou jogando há um mês direto. Acordo muito cedo, por volta das 10h. Para mim, é muito cedo (risos). E jogando, a mente realmente cansa. Pelo menos eu vou ter quatro ou cinco dias para deixar a pressão de lado, para não pensar o que fazer. Eu quero ficar quieto, realmente ter mais tempo para mim, fazer coisas que estão na minha cabeça. É isso o que vou fazer.

Pergunta - Depois da morte de Ayrton Senna, o Brasil nunca teve outra unanimidade em um esporte individual. Você se sente hoje o grande ídolo do Brasil?
Kuerten -
Isso não chega a passar pela minha cabeça. Eu vivo o momento, a felicidade de ter sido campeão, a emoção de uma final dramática como essa. Mas não vejo isso com tanta grandeza. Prefiro curtir o que está perto de mim. Não sinto a responsabilidade de ser um ídolo, mas sei da importância, da alegria que um acontecimento como esse traz para as pessoas. Posso dar alegria a muita gente, mas não me sinto pressionado. Fiquei feliz que tenham instalado um telão em Florianópolis e chamado meninos carentes para ver o jogo. No Brasil, é importante que mais pessoas possam ser solidárias com a criançada. Aproveito para agradecer a vocês(jornalistas), porque este ano eu tive mais restrições(no contato com a imprensa). Vim de duas, três semanas desgastantes, precisava de um descanso para me recuperar. Agradeço a paciência de vocês, por terem respeitado minha correria, minha agenda, e não ter ficado em cima o tempo todo.

Perguntas - Você venceu duas vezes o Aberto da França. Quais são seus objetivos agora? Que outro torneio você gostaria de vencer?
Kuerten -
Neste ano, especialmente, minhas metas serão a Copa Davis e as Olimpíadas. Estou tão feliz que poderia começar agora. Nós estamos nas semifinais da Copa Davis. Eu também penso nas Olimpíadas. É um torneio muito importante. Eu já estou muito feliz de poder estar lá, fazer parte do grupo. Talvez seja o torneio mais importante que vou disputar até o final do ano.

Pergunta - Copa Davis, Roland Garros e Olimpíadas. Você parece não ter dado muita importância ao topo do ranking mundial. Por quê?
Kuerten -
No início do ano, as pessoas falaram muito disso, quando eu cheguei a ficar acima da 80ª posição na Corrida dos Campeões e que não era mais número um nem no Brasil. Eu sempre defendi que não dá para se basear nesse ranking, ele não avalia a carreira do jogador. Pode avaliar o que está acontecendo no momento, semana por semana. Mas, no final, na Corrida dos Campeões, vão aparecer os que já estavam na frente antes, no outro ranking. Ser número um na corrida, ainda ganhando Roland Garros, me deixa muito feliz. Vim de duas finais e ainda fui campeão aqui. Provei que sou o cara que está jogando melhor.


Texto Anterior: Norman atribui sua derrota à falta de sorte
Próximo Texto: Ajuda de "alguém" e viradas marcam taça
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.