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MOTOR
Sobe-e-desce
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
A vitória de Ralf em
Magny-Cours abriu o campeonato de vez. Deveria ser uma
boa notícia, e talvez até seja. O
que assustou, no entanto, foi o ritmo imposto pelo time inglês aos
adversários. Acachapante, lembrou a Williams em suas melhores fases: absolutamente perfeita,
absolutamente monótona.
Não que o domínio ferrarista
dos últimos anos tenha sido diferente -pelo contrário, superou o
razoável com suas marmeladas
justificadas pelo frio profissionalismo. O que se lamenta aqui não
é a alternância de poder, que deveria, em tese, ser salutar ao esporte, mas a forma como se dá.
Em outras palavras, de que
adianta a F-1 ter uma nova força
preponderante no campeonato se
as outras perdem em proporção
inversa suas capacidades? De que
adianta a parceria Williams-BMW finalmente vingar se a parceria Ferrari-Bridgestone vai para o ralo e a McLaren, sozinha,
vai junto? A categoria parece funcionar como uma espécie de sistema fechado, sendo a energia de
um necessariamente roubada da
do outro. Nem sempre foi assim,
claro, mas é cada vez mais assim.
A graça que o campeonato proporcionou no início do ano já é
passado. As grandes escuderias
levaram alguns meses, mas já resolveram o xadrez do carro de
classificação misturado com o da
primeira parte da corrida. Nesse
meio tempo, Raikkonen brilhou
com táticas radicais que criaram
uma falsa impressão do híbrido
da McLaren. Igualmente inteligente foi a Renault, que, mesmo
sem motor, colocou outro jovem
prodígio entre os melhores.
Contribuiu e muito para essa
fantasia a guerra de pneus, que
também mereceu um empurrãozinho na histórica mudança do
regulamento -deixar as fábricas
criarem produtos personalizados
para os times, o que beneficiou
muito a Michelin, que, antes, ficava dividida entre as demandas de
Williams e McLaren.
Mas também esse ingrediente
perdeu força, a ponto de especulações de mercado já apontarem
para uma saída da fabricante japonesa (por enquanto, boataria,
assim como a volta de Goodyear e
Pirelli, para atender a Ferrari).
Faltou a este meio de temporada um segundo golpe no poderio
das grandes. E o pior é que ele estava planejado, o maior deles, o
mais abrangente e profundo, o
fim da eletrônica ativa. Duvido
que Mosley tenha imaginado que
as coisas voltariam ao ritmo de
sempre, mesmo com outros personagens, exatamente na véspera
do GP da Inglaterra, quando elaborou sua agenda de mudanças.
Mas o banimento da eletrônica,
deturpado e adiado para 2004, viria a calhar neste momento.
A esperança do público (e dos
analistas) agora é confiar no novo
sistema de pontuação, que é o que
sobrou. Ofertando mais pontos,
proporciona uma certa letargia
ao Mundial, que fez Raikkonen
sobreviver na liderança e que deve fazer o mesmo com Schumacher. Com os testes suspensos por
um acordo entre os times até
agosto, as próximas provas deverão servir para embolar ainda
mais o campeonato. Mas será esse
equilíbrio na tabela suficiente para o desequilíbrio da F-1?
Ecclestone
O chefão falou demais ao sensacionalista "The Sun". Aliás, desde o
início da temporada, crítico do novo sistema de classificação, equilibrou-se entre falar mal da idéia, mas não do autor, Max Mosley, seu
último ponto de apoio na maior disputa financeira que trava com os
times na história da F-1. Está dividido também entre uma infantil
tentativa de desvalorizar o momento atual da categoria e vender seu
futuro para GPWC, a associação de montadoras. Não se sabe onde
tudo isso vai parar. Só há uma certeza: Ecclestone vai sair bem.
Matadouro
Há algumas semanas, neste mesmo espaço, previ que mais acidentes
aconteceriam nesta temporada. Não previ que a IRL seria tão eficiente, mandando mais um para o hospital. Fosse a F-1, seria escândalo.
E-mail mariante@uol.com.br
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