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São Paulo, sábado, 12 de julho de 2003

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MOTOR

Sobe-e-desce

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

A vitória de Ralf em Magny-Cours abriu o campeonato de vez. Deveria ser uma boa notícia, e talvez até seja. O que assustou, no entanto, foi o ritmo imposto pelo time inglês aos adversários. Acachapante, lembrou a Williams em suas melhores fases: absolutamente perfeita, absolutamente monótona.
Não que o domínio ferrarista dos últimos anos tenha sido diferente -pelo contrário, superou o razoável com suas marmeladas justificadas pelo frio profissionalismo. O que se lamenta aqui não é a alternância de poder, que deveria, em tese, ser salutar ao esporte, mas a forma como se dá.
Em outras palavras, de que adianta a F-1 ter uma nova força preponderante no campeonato se as outras perdem em proporção inversa suas capacidades? De que adianta a parceria Williams-BMW finalmente vingar se a parceria Ferrari-Bridgestone vai para o ralo e a McLaren, sozinha, vai junto? A categoria parece funcionar como uma espécie de sistema fechado, sendo a energia de um necessariamente roubada da do outro. Nem sempre foi assim, claro, mas é cada vez mais assim.
A graça que o campeonato proporcionou no início do ano já é passado. As grandes escuderias levaram alguns meses, mas já resolveram o xadrez do carro de classificação misturado com o da primeira parte da corrida. Nesse meio tempo, Raikkonen brilhou com táticas radicais que criaram uma falsa impressão do híbrido da McLaren. Igualmente inteligente foi a Renault, que, mesmo sem motor, colocou outro jovem prodígio entre os melhores.
Contribuiu e muito para essa fantasia a guerra de pneus, que também mereceu um empurrãozinho na histórica mudança do regulamento -deixar as fábricas criarem produtos personalizados para os times, o que beneficiou muito a Michelin, que, antes, ficava dividida entre as demandas de Williams e McLaren.
Mas também esse ingrediente perdeu força, a ponto de especulações de mercado já apontarem para uma saída da fabricante japonesa (por enquanto, boataria, assim como a volta de Goodyear e Pirelli, para atender a Ferrari).
Faltou a este meio de temporada um segundo golpe no poderio das grandes. E o pior é que ele estava planejado, o maior deles, o mais abrangente e profundo, o fim da eletrônica ativa. Duvido que Mosley tenha imaginado que as coisas voltariam ao ritmo de sempre, mesmo com outros personagens, exatamente na véspera do GP da Inglaterra, quando elaborou sua agenda de mudanças. Mas o banimento da eletrônica, deturpado e adiado para 2004, viria a calhar neste momento.
A esperança do público (e dos analistas) agora é confiar no novo sistema de pontuação, que é o que sobrou. Ofertando mais pontos, proporciona uma certa letargia ao Mundial, que fez Raikkonen sobreviver na liderança e que deve fazer o mesmo com Schumacher. Com os testes suspensos por um acordo entre os times até agosto, as próximas provas deverão servir para embolar ainda mais o campeonato. Mas será esse equilíbrio na tabela suficiente para o desequilíbrio da F-1?

Ecclestone
O chefão falou demais ao sensacionalista "The Sun". Aliás, desde o início da temporada, crítico do novo sistema de classificação, equilibrou-se entre falar mal da idéia, mas não do autor, Max Mosley, seu último ponto de apoio na maior disputa financeira que trava com os times na história da F-1. Está dividido também entre uma infantil tentativa de desvalorizar o momento atual da categoria e vender seu futuro para GPWC, a associação de montadoras. Não se sabe onde tudo isso vai parar. Só há uma certeza: Ecclestone vai sair bem.

Matadouro
Há algumas semanas, neste mesmo espaço, previ que mais acidentes aconteceriam nesta temporada. Não previ que a IRL seria tão eficiente, mandando mais um para o hospital. Fosse a F-1, seria escândalo.

E-mail mariante@uol.com.br


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