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São Paulo, sábado, 12 de julho de 2003

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FUTEBOL

A fábrica de Diegos

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Os dois traços mais permanentes, ou pelo menos mais visíveis, do futebol brasileiro são, dentro de campo, a incessante revelação de novos talentos, e fora dele, a incorrigível cara-de-pau dos dirigentes.
No mesmo dia em que os cartolas "vaquinhas de presépio" ignoraram as graves suspeitas que pesam sobre Ricardo Teixeira e o reelegeram presidente da CBF, bastaram 11 minutos em campo para que um ilustre desconhecido de 18 anos inflamasse a torcida do São Paulo e impressionasse a crônica esportiva.
Após a fábrica de Ronaldos, parece que abriram agora uma de Diegos. Há o do Santos, o do Internacional e, saído do forno, o do São Paulo, sem falar dos goleiros do Atlético-PR e do Flamengo (este último, reserva de Júlio César).
Calma. Não estou dizendo que Diego Tardelli, que estreou quarta-feira pelo São Paulo contra o Coritiba, seja um craque. Nem estou profetizando que venha a sê-lo. Pode ser até que nas próximas partidas ele se revele um perna-de-pau. Não é esse o ponto.
O ponto é o seguinte: a cartolagem corrupta e incompetente se eterniza, em grande parte, por causa dessa fartura de bons jogadores que surgem a cada ano. Os "velhos conhecidos" vivem às custas dos jovens desconhecidos.
Será que vai ser preciso primeiro a fonte secar para conseguirmos nos livrar dessa gente nefasta e desagradável?
O fato é que, justamente agora que o núcleo mais retrógrado da cartolagem resiste às mudanças que se impõem para o saneamento do futebol brasileiro, o país assiste ao surgimento de uma safra excepcional de jovens jogadores.
A seleção sub-23 que estréia amanhã na Copa Ouro é de dar inveja a qualquer outro país, reunindo jogadores talentosos e inusitadamente tarimbados para a idade. Isso não quer dizer que seremos com certeza campeões da Copa Ouro, nem que venceremos a Olimpíada de 2004.
Nos Jogos de Sydney, há três anos, tínhamos também um belo elenco, com dois craques (Alex e Ronaldinho) e vários atletas excelentes (Roger, Geovanni, Fábio Aurélio, Athirson), mas fizemos uma campanha não mais que pífia. Em Atlanta-96, o Brasil contou com Dida, Rivaldo, Ronaldo, Aldair e Roberto Carlos. Adiantou alguma coisa?
Desta vez, temos três possíveis fora-de-série (Diego, Kaká e Robinho) e inúmeros bons atletas. Dificilmente haverá outra seleção com um elenco do mesmo nível.
Chega a ser um paradoxo o fato de o Brasil, país em que os talentos surgem cedo e em grande quantidade, nunca ter conquistado o ouro olímpico no futebol. A razão, obviamente, está fora do campo.
E a reeleição de Teixeira, se for confirmada, não dará nenhum motivo para crer numa mudança a curto prazo. Infelizmente, teremos que continuar torcendo pelas seleções brasileiras com o nariz tapado diante de seus dirigentes, sabendo que as conquistas dentro de campo seguirão alimentando aqueles que usam o futebol para fins espúrios.

Fase negra 1
Um retrato da crise do futebol do Rio é a classificação do Brasileiro. O carioca mais bem colocado, o Flamengo, está no 11º lugar, atrás de quatro paulistas, dois mineiros, dois paranaenses, um gaúcho e um catarinense. Certamente não deixaram de surgir bons atletas cariocas. Mais uma vez, o problema está fora das quatro linhas.

Fase negra 2
Só porque eu disse que o Corinthians tem um ótimo ataque e uma boa zaga, o clube resolveu perder na mesma semana seu melhor zagueiro (Fábio Luciano) e seu artilheiro (Liedson), além do reserva deste, Lucas. Seja por aperto financeiro, seja por má administração, o fato é que o time decai a olhos vistos. O último a sair apaga a luz do aeroporto.

E-mail jgcouto@uol.com.br


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