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FUTEBOL
A fábrica de Diegos
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Os dois traços mais permanentes, ou pelo menos mais
visíveis, do futebol brasileiro são,
dentro de campo, a incessante revelação de novos talentos, e fora
dele, a incorrigível cara-de-pau
dos dirigentes.
No mesmo dia em que os cartolas "vaquinhas de presépio" ignoraram as graves suspeitas que pesam sobre Ricardo Teixeira e o
reelegeram presidente da CBF,
bastaram 11 minutos em campo
para que um ilustre desconhecido
de 18 anos inflamasse a torcida do
São Paulo e impressionasse a crônica esportiva.
Após a fábrica de Ronaldos, parece que abriram agora uma de
Diegos. Há o do Santos, o do Internacional e, saído do forno, o do
São Paulo, sem falar dos goleiros
do Atlético-PR e do Flamengo (este último, reserva de Júlio César).
Calma. Não estou dizendo que
Diego Tardelli, que estreou quarta-feira pelo São Paulo contra o
Coritiba, seja um craque. Nem estou profetizando que venha a sê-lo. Pode ser até que nas próximas
partidas ele se revele um perna-de-pau. Não é esse o ponto.
O ponto é o seguinte: a cartolagem corrupta e incompetente se
eterniza, em grande parte, por
causa dessa fartura de bons jogadores que surgem a cada ano. Os
"velhos conhecidos" vivem às custas dos jovens desconhecidos.
Será que vai ser preciso primeiro a fonte secar para conseguirmos nos livrar dessa gente nefasta
e desagradável?
O fato é que, justamente agora
que o núcleo mais retrógrado da
cartolagem resiste às mudanças
que se impõem para o saneamento do futebol brasileiro, o país assiste ao surgimento de uma safra
excepcional de jovens jogadores.
A seleção sub-23 que estréia
amanhã na Copa Ouro é de dar
inveja a qualquer outro país, reunindo jogadores talentosos e inusitadamente tarimbados para a
idade. Isso não quer dizer que seremos com certeza campeões da
Copa Ouro, nem que venceremos
a Olimpíada de 2004.
Nos Jogos de Sydney, há três
anos, tínhamos também um belo
elenco, com dois craques (Alex e
Ronaldinho) e vários atletas excelentes (Roger, Geovanni, Fábio
Aurélio, Athirson), mas fizemos
uma campanha não mais que pífia. Em Atlanta-96, o Brasil contou com Dida, Rivaldo, Ronaldo,
Aldair e Roberto Carlos. Adiantou alguma coisa?
Desta vez, temos três possíveis
fora-de-série (Diego, Kaká e Robinho) e inúmeros bons atletas.
Dificilmente haverá outra seleção
com um elenco do mesmo nível.
Chega a ser um paradoxo o fato
de o Brasil, país em que os talentos surgem cedo e em grande
quantidade, nunca ter conquistado o ouro olímpico no futebol. A
razão, obviamente, está fora do
campo.
E a reeleição de Teixeira, se for
confirmada, não dará nenhum
motivo para crer numa mudança
a curto prazo. Infelizmente, teremos que continuar torcendo pelas
seleções brasileiras com o nariz
tapado diante de seus dirigentes,
sabendo que as conquistas dentro
de campo seguirão alimentando
aqueles que usam o futebol para
fins espúrios.
Fase negra 1
Um retrato da crise do futebol
do Rio é a classificação do Brasileiro. O carioca mais bem colocado, o Flamengo, está no 11º
lugar, atrás de quatro paulistas,
dois mineiros, dois paranaenses, um gaúcho e um catarinense. Certamente não deixaram
de surgir bons atletas cariocas.
Mais uma vez, o problema está
fora das quatro linhas.
Fase negra 2
Só porque eu disse que o Corinthians tem um ótimo ataque e
uma boa zaga, o clube resolveu
perder na mesma semana seu
melhor zagueiro (Fábio Luciano) e seu artilheiro (Liedson),
além do reserva deste, Lucas.
Seja por aperto financeiro, seja
por má administração, o fato é
que o time decai a olhos vistos.
O último a sair apaga a luz do
aeroporto.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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