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Assunto dos alfacinhas é a penada do João Vale
ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas
O assunto por aqui, em Lisboa, é menos o crash das Bolsas, as eleições próximas que se
insinuam nos outdoors, as enchentes que mergulharam Porto Alegre e vizinhanças num
inferno aquático ou a tragédia
de Estombar, onde um trem
descarrilhou provocando inúmeras vítimas.
Em cada esquina, o que toca
os alfacinhas, como são conhecidos os lisboetas, é a decisão
de João Vale e Azevedo, novo
presidente do Benfica, de romper todos os contratos que o
clube mantinha com seus patrocinadores, representantes e
com a RTP, a TV portuguesa, e
recomeçar tudo do zero.
A partir da própria fisionomia jurídica do clube, que resolveu adotar a estrutura de
sociedade anônima, aqui denominada de sociedade desportiva, com ações na Bolsa e
tudo o mais.
A única diferença é que as
ações devem ser distribuídas
só entre os sócios do Benfica,
uma forma de manter em casa
o controle do clube, ranço ainda dos tempos de amadorismo.
De qualquer forma, é um
avanço que tem o aparente
apoio da torcida, dos sócios e
até da imprensa, embora a
RTP esteja, claro, revoltada
com a decisão intempestiva do
novo presidente, que, no sábado, já proibiu a transmissão do
jogo contra o Vitória de Guimarães, anteontem à noite,
sob tremenda confusão.
É que, além de proibir a
transmissão pela TV, o Benfica
decidiu colocar apenas 29 mil
ingressos à venda nas bilheterias do estádio, onde cabem 96
mil espectadores.
Resultado: corre-corre à
frente dos portões e muitas reclamações dos torcedores que
ficaram do lado de fora.
E isso numa longa fase de estio do Benfica. Imagine como
nossos avozinhos estão à frente dos netinhos relutantes:
aqui, 29 mil espectadores é
pinto, quando aí seria público
para os cartolas abrirem
champanhe.
E, enquanto a lei Pelé se arrasta no Congresso, sob bombardeio de todos os grandes
clubes brasileiros, o Benfica, o
mais tradicional e vitorioso de
Portugal, numa penada, vira
sociedade anônima.
Dizem aqui que é a lei da
compensação, pois já pensaram se o futebol brasileiro, usina inesgotável de craques, se
organizasse fora do campo?
Seria a maior covardia.
Não importa se o adversário
é o desqualificado País de Gales, que só entrou na história
do futebol por ter sido a vítima
do primeiro gol de Pelé em Copas do Mundo.
E que gol, aquele de 58, lembra-se? Claro: um chapeuzinho
tirolês sobre o beque e o disparo curto, rasteiro, fora do alcance do goleiro.
Mas só quem estava ao pé do
rádio naquele dia de julho de
58 sabe o que penamos para
passar por esse timinho.
O que interessa, agora, é botar em campo a nossa seleção,
mesmo sem treinamento adequado, mesmo com jogadores
catados por todos os cantos do
mundo, mesmo jogando contra o vento.
E essa experiência, que
quando aqui cheguei ainda
era plano de Zagallo, de escalar Rivaldo no ataque é coisa
de se ver.
Assim como a volta de Muller, que, aos 32 anos de idade,
é o mais moderno de todos os
nossos atacantes em atividade.
Alberto Helena Jr. escreve às quartas, domingos e segundas
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