São Paulo, quarta, 12 de novembro de 1997.



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Assunto dos alfacinhas é a penada do João Vale

ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas

O assunto por aqui, em Lisboa, é menos o crash das Bolsas, as eleições próximas que se insinuam nos outdoors, as enchentes que mergulharam Porto Alegre e vizinhanças num inferno aquático ou a tragédia de Estombar, onde um trem descarrilhou provocando inúmeras vítimas.
Em cada esquina, o que toca os alfacinhas, como são conhecidos os lisboetas, é a decisão de João Vale e Azevedo, novo presidente do Benfica, de romper todos os contratos que o clube mantinha com seus patrocinadores, representantes e com a RTP, a TV portuguesa, e recomeçar tudo do zero.
A partir da própria fisionomia jurídica do clube, que resolveu adotar a estrutura de sociedade anônima, aqui denominada de sociedade desportiva, com ações na Bolsa e tudo o mais.
A única diferença é que as ações devem ser distribuídas só entre os sócios do Benfica, uma forma de manter em casa o controle do clube, ranço ainda dos tempos de amadorismo.
De qualquer forma, é um avanço que tem o aparente apoio da torcida, dos sócios e até da imprensa, embora a RTP esteja, claro, revoltada com a decisão intempestiva do novo presidente, que, no sábado, já proibiu a transmissão do jogo contra o Vitória de Guimarães, anteontem à noite, sob tremenda confusão.
É que, além de proibir a transmissão pela TV, o Benfica decidiu colocar apenas 29 mil ingressos à venda nas bilheterias do estádio, onde cabem 96 mil espectadores.
Resultado: corre-corre à frente dos portões e muitas reclamações dos torcedores que ficaram do lado de fora.
E isso numa longa fase de estio do Benfica. Imagine como nossos avozinhos estão à frente dos netinhos relutantes: aqui, 29 mil espectadores é pinto, quando aí seria público para os cartolas abrirem champanhe.
E, enquanto a lei Pelé se arrasta no Congresso, sob bombardeio de todos os grandes clubes brasileiros, o Benfica, o mais tradicional e vitorioso de Portugal, numa penada, vira sociedade anônima.
Dizem aqui que é a lei da compensação, pois já pensaram se o futebol brasileiro, usina inesgotável de craques, se organizasse fora do campo? Seria a maior covardia.

Não importa se o adversário é o desqualificado País de Gales, que só entrou na história do futebol por ter sido a vítima do primeiro gol de Pelé em Copas do Mundo.
E que gol, aquele de 58, lembra-se? Claro: um chapeuzinho tirolês sobre o beque e o disparo curto, rasteiro, fora do alcance do goleiro.
Mas só quem estava ao pé do rádio naquele dia de julho de 58 sabe o que penamos para passar por esse timinho.
O que interessa, agora, é botar em campo a nossa seleção, mesmo sem treinamento adequado, mesmo com jogadores catados por todos os cantos do mundo, mesmo jogando contra o vento.
E essa experiência, que quando aqui cheguei ainda era plano de Zagallo, de escalar Rivaldo no ataque é coisa de se ver.
Assim como a volta de Muller, que, aos 32 anos de idade, é o mais moderno de todos os nossos atacantes em atividade.


Alberto Helena Jr. escreve às quartas, domingos e segundas



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