São Paulo, quarta-feira, 12 de novembro de 2008

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TOSTÃO

Prosa e poesia


Para vencer, Grêmio e São Paulo não precisam ter muita posse de bola, envolver o rival e criar várias chances de gols

SEGUNDO AFO , cartunista do jornal "Estado de Minas", a única chance de derrotar o São Paulo seria se Muricy Ramalho, seguindo a moda, desse uma de Professor Pardal e escalasse Hernanes de zagueiro.
Contra o Grêmio, ficaram mais evidentes as deficiências do elenco do Palmeiras. Kléber e Diego Souza fizeram muita falta.
No segundo tempo, quando entraram Maicosuel e Jorge Preá, diminuíram bastante as chances do Palmeiras. Quando entrou Lenny, acabaram as esperanças. Surpreendente é o fato do Palmeiras ter um forte investidor e um técnico que sempre formou bons grupos.
O Grêmio, muito mais desfalcado, venceu o jogo e está a dois pontos do São Paulo. Mesmo assim, Celso Roth é pouco elogiado e desvalorizado pelo clube.
O São Paulo não tem reservas fracos como os do Palmeiras. O time é o único com três jogadores que mereciam estar na seleção (Hernanes, Rogério Ceni e Miranda). Hernanes é o mais talentoso jogador que atua no Brasil. Jorge Wagner é excepcional nas bolas paradas. Há outros bons jogadores. Muricy é muito importante, mas os atletas também são.
São Paulo e Grêmio, por terem três zagueiros, possuem volantes que marcam e atacam bem.
Já o Flamengo tem três zagueiros e mais um volante-zagueiro, Toró ou Ayrton, que às vezes aparece no meio-campo.
A referência para uma equipe jogar bem sempre foi ter a posse de bola, envolver o adversário, trocar muitos passes e criar várias chances de gols. É o que às vezes fazem o Cruzeiro, Palmeiras, Flamengo e, em um nível muito mais alto, é o que voltou a fazer o Barcelona.
São Paulo e Grêmio não precisam fazer tudo isso para jogar bem e/ou vencer. Os dois se destacam mais pela marcação, pela força física, pelas jogadas aéreas e por cometerem pouquíssimos erros. É também mais fácil repetirem o que sabem fazer bem, pois seus estilos dependem menos do talento individual e da marcação e da atuação do rival.
Muricy disse várias vezes que o São Paulo cresceu no campeonato depois que teve mais tempo para treinar. Os outros times também tiveram, mas o estilo do São Paulo depende mais de treinos e de repetições. O futebol, como é o vôlei, é cada vez mais um esporte técnico e previsível do que um jogo de habilidade, de criatividade e de improvisação. Tudo é pensado e ensaiado à exaustão.
Se Muricy precisa de mais tempo para treinar detalhes e impor sua maneira de jogar, como ele se comportaria na seleção, com pouquíssimo tempo?
Após a Copa de 70, o grande poeta e cineasta italiano Pasolini escreveu que a poesia brasileira ganhou da prosa italiana. Em 1982, aconteceu o contrário. Evidentemente, a seleção brasileira, nas duas Copas, não era só poesia nem a italiana era só prosa. Mas havia nítido predomínio de um estilo. Hoje, a diferença é pequena.
Grêmio e São Paulo estão mais para a prosa, e Cruzeiro e Palmeiras, quando jogam bem, mais para a poesia. Flamengo não parece uma coisa nem outra. Cada jogo tem uma cara.
No futebol e em todas as atividades, cada vez mais a prosa vence a poesia. Mas, quando a poesia ganha, o encantamento é muito maior.


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