EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

O sergipano Kelson Pinto, 27, quer apagar um estigma.
O meio-médio-ligeiro ganhou fama como sparring de Popó.
Na semana passada, quando discutia com ele detalhes de sua disputa do título interino da OMB, que aconteceria amanhã, Kelson demonstrou irritação quando lembrei durante a conversa que ele já havia sido sparring do campeão superpena.
"Eu não era sparring. O que eu fazia era ajudar o Popó em seus treinos quando dava. Eu passava a maior parte do tempo com a seleção olímpica permanente em São Paulo, e você sabe muito bem disso", foi o protesto de Kelson.
Seja por amizade ou por qualquer motivo que seja, Kelson foi sparring. O que não é demérito algum. Afinal, é uma chance de aperfeiçoar sua própria técnica.
Afinal, diversos futuros campeões atuaram nesta função.
Mas, realmente, é até compreensível, embora não justificável, a irritação de Kelson. Deve ser mesmo um saco você ter sua identidade intrinsecamente ligada à de outra pessoa. É mais ou menos como você adotar a mesma carreira de seu pai e todos compararem sua performance à dele.
Mas é bom lembrar que no passado que os relatos das sessões de sparring entre Popó e Kelson foram usados para promover o último. À época não houve objeções. Bom, um dia pode haver tira-teima em luta real entre ambos.
Popó já afirmou que ouviu papo na Bahia de que Kelson quer desafiá-lo. Luís Carlos Dórea, ex-técnico de Popó e atual de Kelson, acha que seria "perfeito". O próprio Kelson nega que tenha feito o desafio, mas diz que, como profissional, aceitaria tal combate.
Como disse lá em cima, Kelson perdeu nesta semana uma importante chance de firmar sua própria identidade quando o combate pelo título interino com o britânico Junior Witter na Inglaterra foi cancelado sob a alegação de que este último lesionou a mão.
Talvez isso tenha sido até melhor para a imagem de Kelson.
É que o título interino é disputado quando o campeão regular não tem condições de defender o título. Para evitar que os negócios fiquem parados, é disputado o interino. Quando o campeão regular volta a lutar novamente, ele e o interino se enfrentam, com bolsas iguais (só para comparar, quando um campeão defende contra um desafiante comum, o primeiro recebe bolsa superior).
Mas o caso é que o campeão regular, Zab Judah, vai lutar amanhã também, o que tornaria a luta de Kelson desnecessária. Sua realização poderia até ser vista com uma certa desconfiança.
Para justificar a luta que ocorreria amanhã, o presidente da OMB, o porto-riquenho Francisco Valcarcel, disse que ela já havia sido acertado bem antes de saber que Judah havia se recuperado.
A nova posição de Valcarcel, que sinaliza distanciamento da disputa do interino ao mesmo tempo em que acena com compensação a Kelson, é mais lógica.
"Vamos ver se fazemos outra luta, não sei se será pelo título interino ou eliminatória (o vencedor teria garantido o direito de desafiar o campeão). Não sei, depende." Só resta saber de quê.

Brasil 1
Zab Judah, a quem Kelson quer enfrentar no futuro próximo, defende o título hoje diante do desafiante Jaime Rangel na programação de Don King denominada ""Indiscutível, de ponta a ponta". Trata-se de uma alusão ao fato de que na programação haverá a disputa de dois títulos unificados pelas três principais versões (CMB, AMB e FIB). Bernard Hopkins defende seus cinturões dos médios contra William Joppy, e o excêntrico Ricardo Mayorga enfrenta o desafiante Cory Spinks (filho de Leon Spinks), pelos títulos dos médios-ligeiros.

Brasil 2
Após ter ficado seis meses ""de molho", o armênio José Archak, que representou o Brasil nos Jogos de Sydney-2000, retorna aos ringues hoje contra Warren Kronberger (quatro vitórias e nove derrotas).

E-mail eohata@folhasp.com.br


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