São Paulo, quinta-feira, 13 de janeiro de 2005

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Mãe ganhou celular e continua na miséria

DO "AGORA", EM BUENOS AIRES

A família de Carlos Tevez se divide em duas, e sua fortuna contempla apenas uma metade.
Indagada se Tevez ainda fala com a mãe, a irmã Patricia diz que, no dia 31, ele visitou as duas e depois foi com amigos à praia. "Eles se falam, é normal."
Mas ele dá ajuda? "Ah, ele nos deu um celular. Todas as vezes que vem aqui, ele avisa."
Hoje, a mãe, Fabiana Martínez, conhecida como Trina, cuida de seu atual marido, que tem câncer generalizado.
Trina teve três filhos no Fuerte Apache, com um homem conhecido como José: Javier, Patricia e Carlitos.
No entanto José morreu dois meses antes de o jogador nascer. Patrícia diz que foi um acidente, mas não esclarece. Segundo vizinhos, foi um tiroteio. O casal era conhecido por usar drogas. A irmã nega.
Mas Trina não ficou sozinha e logo se juntou a José Luis "Tivi" Tevez, outro morador de Fuerte Apache, e logo passam a viver juntos na favela conhecida hoje como Villa Matienzo, que também faz parte do bairro.
Segundo vizinhos, Tivi tinha problemas com álcool, e a vida dos dois era marcada por brigas. Dessa relação nasceram mais sete filhos, que vivem até hoje no local.
Quando Carlitos tinha entre 11 meses e um ano de idade sofreu um grave acidente, quando uma chaleira com água fervendo caiu sobre seu corpo. Trina o socorreu com uma coberta. O tecido grudou na pele do garoto e por isso a cicatriz -que vai da orelha direita ao peito- ficou tão aparente.
É aí que sua família se divide. "O que aconteceu é que minha mãe sofreu um choque emocional e teve de fazer tratamento psicológico. Ele ficou quase um ano internado e, quando saiu, ela ainda estava meio louca. Foi aí que meus tios ficaram com ele", diz Patricia.
Quando voltou para casa, Segundo, um pedreiro muito elogiado no bairro e irmão de Tivi, resolveu criar o menino. O garoto ganhava uma família de verdade.
Segundo já vivia com Adriana Martínez, irmã de Trina, que não podia ter filhos e adotou o atleta.
Segundo e Adriana, que obteve sucesso em um tratamento de fertilidade, tiveram mais quatro filhos: Daniel (atualmente com 17 anos), Miguel Ángel (13), Ricardo Ariel (11) e Débora Gisell (7).
"A família do Segundo sempre foi cheia de problemas e muitos vivem no Fuerte Apache até hoje. São um monte de irmãos, todos meio errados: uns bebem, outros sei lá o que fazem, e um que é louco", diz uma pessoa que viveu no andar de cima da família Tevez.
"Mas o Segundo sempre fez de tudo pelos filhos. Quando o Carlitos tinha uns seis anos e começava a jogar futebol, o Gordo [apelido de Segundo] pegava os moleques, colocava-os em uma pequena caminhonete às seis da manhã e ia trabalhar", conta a pessoa.
A reportagem tentou entrar em contato com Segundo, mas ele não quis dar entrevistas. Afirma que não gosta de aparecer e que atualmente está ressabiado pelo tratamento que Carlitos recebeu da imprensa argentina.
"Não querem saber dele como jogador, só querem saber de fazer fofocas e de inventar coisas ruins", disse Gordo. Nos últimos dias, ele dava atenção especial ao filho Miguelito, que joga no Boca.
Para ele, as obras e a rotina sofrida de pedreiro ficaram para trás. Porém a miséria ainda marca a família anterior de Carlitos.
A irmã Patrícia mora com seus quatro filhos num pequeno apartamento térreo no Fuerte Apache, com muita sujeira e com um plástico preto no lugar de janela. Mas tem pudor de mostrar onde a mãe vive. "Melhor não. É uma casa muito feia." (APE)


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