São Paulo, quarta-feira, 13 de fevereiro de 2002

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TÊNIS

Sem ele, fica fácil

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Posso dizer, sem dúvida, que era o maior evento esportivo da cidade. Até porque a cidade, perdida no interior de São Paulo, não era tão grande assim.
Para os Jogos Escolares daquele ano, o nosso time era até que bem treinado. Não iria fazer feio, mas estava longe de ser favorito.
Favorita era a escola que tinha o Érico, o temido Érico. Os outros alunos eram baixos, fracotes, não tinham intimidade com a bola, mal sabiam fazer um passe. Tremiam, essa é a verdade.
O problema era o Érico. Isso ficou claro já nas primeiras partidas. Jogando em casa, na quadra em que faziam as aulas de educação física, sempre naquele sol quente da tarde, eles iam destruindo escola atrás de escola.
Lembro de ter visto uma vitória acachapante sobre a escola da Vila São Paulo. E um triunfo incontestável sobre a Anísio Teixeira, talvez a única que pudesse fazer frente. "Não tem jeito", me falava o Adriano Alves, nosso melhor tenista, digo, basquetebolista.
De nosso lado, íamos aos trancos e barrancos, mas ganhando. No primeiro jogo, vencemos na bola, fácil, mas apanhamos depois dos alunos dessa escola, que tinha a fama de só ter "maloqueiros" -hoje, seriam "bad boys".
Íamos, porém, ganhando confiança. O Fabio Teixeira já não se impressionava com o tamanho dos rivais, o Rodrigo Fernandes segurava bem as investidas adversárias, eu ia aparecendo nas horas importantes, e o Adriano continuava liderando a equipe.
Quando chegou a final, nos vimos diante da escola do Érico. O vice era já uma vitória. Afinal, eles haviam eliminado nas semifinais o Anísio Teixeira, que, em tese, ficaria com o segundo lugar -nós seríamos terceiros e sairíamos honestamente contentes.
Mas aí ficamos sabendo: para a decisão, o jogo não seria na quadra deles, mas no ginásio da cidade (não falei que era o maior evento local?). Mais: não seria no sol quente da tarde, em que eles jogavam, mas às 10h, horário em que havíamos mais jogado.
O melhor é que o Érico era tão bom, tão excelente aluno-esportista, que alguns dias antes da final havia sido convocado para a seleção paulista de judô. Pois, além de grande futebolista, tenista, basquetebolista, descobrimos, era um exímio judoca.
Eis que, na história, ficou marcado que nós fomos campeões. Ganhamos, fácil, fácil. O Adriano foi sem dúvida o melhor, mas eu também coloquei ali na final, modestamente, as quatro cestas de três pontos -um dos maiores auges de minha breve carreira.
Na cidade, até hoje ainda falamos sobre essa história inesquecível de nossa infância, adolescência. Que o Érico não jogou e nós ganhamos de um time desfalcado, bem, isso nós não fazemos questão de lembrar. Precisa?

O "Érico" que vi no fim de semana (aliás, que não vi) é Kuerten.
Sem ele, o time brasileiro na Copa Davis não foi páreo para a apenas regular equipe tcheca.
Parece que só vamos se tivermos Guga, saibro, torcida brasileira, calor, adversários fracos. Se é assim, bem, é melhor esquecer.

"No fim, as pessoas só vão lembrar que nós ganhamos do Brasil. Ninguém vai lembrar que Kuerten não estava, ninguém vai lembrar quem estava no time."

(Jan Kukal, capitão tcheco)

Favoritos confirmados
A Argentina não desperdiçou a chance de ouro contra a Austrália. Em casa, no saibro, sem Rafter e Hewitt do outro lado... Os EUA também mostraram um time forte, com Sampras e Roddick. Sem contar que a Eslováquia estava sem Hrbaty e Kucera.

Emoção confirmada
A Rússia recebeu e despachou a Suíça em cinco bons jogos. A Espanha também suou, mas conseguiu boas vitórias sobre Marrocos. A Suécia virou contra a Inglaterra no último dia com duas vitórias sensacionais.

Resultados confirmados
A França passou pela Holanda. A Croácia derrubou a Alemanha. Os confrontos da segunda rodada, em abril, são: França x República Tcheca, EUA x Espanha, Rússia x Suécia e Argentina x Croácia, com os primeiros jogando em casa e escolhendo o piso.

E-mail reandaku@uol.com.br


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