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TÊNIS
Já vai cedo
RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA
Não combinava com ele,
definitivamente. Mas lá estava Fernando Meligeni, naquela
quinta-feira gelada, chuvosa, típica dos dias mais preguiçosos em
São Paulo. Fora de uma quadra
de saibro, onde costumava correr
e pular feito um louco, ele caminhava tranquilamente no piso
frio de uma academia.
Pouco sorridente, sério até, vestindo calça jeans e camiseta branca, moletom azul, um uniforme
que também não lhe é característico, ele cumprimentava aqueles
jornalistas que convidara para
bater um papo, logo cedo, às 10h.
Falava baixo, pausadamente,
escolhendo as palavras a dedo.
Uma postura diferente daquela
do tenista que gritava, corria, se
jogava, agitado, em quadra.
Foi assim, manso, solene quase,
irreconhecível, que anunciou sua
aposentadoria, naquele não distante 5 de junho. "Desde quando
completei 30 anos, eu venho estudando possibilidades do que poderia fazer quando parasse de jogar. Agora chegou a hora", contou, discretamente.
Mais baixo ainda, admitiu que
o circuito deixou de lhe dar prazer. "Superei meu limite em 1999,
quando alcancei a 25ª posição do
ranking, com muito trabalho e
superação. Hoje, sei que não tenho mais condições de chegar ou
ultrapassar isso. E, para mim, não
interessa mais seguir jogando para ganhar uma ou duas rodadas."
O anúncio da aposentadoria,
em si, não surpreendeu quase
ninguém. Havia semanas que os
jornalistas e até os fãs menos informados falavam à boca pequena da decisão que o tenista tomara, de parar de jogar.
O que surpreendia era a forma
serena, quase triste, em que fazia
o anúncio. Dois anos de reflexão
pelo mundo e alguns dias de conversa com os pais em Angra dos
Reis lhe davam a certeza de que
não havia mais tesão para jogar.
"Qual foi a primeira sensação
que você teve quando chegou à
certeza de que iria parar, Fernando? Tristeza, alívio?", perguntou
a coluna. "Na verdade", respondeu, um tanto melancólico, sem
convencer, "não teve uma sensação só. Foi um mix; fiquei triste,
aliviado, mas também feliz por
ter tomado essa decisão".
Apesar de a mídia relatar a decisão do tenista de parar e os fãs
tomarem conhecimento da aposentadoria, ninguém viu ali, naquela hora, o fim do atleta mais
carismático do tênis nacional.
Só no domingo Fernando Meligeni, o verdadeiro Fernando Meligeni, se despediu. Bem ao seu estilo: sob um sol de mais de 40C,
contra um tenista que conseguiu
mais do que ele no circuito profissional, com uma atuação tecnicamente limitada, mas deixando
sobrar empenho, raça e emoção.
Suado, exausto, boné com a aba
virada para trás, gemendo, berrando, rindo, com a torcida batucando e berrando, virou um jogo
que estava perdido e saiu vencedor. Equilibrando a raquete no
nariz, pulando na grade, conversando com a bolinha, provocando
o rival, ganhou o título.
Óbvio que tem aqueles que dizem que o torneio não vale nada.
Mas é por isso que adoramos Fernando Meligeni, um tenista capaz de fazer de um simples jogo
de tênis uma final de Copa Davis.
Um novo homem
Com Brad Gilbert, Andy Roddick ganhou 24 jogos e perdeu só 2. Ganhou quatro títulos, incluindo aí o Masters Series de Montréal, no
domingo. Deixou de ser freguês de Andre Agassi e Roger Federer.
Uma nova líder
Kim Clijsters assumiu nesta semana a liderança do ranking feminino. Superou Serena Williams. Sem ilusões, porém: é que a belga joga
muito mais torneios que a americana, e o ranking privilegia isso.
Um garoto campeão
O gaúcho Eduardo Bohrer ganhou no domingo o Future de Guarulhos, após bater o também gaúcho Andre Ghem. Na segunda-feira
começa outro future, desta vez em Caldas Novas, interior de Goiás.
E-mail reandaku@uol.com.br
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