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São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 2003

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TÊNIS

Já vai cedo

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Não combinava com ele, definitivamente. Mas lá estava Fernando Meligeni, naquela quinta-feira gelada, chuvosa, típica dos dias mais preguiçosos em São Paulo. Fora de uma quadra de saibro, onde costumava correr e pular feito um louco, ele caminhava tranquilamente no piso frio de uma academia.
Pouco sorridente, sério até, vestindo calça jeans e camiseta branca, moletom azul, um uniforme que também não lhe é característico, ele cumprimentava aqueles jornalistas que convidara para bater um papo, logo cedo, às 10h.
Falava baixo, pausadamente, escolhendo as palavras a dedo. Uma postura diferente daquela do tenista que gritava, corria, se jogava, agitado, em quadra.
Foi assim, manso, solene quase, irreconhecível, que anunciou sua aposentadoria, naquele não distante 5 de junho. "Desde quando completei 30 anos, eu venho estudando possibilidades do que poderia fazer quando parasse de jogar. Agora chegou a hora", contou, discretamente.
Mais baixo ainda, admitiu que o circuito deixou de lhe dar prazer. "Superei meu limite em 1999, quando alcancei a 25ª posição do ranking, com muito trabalho e superação. Hoje, sei que não tenho mais condições de chegar ou ultrapassar isso. E, para mim, não interessa mais seguir jogando para ganhar uma ou duas rodadas."
O anúncio da aposentadoria, em si, não surpreendeu quase ninguém. Havia semanas que os jornalistas e até os fãs menos informados falavam à boca pequena da decisão que o tenista tomara, de parar de jogar.
O que surpreendia era a forma serena, quase triste, em que fazia o anúncio. Dois anos de reflexão pelo mundo e alguns dias de conversa com os pais em Angra dos Reis lhe davam a certeza de que não havia mais tesão para jogar.
"Qual foi a primeira sensação que você teve quando chegou à certeza de que iria parar, Fernando? Tristeza, alívio?", perguntou a coluna. "Na verdade", respondeu, um tanto melancólico, sem convencer, "não teve uma sensação só. Foi um mix; fiquei triste, aliviado, mas também feliz por ter tomado essa decisão".
Apesar de a mídia relatar a decisão do tenista de parar e os fãs tomarem conhecimento da aposentadoria, ninguém viu ali, naquela hora, o fim do atleta mais carismático do tênis nacional.
Só no domingo Fernando Meligeni, o verdadeiro Fernando Meligeni, se despediu. Bem ao seu estilo: sob um sol de mais de 40C, contra um tenista que conseguiu mais do que ele no circuito profissional, com uma atuação tecnicamente limitada, mas deixando sobrar empenho, raça e emoção.
Suado, exausto, boné com a aba virada para trás, gemendo, berrando, rindo, com a torcida batucando e berrando, virou um jogo que estava perdido e saiu vencedor. Equilibrando a raquete no nariz, pulando na grade, conversando com a bolinha, provocando o rival, ganhou o título.
Óbvio que tem aqueles que dizem que o torneio não vale nada. Mas é por isso que adoramos Fernando Meligeni, um tenista capaz de fazer de um simples jogo de tênis uma final de Copa Davis.

Um novo homem
Com Brad Gilbert, Andy Roddick ganhou 24 jogos e perdeu só 2. Ganhou quatro títulos, incluindo aí o Masters Series de Montréal, no domingo. Deixou de ser freguês de Andre Agassi e Roger Federer.

Uma nova líder
Kim Clijsters assumiu nesta semana a liderança do ranking feminino. Superou Serena Williams. Sem ilusões, porém: é que a belga joga muito mais torneios que a americana, e o ranking privilegia isso.

Um garoto campeão
O gaúcho Eduardo Bohrer ganhou no domingo o Future de Guarulhos, após bater o também gaúcho Andre Ghem. Na segunda-feira começa outro future, desta vez em Caldas Novas, interior de Goiás.

E-mail reandaku@uol.com.br


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