São Paulo, sábado, 13 de novembro de 2004

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MOTOR

Lições de uma batalha

FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Circula pela internet um vídeo com cenas das três últimas voltas do GP da França de 1979, em Dijon. É um tapa na cara de quem acha que disputas por segundo lugar não têm nada de interessante. Em 1min57s, traz as cenas de um dos maiores duelos da história da F-1: Gilles Villeneuve x René Arnoux.
O francês tinha atrás de si um Renault turbo, o mesmo de Jean-Pierre Jabouille, que já havia deixado Villeneuve para trás.
Já o canadense, apesar de pilotar um carro mais lento naquele domingo de julho, tinha a seu lado a garra que o tornou mito.
Quis a história que os dois se encontrassem em Dijon. A três voltas do final. Arnoux encostou e jogou Villeneuve para terceiro na Villeroy, primeira curva do circuitinho de 3.800 m. Bem a seu estilo, o ferrarista partiu para tentar o troco. O francês, para vibração da torcida, decidiu resistir.
O que se seguiu, então, foi uma série de ultrapassagens, rodas batendo, pneus fritando, freios travando, carros e pilotos no limite.
Na última volta, Villeneuve, enfim, retomou o segundo lugar. Naquele dia, não foi o "primeiro dos perdedores". Pois se o GP foi histórico por ter visto a primeira vitória de um turbo, ficou gravado na memória dos fãs pelo duelo.
(Não é difícil achar o vídeo na rede. Uma versão bacana está em www.iprimus.ca/~trauttf/Gilles/).
O fato é que, nos e-mails que viajam por aí, o vídeo normalmente vem com mensagens do tipo "os bons tempos da F-1", "valia a pena ver um GP", "corrida pra valer" e segue a toada.
Será? O ano em questão é 79. O Mundial de Construtores foi da Ferrari -como tem sido desde 99. O Mundial de Pilotos teve dobradinha de Maranello, com Jody Schecker à frente de Villeneuve -a exemplo de Schumacher-Barrichello em 2002 e neste ano.
"Mas havia disputa na pista", argumentarão. É verdade, mas aquela de Dijon foi uma exceção. As outras, acredito, não ficaram devendo a Massa x Villeneuve (o filho) em Suzuka, Barrichello x Trulli em Magny-Cours ou a Sato x Barrichello em Nurburgring.
O que acontece é que muitos torcedores colocam tudo no mesmo saco. Se a disputa pelo primeiro lugar não tem graça, nada presta. Essa generalização é muito radical, e o "resgate" da batalha de Dijon está aí para provar.
Então por que o sentimento de que a F-1 está chata? Porque o que faz diferença é a mesmice no topo do campeonato. Se 79 tem algo a ensinar, é que os dois ferraristas terminaram separados por só quatro pontos. O Mundial teve outros líderes e frenéticas trocas de supremacia entre as equipes.
Algo bem diferente do abismo atual. E que nove times fizeram o favor de tornar mais gigantesco ao renunciar a metade dos dias de testes em 2005 para cortar custos e tentar vexar a Ferrari.
Imagine o que a "scuderia" fará no ano que vem treinando o dobro das outras... Seria bom que as TVs do mundo todo recebessem o vídeo de Dijon. Para irem se acostumando a, no ano que vem, mostrar apenas longínquas disputas por segundos lugares. Lá na frente não restará muita coisa.

Em Campo Grande
Tempos atrás, Giuliano Losacco não tinha perspectiva e começou a dar aulas de pilotagem para se sustentar. Domingo, venceu o principal torneio do país, a Stock Car, uma virada rápida, talvez só possível no esporte. Por essas e outras que a gente é louco por esse troço.

No Rio
Falando em Losacco, ele larga às 13h30 de amanhã com um Audi TTR DTM para os 500 km do Rio, em Jacarepaguá. Belo programa.

Em São Paulo
Para os paulistanos, a atração é a Granja Viana e suas 500 Milhas, brincadeira séria com pilotos como Barrichello, Gil, Kanaan, Castro Neves, Massa e Montoya. A largada é à meia-noite de hoje.

E-mail fseixas@folhasp.com.br


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