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FUTEBOL
Regente ou gerente?
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Há jogadores cuja principal característica é a de organizar o jogo, como quem limpa
o terreno para os outros brilharem. É o caso de Ricardinho, que
agora está de volta à seleção brasileira, depois de dois anos de
quase ostracismo.
Poucos jogadores passaram por
fases tão díspares em tão pouco
tempo. Senão, vejamos.
Após atingir seu apogeu no Corinthians, Ricardinho foi chamado às pressas para a Copa-02, por
conta da contusão de Emerson.
Na época, havia quase um clamor
geral pela sua convocação, dada a
pouca consistência criativa do
meio-campo brasileiro.
Ricardinho foi à Copa, quase
não jogou, e o Brasil voltou campeão. O jogador trocou o Corinthians pelo São Paulo, onde rendeu menos que o esperado. Sua
passagem pelo Middlesbrough foi
ainda mais frustrante: não chegou a jogar nenhuma partida.
Ricardinho passou a ser visto
como atleta em decadência. Uma
carta fora do baralho.
Mas eis que no Santos, em plena
reformulação com a saída de jogadores como Diego, Renato e
Paulo Almeida, Ricardinho em
pouco tempo reencontrou seu espaço, sua autoconfiança e seu futebol inegavelmente competente.
O que explica uma alternância
tão grande?
Como sempre, várias coisas. Há
quem aponte como decisivo o dedo de Luxemburgo. De fato, o
treinador, que conhece Ricardinho desde os tempos do Paraná
Clube, soube encaixá-lo no time e
devolveu-lhe o status de líder e capitão. O elenco do Santos também
ajuda, claro.
Mas o São Paulo, quando Ricardinho passou pelo Morumbi,
também não tinha um elenco
ruim. Estavam lá Kaká, Maldonado, Júlio Baptista, Luis Fabiano. Por que não deu certo? Segundo se depreende das declarações
de Ricardinho, houve contra ele,
dentro e fora do campo, resistências que beiraram o boicote.
Para um jogador como Ricardinho, totalmente voltado para o
jogo coletivo, o ambiente de trabalho é fundamental. No Santos,
ele parece estar à vontade, com a
cabeça fresca para encontrar os
espaços e criar jogadas para seus
talentosos companheiros. É o regente de uma orquestra em que os
solistas se alternam.
Quando o clima é hostil, quando não há colaboração da equipe,
um jogador como Ricardinho deixa de ser regente para se tornar
um mero gerente, merecendo as
acusações que lhe imputam: burocrático, quadrado, sem inspiração. Passa a ser apenas o representante do técnico em campo,
como o aluno CDF que a professora deixa tomando conta da
classe quando se ausenta.
Se não há paixão, se os companheiros não ajudam, se a torcida
não apóia, tanto faz dar um passe
de lado ou fazer um lançamento
de 40 metros.
Vai-se tocando o ofício como
quem trabalha com a barriga no
guichê do banco ou da loja.
Mas o futebol de Ricardinho pode ser muito mais do que isso, como ele está mostrando no Santos
e mostrará, quem sabe, na seleção
brasileira.
Efeito Serginho
A cautela do departamento médico do Grêmio, que afastou
Emerson até que se façam exames cardiológicos detalhados,
indica que os clubes se tornaram mais preocupados com a
saúde dos atletas após o caso
Serginho. Se isso for verdade, a
morte do zagueiro do São Caetano não terá sido em vão.
Recordar é viver
A rodada deste fim de semana
do Brasileirão vai assistir a um
triste confronto direto entre
dois clubes que correm risco de
rebaixamento: Atlético-MG e
Flamengo. E pensar que os
mesmos dois clubes disputaram no Maracanã, em 1980,
uma das finais mais empolgantes da história, que terminou
com a vitória por 3 a 2 do Flamengo de Zico sobre o Atlético
de Reinaldo. Bons tempos.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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