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FUTEBOL
Grande Final: Veredas
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
O cérebro faz caminhos tortuosos. Ontem, por exemplo,
eu matutava sobre futebol, o futebol me fez pensar em grama, a
grama me levou aos jardins, os
jardins às flores, as flores me fizeram lembrar de rosas e rosas me
levaram a Guimarães Rosa.
Como comecei com o futebol e
acabei com Guimarães, juntei as
duas pontas desse pensamento e
fiquei imaginando como seria se,
em vez de escritor, o autor de
"Grande Sertão: Veredas" fosse
um cronista esportivo. Nesse caso,
a final da Copa do Mundo, mal
imitando, poderia ter sido escrita
mais ou menos assim:
Vou contar uma história aqui. É
história que instrui vida. Tudo sai
é mesmo de escuros buracos, tirante o que vem do céu. Eu sei.
O sol ia entrando, vi o céu nos
roxos, nos vermelhos. Começou a
peleja. Futebol é isso, tudo incerto, tudo certo. Os brancos do outro lado eram cabras difíceis, como até os dias de hoje não vi muitos. Tanto assim é e foi que eles
começaram atacando. Eles vinham, se avinham, num pé-de-vento, no desadoro, bramavam,
se investiram. Viver é muito perigoso... Mas os nossos jogavam como quem tivesse o Cujo no corpo.
Deus ou o Cujo, que os dois estão
misturados em tudo.
Então que os de cá chutaram a
bola e o mais alto dos de lá, de nome Khan, quase que agarra, mas
não. Bobeou a sentinela. Foi é que
largou, e Ronaldo não perdeu
tempo. Atirou com força, querendo mesmo era acertar. Acertou
bonito. Acertou acertando e pulando já de alegria. Ele e todos os
outros dez. A grande área é do tamanho do mundo.
O segundo acerto é que foi de
uma boniteza bonita. Kléberson a
vir do meio do campo, bola em pé,
correndo amouco... Os zagueiros
se vinham, cometer. Os passos, o
passe. Os inimigos na fúria, animosamente. Mas Rivaldo, que
quase se chama Riobaldo, estava
ali, bem no meio. Quem nasce
com jeito nem ninguém pode desfazer. Tocou a bola sem tocar. Ordenou sem falar. E ela foi que direito, bem até os pés de Ronaldo.
E ele acertou pela vez segunda.
Bola estripitriz. Ronaldo no meio
do redemunho. Agora, nós, felizes, era só gozar gozo. O Brasil tinha vencido mil-vezes-mente! E
eu sabia, e queria saber, meus
olhos marejavam. Sufoquei numa estrangulação de bom.
O capitão Cafu ergueu aquela
beleza de troféu bem no meio de
fumacinha expelida e só ele é que
se via. Falava que gostava era demais da mulher dele, e muita gente chorou. Aquele grande gritar,
de se estremecer. Deve de ter tido
muito babando de inveja, mas isso é coisa de coração magro. Melhor deslembrar. Ronaldo era
campeão como o sol não acende a
água do rio. A torcida soluçava
suas alegrias. Travessia.
Quando eles chegaram em casa
foi uma festança só. Maluqueira.
Teve desfile e até cambalhota na
capital, mas foi que ninguém
achou ruim ruim. Desdigo. Teve
gente que reclamou, falou que era
lá falta de respeito. Toleima. A seleção está depois das tempestades.
Não sei o que foi melhor. Os
gols, a taça, o rir. Se tudo, se nada.
Nonada? Não, digo que tudo.
Agora é esperar pela vez que vem.
E isso está sempre mais ligeiro.
Quando eu for perceber, já vou
aqui estar, de repentemente, contando de novo.
No que narrei, o senhor até ache
mais do que eu, a minha verdade.
Fim que foi. Aqui a estória se acabou. Aqui, a estória acabada.
Aqui a estória acaba.
Papelão 1
Pela Copa São Paulo, os corintianos que foram a Limeira fizeram um papelão. Não
souberam perder para a Inter
e apelaram para a briga. Duas
derrotas num só dia.
Papelão 2
Lusa e Sorocaba não ficaram
atrás. Agiram como dentes-de-leite e expulsaram oito.
Milagre 1
Fred, do América-MG, fez o
gol mais rápido do mundo. O
jogador passou-lhe a bola e
ele deu um chutão que encobriu o goleiro. Mas o América
jogou só três segundos na
partida. Depois, tomou uma
goleada de 5 a 1 do Vila Nova.
Milagre 2
E o Palmeiras conseguiu o
que parecia impossível. Ganhou por cinco gols de diferença do Joseense. É um bom
começo para quem terá pela
frente a missão quase impossível de voltar à elite.
E-mail torero@uol.com.br
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