São Paulo, segunda-feira, 14 de maio de 2001

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MEMÓRIA


Ex-jogadores são a solução

DIDI
ESPECIAL PARA A FOLHA

O futebol é a nossa alegria e não merece o tratamento que vem recebendo. Eu ajudei a construir a imagem de glórias do futebol brasileiro. Ganhei duas Copas do Mundo. Eu tenho o direito de exigir um tratamento digno.
Os jovens também, afinal o futuro pertence a eles. Eu não estou contente com os jovens: eles exigiram a saída do presidente Collor. Por que não exigem a saída desses caras que comandam a seleção?
O que nós vimos no jogo contra o Uruguai foi apenas um time bem determinado e nada mais. O que nós oferecemos? Pontapé e pingue-pongue, que não refletem o nosso verdadeiro futebol. Apesar das circunstâncias adversas, eu acredito que o Brasil irá para a Copa de 94. Eu, como o povo, acho que Deus é brasileiro e seria um castigo ficarmos de fora. É preciso que o Brasil se classifique porque senão todos perderão: o espetáculo, a Fifa, os torcedores e os organizadores seguramente terão prejuízo.
A juventude deveria aproveitar o tempo entre as eliminatórias e a realização da Copa e pedir que uma comissão de "notáveis" do futebol assuma o comando. Dessa comissão fariam parte Bellini, Gilmar, Nílton Santos, Gérson e até eu próprio, gente que viveu de fato o futebol brasileiro nos seus tempos áureos e tem, seguramente, uma contribuição a dar.
Só quem jogou futebol tem condições de avaliar os sentimentos e as dificuldades que um jogador tem em campo. Quem não jogou não tem essa condição. E hoje a seleção está cheia de gente desse tipo.
É um absurdo também que se deixe de fora talentos como o Neto. Sua vaga seria garantida no time principal, assim como o Romário, que é um jogador excepcional. São peças raras que não podem ficar fora da máquina. Essa imagem de que são atletas que criam atritos só existe porque não lhes foi dado um tratamento à altura para que cumprissem a sua obrigação. É por isso que eu defendo a idéia de termos uma comissão de jogadores no comando.
Os dirigentes precisam pensar no nosso futebol com seriedade, e o primeiro passo para isso seria organizá-lo.


Trecho do texto de Waldir Pereira, o Didi, publicado na Folha no dia 20 de agosto de 1993, em que ele analisava o desempenho da seleção brasileira nas eliminatórias para a Copa de 94



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