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FUTEBOL
O fantasma
JORGE KAJURU
ESPECIAL PARA A FOLHA
Antes de Felipão, apenas
um treinador de seleção alcançou a quase unanimidade nacional: Telê Santana. O "fio de esperança" era querido por todos.
Mesmo perdendo a Copa de 82,
o mestre ainda era respeitado.
Tanto que se transformou em
um fantasma na vida de outros
técnicos que sonhavam dirigir o
Brasil em 1986, no México.
Na mesma equipe de transmissão do SBT, em 1985, nas eliminatórias, trabalhavam Juca Kfouri,
Osmar de Oliveira, Telê Santana
e este repórter, à época com 24
anos no meio das feras. Escutava
mais do que falava. O suficiente
para lembrar que todo jantar
(nunca pago pelo Telê, que sempre esquecia a carteira) após jogo
de seleção terminava com a dúvida: "Será que Santana assume a
seleção amanhã?". Em apartamentos conjugados, camas enormes de casal, noite fria de Santiago -Juca, Osmar e eu tomávamos bola nas costas. Naquele cenário, diante de nossas caras,
Giullite Coutinho fechava contrato por telefone com Telê, que já
dirigira o Brasil nas eliminatórias. Apenas Juca desconfiou.
Telê, de honestidade rara, não
queria nos privilegiar com o furo.
Aconteceu aquilo que a gente já
sabia desde 1982: foi anunciado
oficialmente, para delírio da nação, o retorno de Santana.
Mesmo filme
Não tenham a menor dúvida.
Esse é o destino de Luiz Felipe
Scolari, que voltará, nos braços do
povo. Felipão será pedido nos estádios em uma só voz. Nenhum
outro técnico brasileiro conseguirá trabalhar em paz. Exceto se obtiver êxito de 100% nos jogos
amistosos e eliminatórios.
E a reposição é mesmo difícil.
Qual treinador tem hoje o carisma de Scolari? Assim como ele,
quem pediria desculpas a um jogador na frente de todos (como
ocorreu com Cafu) após o jogo da
Bélgica? Definitivamente, as virtudes do gaúcho-mineiro bastam.
Acredito que Parreira seria o
único a combater o fantasma e a
sombra sem esquentar a cabeça.
Os demais perderiam a paciência em cinco jogos. Agora, diferentemente de Telê, o que Felipão
não conhece é o desgaste de uma
segunda Copa. Bem antes do jogo
com a França em 1986 (perdemos
nos pênaltis), uma declaração
inesperada abalou muita gente:
"Estou enojado do futebol! Para
mim chega! Quando acabar, acabou. Nunca mais". Palavras de
um Telê amargurado, isolado em
uma cabana da concentração de
Guadalajara, acompanhado do
filho e do irmão. A entrevista impacto e me rendeu noites sem dormir, editando as melhores partes,
porque Ciro José (chefe da cobertura do SBT) pediu a reprise por
seis vezes.
Terminada a primeira fase da
Copa, Telê já não suportava o
ambiente, onde poucos lhe falavam na comissão técnica.
Gilberto Tim chegou a pedir
ajuda de jornalistas amigos de
Telê. O grupo de jogadores estava
implacavelmente rachado. Leão,
Oscar e outros dois queriam boicotar até treinamento coletivo.
Felipão já sentiu. Ainda comemorando o penta, uma simples
revelação sobre o "mimado" Ronaldo por pouco não trinca o
enlace. Como sei que Scolari sonha disputar o hexa na Alemanha, não custa nada seguir os
passos da mineirice de Telê. Paciência e silêncio, porque o silêncio não comete erros. E há certos
assuntos que a gente não comenta nem com a gente mesmo.
É cedo
Cansamos de ver a gangorra
das rodadas do Brasileiro.
Bom mesmo foi ver reações e
atuações de Flamengo, Romário, Fluminense e Vasco.
Brasileirão não pode prescindir do brilho dos cariocas e de
um Maracanã cheio de sorrisos e esperança.
É tarde
Patrocinadores de camisas
dos clubes e anunciantes de
programas de show de auditório e jornalismo um dia poderão reagir. O melhor momento de aparição, para
quem paga milhões nas camisas dos times, é na hora do
gol. O jogador, por sua vez,
comemora sem camisa ou
com outra por baixo ("Jesus é
fiel"). Por causa do ibope, os
programas só chamam os comerciais quando a audiência
permite. E quando a mídia
combinar o mesmo jogo,
com exigências para clubes,
TVs, jogadores e apresentadores? Talvez, seja tarde.
E-mail kajuru@terra.com.br
Tostão, em férias, volta a escrever
neste espaço em 4 de setembro.
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