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São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2003

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FUTEBOL

TV e vices eleitos da CBF iniciam lobby para extinguir pontos corridos

Globo e aliados de Teixeira querem mata-mata em 04

DO PAINEL FC

Ironia do destino, a maior ameaça ao sistema de pontos corridos nasce justamente nos corredores das duas instituições que impuseram aos clubes o fim dos mata-matas no Brasileiro.
Tanto na Globo Esportes como na CBF é crescente a insatisfação com o Nacional de turno, returno, pontos corridos e com mais de oito meses de duração.
A posição da TV, não assumida oficialmente, é mais radical. Marcelo Campos Pinto, diretor-executivo da Globo Esportes, trabalha fortemente nos bastidores para convencer os clubes a derrubar a fórmula no Conselho Técnico do próximo Brasileiro.
A tese da TV, externada vez por outra pelo narrador Galvão Bueno, é de que o torcedor brasileiro está acostumado às finais. Apesar de a Globo não ver nos números do Ibope uma diminuição significativa da audiência, causam irritação na emissora as fracas campanhas -e a consequente queda de interesse dos torcedores- de Corinthians e Flamengo, seus dois carros-chefes.
Com os clubes mais populares do país fazendo apenas papel figurativo no Nacional, a Globo tem recorrido aos badalados Santos e São Paulo para não perder audiência. No Rio, a maior atração tem sido a luta do Fluminense para não ser rebaixado.
Se Campos Pinto prefere não falar sobre o assunto - "Isso os clubes têm que decidir"-, a posição da CBF é escancarada.
Ricardo Teixeira, que forçou a implantação dos pontos corridos para tentar mostrar que a entidade havia mudado após as duas CPIs no Congresso, publicamente diz que o campeonato agrada e que a fórmula deve ser mantida.
Mas, a cada dia, cresce o movimento na confederação pela volta imediata do mata-mata -em tese, proibida pelo Estatuto do Torcedor, promulgado em maio.
O lobby mais duro vem dos novos aliados de Teixeira, que possibilitaram ao cartola mais quatro anos de mandato à frente do futebol nacional. A começar por seus vices eleitos em Assembléia.
"Do jeito que está não tem como continuar. Ouço de torcedores, dirigentes, atletas e federações que os pontos corridos são um fracasso. A segunda divisão [que tem três fases] é mais atraente que a primeira. A cultura do brasileiro é diferente", esbraveja Weber Magalhães, presidente da federação do DF e cada vez mais poderoso na CBF pelo trânsito no Ministério do Esporte, comandado por seu amigo Agnelo Queiroz.
Outro aliado importante é Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney.
"Precisamos mudar o modelo. Se ficar como está, estamos perdidos", diz o vice eleito da CBF para a região Norte e principal articulador político da entidade em Brasília. "O torneio se mostra inviável. Tem que voltar o mata-mata."
Apesar de menos incisivo, o vice eleito da região Sul vai na mesma linha. "Até que o Brasileiro ficaria melhor com uma semifinalzinha, uma finalzinha", opina Emídio Perondi, aliado de primeira hora de Teixeira.
Amanhã, quando o presidente da CBF receberá em seu gabinete um grupo de presidentes de federações para discutir o calendário de 2004, a fórmula de pontos sofrerá mais um ataque.
Mais novo homem de confiança de Teixeira, o paulista Marco Polo del Nero será o porta-voz do grupo de cartolas que pedirá a volta do modelo anterior, que vigorou, com variações, em todas as edições do Nacional de 1971 a 2002.
"Vejo os clubes sofrendo, sei que o Corinthians reclamou, que os torcedores estão desmotivados. É preciso dar uma nova injeção no futebol brasileiro. Os pontos corridos não estão aprovando, essa é a verdade", afirma o sucessor de Eduardo José Farah na mais poderosa federação do país.
Além da mudança de fórmula, o grupo de presidentes pedirá mais espaço a seus Estaduais no ano que vem. O número de 12 datas é considerado inadequado por todos os mais poderosos aliados de Teixeira -a quem o dirigente deve sua nova reeleição na CBF.
(FÁBIO VICTOR e FERNANDO MELLO)


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