São Paulo, domingo, 14 de outubro de 2001

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FUTEBOL

De 36 organizações que praticam terror internacional, 19 atuam em países que estão classificados ou perto da Copa

Diversidade chega junto com terrorismo


DA REPORTAGEM LOCAL

A Copa do Mundo de 2002 vai ser a mais variada da história em termos de raças, religiões e línguas. Em compensação, será, também por causa desses fatores, a edição do medo e da crise financeira que assola o planeta.
De 36 grandes organizações que os Estados Unidos classificam como praticantes do terrorismo internacional, 19 têm sede ou atuam em países já classificados para a Copa do Japão e da Coréia ou ainda têm chances de classificação na reta final das eliminatórias, que acabam em novembro.
No evento mais importante de um único esporte, esses grupos teriam uma visibilidade única para seus atos, principalmente porque os EUA, maior adversário dos terroristas, garantiram sua presença no Mundial no domingo passado ao vencer a Jamaica.
Com a seleção norte-americana na Copa, grupos islâmicos com ramificações em quatro países que já estão ou podem estar na Ásia no próximo ano ganham um alvo preferencial.
Dessa forma, a maioria dos investimentos em segurança feitos por japoneses e coreanos será para proteger os jogadores americanos e tudo que envolva o país que hoje, depois dos atentados que destruíram o World Trade Center e atingiram o Pentágono, está em guerra contra o Afeganistão.
Mas não é só com grupos estrangeiros que japoneses, principalmente, e coreanos terão que se preocupar em 2002.
O Japão tem dois grupos na lista dos grandes grupos terroristas segundo os EUA. Um deles, o Ensinamento da Verdade Suprema, foi responsável pelo atentado com o gás sarin que matou 12 pessoas no metrô de Tóquio em 1995.
Terroristas de países próximos às sedes da próxima Copa também terão oportunidade de praticar atos violentos.
Nesse ponto, a maior ameaça vem das Filipinas, que abriga o Abu Sayyf, que no ano passado sequestrou 30 estrangeiros que passavam férias no país para divulgar a idéia de um Estado islâmico na região.
Para aliviar a situação, os organizadores terão que "torcer" para a enfraquecida Áustria no que resta das eliminatórias.
No próximo dia 27, os europeus têm a chance de eliminar Israel, um país que normalmente traz preocupação extra para qualquer sede de evento esportivo.
Caso Israel vença o jogo, o que é muito provável pelo elenco atual das duas equipes, uma seleção "problemática" a mais estará no Japão e na Coréia do Sul em 2002.
Com os austríacos fora, os israelenses, que formam com os americanos os principais alvos de grupos terroristas islâmicos, iriam disputar uma vaga na repescagem com a Turquia, que também pode virar um problema.
Na "lista negra" do terrorismo feita pelos EUA, aparece um grupo curdo, minoria que tenta fundar um Estado que tomaria parte do território turco.
Mesmo priorizando alvos locais, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão, que tem ramificações na Europa, tenta de várias formas chamar a atenção para sua causa, uma das mais ignoradas pelas grandes potências.
Tanto israelenses quanto turcos só disputaram o Mundial uma vez em toda a história. Os primeiros jogaram a edição da Suíça, em 1954, antes da ascensão do radicalismo islâmico. Já o Estado judeu só esteve na Copa de 1970, no México, quando a única nação muçulmana na disputa era o moderado Marrocos.
Israel, inclusive, foi vítima de uma das maiores tragédias esportivas por um ato terrorista.
Na Olimpíada de 1972, em Munique, 11 atletas do país judeu morreram em decorrência da invasão da Vila Olímpica por um grupo terrorista árabe.
O Mundial do Japão e da Coréia do Sul também terá uma lista de participantes que tiveram conflitos recentes, como Nigéria e Camarões, que disputam áreas de exploração de petróleo na África e com fortes movimentos terroristas internos, como a Espanha, com os separatistas bascos do ETA. Com chances reduzidas de classificação, a Colômbia, terra das Farc, também pode se tornar uma ameaça ao torneio.
O Mundial também terá que enfrentar os hooligans ingleses, cujo país também já garantiu um lugar na competição.
A lista de desavenças religiosas e problemas mundiais preocupa os organizadores do Mundial do próximo ano, mas estes ainda tentam não entrar em pânico.
"A Copa é um evento mundial, independentemente do credo do torcedor ou do país participante, não importa se cristão, budista, judeu ou muçulmano", diz Lee Moo-young, representante da Agência Nacional da Polícia da Coréia do Sul.

Crise econômica
Além do medo do terrorismo, a Copa do Mundo mais diversificada da história vai colocar em evidência a crise econômica de boa parte de seus participantes.
Pelo ranking do risco-país, calculado pelo banco de investimentos JP Morgan, sete países que podem estar na Copa-02 estão entre os dez mercados emergentes mais arriscados para investimentos.
Nessa lista, aparecem justamente Argentina e Nigéria, as nações que lideram essa nada honrosa lista e ambas com vaga garantida no Mundial, assim como a Rússia, oitavo mercado mais perigoso hoje segundo o JP Morgan.
Ainda na busca pela classificação, estão outros quatro "top ten" do ranking do risco-país: Equador, Brasil, Ucrânia e Turquia.
Mas não é só entre os emergentes que a crise é sentida.
Os próprios organizadores passam por situação econômica ruim. Em recessão, o Japão deve terminar o ano com um retrocesso no seu PIB (Produto Interno Bruto). (PAULO COBOS)


Colaborou João Carlos Assumpção, da Reportagem Local



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