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FUTEBOL
De 36 organizações que praticam terror internacional, 19 atuam em países que estão classificados ou perto da Copa
Diversidade chega junto com terrorismo
DA REPORTAGEM LOCAL
A Copa do Mundo de 2002 vai
ser a mais variada da história em
termos de raças, religiões e línguas. Em compensação, será,
também por causa desses fatores,
a edição do medo e da crise financeira que assola o planeta.
De 36 grandes organizações que
os Estados Unidos classificam como praticantes do terrorismo internacional, 19 têm sede ou atuam
em países já classificados para a
Copa do Japão e da Coréia ou ainda têm chances de classificação na
reta final das eliminatórias, que
acabam em novembro.
No evento mais importante de
um único esporte, esses grupos
teriam uma visibilidade única para seus atos, principalmente porque os EUA, maior adversário dos
terroristas, garantiram sua presença no Mundial no domingo
passado ao vencer a Jamaica.
Com a seleção norte-americana
na Copa, grupos islâmicos com
ramificações em quatro países
que já estão ou podem estar na
Ásia no próximo ano ganham um
alvo preferencial.
Dessa forma, a maioria dos investimentos em segurança feitos
por japoneses e coreanos será para proteger os jogadores americanos e tudo que envolva o país que
hoje, depois dos atentados que
destruíram o World Trade Center
e atingiram o Pentágono, está em
guerra contra o Afeganistão.
Mas não é só com grupos estrangeiros que japoneses, principalmente, e coreanos terão que se
preocupar em 2002.
O Japão tem dois grupos na lista
dos grandes grupos terroristas segundo os EUA. Um deles, o Ensinamento da Verdade Suprema,
foi responsável pelo atentado com
o gás sarin que matou 12 pessoas
no metrô de Tóquio em 1995.
Terroristas de países próximos
às sedes da próxima Copa também terão oportunidade de praticar atos violentos.
Nesse ponto, a maior ameaça
vem das Filipinas, que abriga o
Abu Sayyf, que no ano passado
sequestrou 30 estrangeiros que
passavam férias no país para divulgar a idéia de um Estado islâmico na região.
Para aliviar a situação, os organizadores terão que "torcer" para
a enfraquecida Áustria no que
resta das eliminatórias.
No próximo dia 27, os europeus
têm a chance de eliminar Israel,
um país que normalmente traz
preocupação extra para qualquer
sede de evento esportivo.
Caso Israel vença o jogo, o que é
muito provável pelo elenco atual
das duas equipes, uma seleção
"problemática" a mais estará no
Japão e na Coréia do Sul em 2002.
Com os austríacos fora, os israelenses, que formam com os americanos os principais alvos de grupos terroristas islâmicos, iriam
disputar uma vaga na repescagem
com a Turquia, que também pode
virar um problema.
Na "lista negra" do terrorismo
feita pelos EUA, aparece um grupo curdo, minoria que tenta fundar um Estado que tomaria parte
do território turco.
Mesmo priorizando alvos locais, o Partido dos Trabalhadores
do Curdistão, que tem ramificações na Europa, tenta de várias
formas chamar a atenção para sua
causa, uma das mais ignoradas
pelas grandes potências.
Tanto israelenses quanto turcos
só disputaram o Mundial uma vez
em toda a história. Os primeiros
jogaram a edição da Suíça, em
1954, antes da ascensão do radicalismo islâmico. Já o Estado judeu
só esteve na Copa de 1970, no México, quando a única nação muçulmana na disputa era o moderado Marrocos.
Israel, inclusive, foi vítima de
uma das maiores tragédias esportivas por um ato terrorista.
Na Olimpíada de 1972, em Munique, 11 atletas do país judeu
morreram em decorrência da invasão da Vila Olímpica por um
grupo terrorista árabe.
O Mundial do Japão e da Coréia
do Sul também terá uma lista de
participantes que tiveram conflitos recentes, como Nigéria e Camarões, que disputam áreas de
exploração de petróleo na África e
com fortes movimentos terroristas internos, como a Espanha,
com os separatistas bascos do
ETA. Com chances reduzidas de
classificação, a Colômbia, terra
das Farc, também pode se tornar
uma ameaça ao torneio.
O Mundial também terá que enfrentar os hooligans ingleses, cujo
país também já garantiu um lugar
na competição.
A lista de desavenças religiosas e
problemas mundiais preocupa os
organizadores do Mundial do
próximo ano, mas estes ainda
tentam não entrar em pânico.
"A Copa é um evento mundial,
independentemente do credo do
torcedor ou do país participante,
não importa se cristão, budista,
judeu ou muçulmano", diz Lee
Moo-young, representante da
Agência Nacional da Polícia da
Coréia do Sul.
Crise econômica
Além do medo do terrorismo, a
Copa do Mundo mais diversificada da história vai colocar em evidência a crise econômica de boa
parte de seus participantes.
Pelo ranking do risco-país, calculado pelo banco de investimentos JP Morgan, sete países que podem estar na Copa-02 estão entre
os dez mercados emergentes mais
arriscados para investimentos.
Nessa lista, aparecem justamente Argentina e Nigéria, as nações
que lideram essa nada honrosa
lista e ambas com vaga garantida
no Mundial, assim como a Rússia,
oitavo mercado mais perigoso
hoje segundo o JP Morgan.
Ainda na busca pela classificação, estão outros quatro "top ten"
do ranking do risco-país: Equador, Brasil, Ucrânia e Turquia.
Mas não é só entre os emergentes que a crise é sentida.
Os próprios organizadores passam por situação econômica
ruim. Em recessão, o Japão deve
terminar o ano com um retrocesso no seu PIB (Produto Interno
Bruto).
(PAULO COBOS)
Colaborou João Carlos Assumpção, da
Reportagem Local
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