São Paulo, domingo, 14 de outubro de 2001

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A "BATALHA" QUE O MUNDO NÃO VIU

Americanos souberam do ataque ao terror quando se preparavam para pegar a Jamaica

Guerra motiva os EUA em jogo decisivo

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DO PAINEL FC

Faltava pouco mais de uma hora para o início da partida decisiva quando Bruce Arena, 50, técnico da seleção norte-americana de futebol, reuniu seus jogadores. Naquela tarde de domingo eles teriam a missão de derrotar a seleção da Jamaica, em Foxboro, nas proximidades de Boston, na disputa por uma vaga na Copa do Mundo-02.
O que Arena, nascido no Brooklin, em Nova York, tinha a dizer não estava diretamente ligado ao futebol, mas era forte o suficiente para mexer com os atletas. Os EUA haviam acabado de bombardear o Afeganistão. A guerra começara naquele domingo, 7 de outubro de 2001.
A decisão de informar os jogadores sobre o ataque fora tomada por Arena, mesmo tendo sido ele aconselhado de que seria melhor omitir o fato até o final da partida, marcada para as 14h (15h de Brasília), afinal uma derrota acabaria com o sonho americano de ir à Copa, já que o time vinha de três reveses.
"Se nosso país pode se comprometer em torno de uma causa, nos unirmos em torno de um jogo é muito mais fácil", disse.
Deu certo. "De início foi estranho, mas coloquei as coisas em perspectiva: é apenas um jogo. Aí você vê que outras pessoas nossas estão lá, arriscando suas vidas para defender nosso país. Isso nos ajudou a relaxar", disse Claudio Reyna, 28, meia.
A batalha foi talvez a melhor partida de futebol dos EUA desde 1994. Mas apenas cerca de 35 mil norte-americanos assistiram à vitória de sua seleção por 2 a 1, com um gol aos 37min do segundo tempo. A rede ABC de televisão havia decidido cancelar a transmissão.
Os EUA foram ajudados por uma combinação de resultados impressionante, pois Trinidad e Tobago bateu Honduras, e o México empatou com a Costa Rica. "A classificação aconteceu em um momento de luto. Mas se ela não viesse, provavelmente seria a pá de cal no futebol nos EUA", disse o brasileiro Almir Santre, ex-editor da revista "Soccer Match" e comentarista esportivo em Los Angeles.
Arena resume o sentimento da seleção: "Se eu pudesse substituir a vitória pela vida das seis mil pessoas que morreram em 11 de setembro, eu faria isso".


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