São Paulo, sábado, 14 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

OLIMPÍADA

Impossibilitado de contrair dívidas, município quer verbas de outras esferas de governo e da iniciativa privada

Sem dinheiro, São Paulo tenta Jogos-2012

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

O plano de São Paulo para recepcionar os Jogos Olímpicos de 2012 tem como base a realização de melhorias na infra-estrutura do município com verbas oriundas das demais esferas de governo, organizações internacionais e também da iniciativa privada.
O município não pode realizar grandes investimentos porque está impossibilitado de contrair dívidas por dez anos, como resultado da renegociação da dívida feita pelo ex-prefeito Celso Pitta.
Ontem, a atual prefeita, Marta Suplicy (PT), oficializou a disposição de São Paulo receber a edição da Olimpíada de 2012 ao enviar carta ao Comitê Olímpico Brasileiro, conforme a Folha antecipou na última terça-feira. É a primeira vez na história que o município pleiteia receber uma Olimpíada.
Além de São Paulo, outra cidade brasileira candidata a receber os Jogos Olímpicos é o Rio, cujo grande trunfo é a realização dos Jogos Pan-Americanos em 2007.
O Comitê Olímpico Internacional define a cidade vencedora em 2005. O próximo passo acontece em abril, quando as cidades brasileiras postulantes entregam espécie de dossiê olímpico ao COB.
"É uma oportunidade de ouro para fazer um salto quantitativo e qualitativo para o povo de São Paulo. Há uma dificuldade, que é o fato de o município estar pagando suas dívidas pelos próximos dez anos. Por isso, não vai poder obter financiamentos", explica o secretário municipal do Planejamento Urbano, Jorge Wilheim.
"As pessoas perguntam de onde São Paulo vai tirar o dinheiro para realizar as obras para preparar a cidade. Quando um município vira candidato, ele muda de patamar e tem a possibilidade de obter dinheiro de organismos internacionais e com os governos federal e estadual", afirma Marta.
"Obras de infra-estrutura, como novas linhas de metrô, que naturalmente teriam o interesse do governo do Estado, ganhariam novo impulso visando os Jogos Olímpicos", acrescenta Marta.
A prefeitura afirma que pesquisas mostram que o evento olímpico se autopaga. O custo que ficaria em descoberto seria com relação à infra-estrutura da cidade.
Também há a expectativa de que a iniciativa privada participe do projeto olímpico, como na construção da Vila Olímpica, garantindo o direito de exploração do local posteriormente. Houve reunião da prefeitura com empresários atraídos pela proposta, mas a Folha apurou que o interesse destes depende da definição dos locais onde a vila seria erguida.
Para exemplificar o fato de que benefícios que transcendem o âmbito esportivo foram obtidos por cidades que recepcionaram edições dos Jogos Olímpicos, a prefeitura cita Barcelona (ESP), que foi palco da Olimpíada em 1992, e Munique (ALE), em 1972.
"Depois dos Jogos Olímpicos de 1992, o movimento do aeroporto de Barcelona saltou de 7.000 para 22 mil pessoas por dia. A cidade ganhou 4,5 quilômetros de praias e um rodoanel de 35 quilômetros. Já Munique fez em oito anos o que normalmente seria trabalho para uns 18 anos", conclui Marta.
Wilheim, que reconheceu não saber exatamente o custo de uma Olimpíada, traçou paralelo entre o que ocorrerá caso São Paulo vença a disputa e os benefícios para o dia-a-dia da população.
"Além dos ganhos em termos de equipamentos esportivos, todos os espectadores terão de chegar de trem ou metrô até os locais das competições, não será possível de carro. Os cerca de 6.000 dirigentes e árbitros serão transportados por uma via exclusiva, sem o inconveniente de semáforos."


Texto Anterior: Futebol - José Geraldo Couto: Por falar em preto-e-branco
Próximo Texto: Rio espera imparcialidade de presidente
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.