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São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 2003

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FUTEBOL

Série B também é futebol!

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Desde que Botafogo e Palmeiras caíram para a segunda divisão surgiram novos refrões: "A Série B não é fácil/ A Série B é uma pedreira/ A Série B é diferente". Com os dois primeiros eu concordo; com o último, não. Do jeito que falam por aí, parece até que nela se disputa um outro esporte que não o futebol.
Isso é resultado da velha cultura da virada de mesa para preservação dos "grandes". Se já não se tivessem movido mundos e fundos para evitar ou desfazer outros rebaixamentos, talvez encarássemos a Série B de maneira mais esportiva. Mas ela virou uma espécie de maldição, de túmulo do futebol. Pior para os times que a disputam com seriedade há tempos e sempre acreditam estar participando de um torneio, não de uma versão ludopédica do inferno.
Nas histórias de terror sobre a segunda divisão, fala-se em campos horríveis, arbitragens indecentes e botinadas impunes. Como se a Série A fosse igual a Real Madrid x Manchester... Mas, por causa dessa lenda de que a Série A é superprofissional e a Série B meio amadora, só falta os times "grandes" contratarem gladiadores para a disputa.
A Série B tem mesmo algumas diferenças, como o regulamento próprio (que infelizmente reforça a idéia de que ela não faz parte do mesmo Campeonato Brasileiro). A falta de transmissão pela TV e a queda considerável na arrecadação também complicam. Por outro lado, ela é mais competitiva: disputar o título não é só desejável, é obrigatório. Especialmente para quem acabou de cair.
O que eu não entendo é a idéia de que não adianta ter bom futebol na Série B. Para muitos, só o que conta agora é a raça, a coragem, a "pegada". Gente, será que mudamos de país?
Os times que o Palmeiras enfrenta na Segundona já cruzaram o seu caminho em Estaduais e na Copa do Brasil. Quando estava na Série A, o time alviverde sabia que podia encontrar pedreiras (rivais hipermotivados, pressão da torcida local, os tais campos ruins), mas se considerava favorito e jogava como tal porque tinha um time mais forte, atletas de qualidade, e apostava na superioridade do seu futebol para se dar bem. Não sei por que qualidade não conta mais como recurso.
Com os jogadores que tem agora, o Palmeiras ainda pode jogar direitinho. Pode até jogar bem (no Barradão, jogou). Mas isso não devia ser uma possibilidade; deveria ser ponto pacífico. Antes mesmo de entrar em campo, o Palmeiras já é o derrotado, o humilhado, o desesperado; o time precisa muito de confiança, e a presença de alguns bons nomes poderia trazê-la de volta.
A diretoria não precisaria fazer loucuras, mas deveria ter planejado a equipe como uma das potências da Série B -o time forte, o time a ser batido. Poderia até não dar certo (sempre pode), mas a consciência estaria tranquila, com a certeza de que "fizemos o que tinha de ser feito". A torcida (que já aplaudiu o time em uma eliminação da Libertadores, naquele 5 x 1 contra o Grêmio) saberia reconhecer o esforço.

Esculacha não!
Nessa crise medonha, torcedores de outros times vêm dizer que o Palmeiras só voltou ao normal e que a era vitoriosa da parceria com a Parmalat tinha sido uma ilusão. Pera lá, antes da fila o Palmeiras já tinha uma história de muitas glórias. Ignorar essa parte é tão injusto quanto pensar que o Santos vive hoje um momento inédito...

Não resolve
Não é só um problema do futebol, mas do nosso mundo de hoje: acredita-se que partir para a agressão é a melhor forma de impor respeito. É uma pena. O jogo de ontem poderia ter sido bem melhor se o Corinthians não tivesse entrado com tamanha sanha e descontrole. O que não gosto de ver nos outros, também não gosto nos nossos.

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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