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FUTEBOL
Série B também é futebol!
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Desde que Botafogo e Palmeiras caíram para a segunda divisão surgiram novos refrões: "A Série B não é fácil/ A Série B é uma pedreira/ A Série B é
diferente". Com os dois primeiros
eu concordo; com o último, não.
Do jeito que falam por aí, parece
até que nela se disputa um outro
esporte que não o futebol.
Isso é resultado da velha cultura
da virada de mesa para preservação dos "grandes". Se já não se tivessem movido mundos e fundos
para evitar ou desfazer outros rebaixamentos, talvez encarássemos a Série B de maneira mais esportiva. Mas ela virou uma espécie de maldição, de túmulo do futebol. Pior para os times que a disputam com seriedade há tempos e
sempre acreditam estar participando de um torneio, não de uma
versão ludopédica do inferno.
Nas histórias de terror sobre a
segunda divisão, fala-se em campos horríveis, arbitragens indecentes e botinadas impunes. Como se a Série A fosse igual a Real
Madrid x Manchester... Mas, por
causa dessa lenda de que a Série
A é superprofissional e a Série B
meio amadora, só falta os times
"grandes" contratarem gladiadores para a disputa.
A Série B tem mesmo algumas
diferenças, como o regulamento
próprio (que infelizmente reforça
a idéia de que ela não faz parte do
mesmo Campeonato Brasileiro).
A falta de transmissão pela TV e a
queda considerável na arrecadação também complicam. Por outro lado, ela é mais competitiva:
disputar o título não é só desejável, é obrigatório. Especialmente
para quem acabou de cair.
O que eu não entendo é a idéia
de que não adianta ter bom futebol na Série B. Para muitos, só o
que conta agora é a raça, a coragem, a "pegada". Gente, será que
mudamos de país?
Os times que o Palmeiras enfrenta na Segundona já cruzaram
o seu caminho em Estaduais e na
Copa do Brasil. Quando estava
na Série A, o time alviverde sabia
que podia encontrar pedreiras
(rivais hipermotivados, pressão
da torcida local, os tais campos
ruins), mas se considerava favorito e jogava como tal porque tinha
um time mais forte, atletas de
qualidade, e apostava na superioridade do seu futebol para se dar
bem. Não sei por que qualidade
não conta mais como recurso.
Com os jogadores que tem agora, o Palmeiras ainda pode jogar
direitinho. Pode até jogar bem
(no Barradão, jogou). Mas isso
não devia ser uma possibilidade;
deveria ser ponto pacífico. Antes
mesmo de entrar em campo, o
Palmeiras já é o derrotado, o humilhado, o desesperado; o time
precisa muito de confiança, e a
presença de alguns bons nomes
poderia trazê-la de volta.
A diretoria não precisaria fazer
loucuras, mas deveria ter planejado a equipe como uma das potências da Série B -o time forte, o time a ser batido. Poderia até não
dar certo (sempre pode), mas a
consciência estaria tranquila,
com a certeza de que "fizemos o
que tinha de ser feito". A torcida
(que já aplaudiu o time em uma
eliminação da Libertadores, naquele 5 x 1 contra o Grêmio) saberia reconhecer o esforço.
Esculacha não!
Nessa crise medonha, torcedores de outros times vêm dizer
que o Palmeiras só voltou ao
normal e que a era vitoriosa da
parceria com a Parmalat tinha
sido uma ilusão. Pera lá, antes
da fila o Palmeiras já tinha uma
história de muitas glórias. Ignorar essa parte é tão injusto
quanto pensar que o Santos vive hoje um momento inédito...
Não resolve
Não é só um problema do futebol, mas do nosso mundo de
hoje: acredita-se que partir para
a agressão é a melhor forma de
impor respeito. É uma pena. O
jogo de ontem poderia ter sido
bem melhor se o Corinthians
não tivesse entrado com tamanha sanha e descontrole. O que
não gosto de ver nos outros,
também não gosto nos nossos.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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