São Paulo, sábado, 15 de maio de 2004

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FUTEBOL

A fonte da juventude

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

"Velho é quem tem 20 anos a mais que eu."
Não me lembro de quem é a definição, mas ela me veio à mente quando li a reportagem de Diogo Pinheiro, publicada neste caderno, a respeito da volta de Careca ao futebol profissional, aos 43 anos de idade.
Ao inusitado da notícia somou-se, no meu caso, a surpresa de constatar que o ex-jogador (que agora vai deixar de ser "ex") tem "só" 43 anos.
O cineasta Ugo Giorgetti conta que sua primeira motivação para fazer o filme "Boleiros" foi um episódio prosaico. Nos anos 80, convidado para dirigir um comercial que demandaria a assessoria técnica de um ex-jogador, Giorgetti recebeu de alguém a sugestão de procurar "o veterano Basílio", que tinha sido o herói do título corintiano de 1977.
Quando o boleiro chegou ao estúdio, o cineasta levou um susto. "Vi diante de mim um rapaz de 30 e poucos anos, magrinho, cheio de saúde", lembra o diretor. No entanto, já pesava sobre ele o estigma de "veterano". Seu tempo havia passado. Apenas seis ou sete anos antes ele havia levado ao delírio quase cem mil no Morumbi. Agora era quase um anônimo.
Com Careca, guardadas as proporções, acontece algo parecido. Tem 43 anos. Mas parece que faz um século que ele despontou para a fama, naquele espetacular Guarani que venceu o Brasileiro de 1978. É que Careca tinha então tenros 17 anos. Depois disso brilhou no São Paulo, disputou duas Copas do Mundo (86 e 90) e formou com Maradona uma dupla infernal no Napoli.
Às vésperas da Copa de 94, o artilheiro pediu dispensa da seleção brasileira, alegando estar fora de forma física e técnica, embora fosse titular do time de Parreira. Abriu caminho, assim, para a entrada salvadora de Romário.
Depois de tudo isso, Careca criou com o amigo Edmar (outro ex-centroavante) o clube Campinas e foi cuidar da sua vida. Agora está de volta aos campos, na quinta divisão paulista, vestindo a camisa de seu próprio clube.
Confesso que não costumo acompanhar a série B-2 paulista, mas em qualquer "jogo de campeonato", mesmo de várzea, um homem de 43 anos tem de pelejar muito para acompanhar o ritmo e a força dos garotões de 20.
Mas Careca não é um homem qualquer. Tenho muita curiosidade de saber como ele vai se sair nessa nova e desafiadora etapa de sua vida.
Fico pensando: será que vão dar essa notícia a Maradona? Se derem, das duas uma: ou o ídolo argentino verá no exemplo do amigo brasileiro uma razão para lutar pela recuperação, ou então cairá de vez na depressão, ao contemplar "a vida que poderia ter sido" e que ele deixou escapar pelos vãos dos dedos.
Pois não tenho dúvida de que Maradona, se pudesse, trocaria grande parte de sua fortuna (ou toda ela) pelo prazer de voltar a correr atrás de uma bola, fazer com ela alguns prodígios e arrancar aplausos da torcida, mesmo que fosse a modesta torcida de um jogo da quinta divisão.

Confronto em Minas
O jogo mais atraente da rodada, a meu ver, é Cruzeiro x Palmeiras. Um é o atual campeão brasileiro, o outro acabou de voltar da Série B. Mas o Cruzeiro entra em campo abatido pela eliminação da Libertadores, torneio que era sua prioridade neste ano, diante do Deportivo Cali. O Palmeiras vem subindo no Brasileiro e segue firme na Copa do Brasil. O Cruzeiro ainda tem mais time, mas o "fator humano" pesa, hoje, a favor da equipe alviverde.

Presepeiro eficaz
Rogério Ceni pode ser um presepeiro, como diz o Marcos Augusto Gonçalves, mas não é qualquer um que pega dois pênaltis e ainda marca o seu num jogo decisivo de Libertadores. Ah, um presepeiro desses no meu time...

E-mail: jgcouto@uol.com.br


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