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FUTEBOL
A fonte da juventude
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
"Velho é quem tem 20 anos
a mais que eu."
Não me lembro de quem é a definição, mas ela me veio à mente
quando li a reportagem de Diogo
Pinheiro, publicada neste caderno, a respeito da volta de Careca
ao futebol profissional, aos 43
anos de idade.
Ao inusitado da notícia somou-se, no meu caso, a surpresa de
constatar que o ex-jogador (que
agora vai deixar de ser "ex") tem
"só" 43 anos.
O cineasta Ugo Giorgetti conta
que sua primeira motivação para
fazer o filme "Boleiros" foi um
episódio prosaico. Nos anos 80,
convidado para dirigir um comercial que demandaria a assessoria técnica de um ex-jogador,
Giorgetti recebeu de alguém a sugestão de procurar "o veterano
Basílio", que tinha sido o herói do
título corintiano de 1977.
Quando o boleiro chegou ao estúdio, o cineasta levou um susto.
"Vi diante de mim um rapaz de
30 e poucos anos, magrinho, cheio
de saúde", lembra o diretor. No
entanto, já pesava sobre ele o estigma de "veterano". Seu tempo
havia passado. Apenas seis ou sete anos antes ele havia levado ao
delírio quase cem mil no Morumbi. Agora era quase um anônimo.
Com Careca, guardadas as proporções, acontece algo parecido.
Tem 43 anos. Mas parece que faz
um século que ele despontou para
a fama, naquele espetacular Guarani que venceu o Brasileiro de
1978. É que Careca tinha então
tenros 17 anos. Depois disso brilhou no São Paulo, disputou duas
Copas do Mundo (86 e 90) e formou com Maradona uma dupla
infernal no Napoli.
Às vésperas da Copa de 94, o artilheiro pediu dispensa da seleção
brasileira, alegando estar fora de
forma física e técnica, embora fosse titular do time de Parreira.
Abriu caminho, assim, para a entrada salvadora de Romário.
Depois de tudo isso, Careca
criou com o amigo Edmar (outro
ex-centroavante) o clube Campinas e foi cuidar da sua vida. Agora está de volta aos campos, na
quinta divisão paulista, vestindo
a camisa de seu próprio clube.
Confesso que não costumo
acompanhar a série B-2 paulista,
mas em qualquer "jogo de campeonato", mesmo de várzea, um
homem de 43 anos tem de pelejar
muito para acompanhar o ritmo
e a força dos garotões de 20.
Mas Careca não é um homem
qualquer. Tenho muita curiosidade de saber como ele vai se sair
nessa nova e desafiadora etapa de
sua vida.
Fico pensando: será que vão dar
essa notícia a Maradona? Se derem, das duas uma: ou o ídolo argentino verá no exemplo do amigo brasileiro uma razão para lutar pela recuperação, ou então
cairá de vez na depressão, ao contemplar "a vida que poderia ter
sido" e que ele deixou escapar pelos vãos dos dedos.
Pois não tenho dúvida de que
Maradona, se pudesse, trocaria
grande parte de sua fortuna (ou
toda ela) pelo prazer de voltar a
correr atrás de uma bola, fazer
com ela alguns prodígios e arrancar aplausos da torcida, mesmo
que fosse a modesta torcida de
um jogo da quinta divisão.
Confronto em Minas
O jogo mais atraente da rodada,
a meu ver, é Cruzeiro x Palmeiras. Um é o atual campeão brasileiro, o outro acabou de voltar
da Série B. Mas o Cruzeiro entra em campo abatido pela eliminação da Libertadores, torneio que era sua prioridade
neste ano, diante do Deportivo
Cali. O Palmeiras vem subindo
no Brasileiro e segue firme na
Copa do Brasil. O Cruzeiro ainda tem mais time, mas o "fator
humano" pesa, hoje, a favor da
equipe alviverde.
Presepeiro eficaz
Rogério Ceni pode ser um presepeiro, como diz o Marcos Augusto Gonçalves, mas não é
qualquer um que pega dois pênaltis e ainda marca o seu num
jogo decisivo de Libertadores. Ah, um presepeiro desses no
meu time...
E-mail: jgcouto@uol.com.br
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