São Paulo, sábado, 15 de maio de 1999

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Fiel faz do Corinthians um show permanente

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

Alguns leitores queixam-se de que a Folha e seus colunistas dão espaço exagerado ao Corinthians, em comparação com os outros clubes. Pode até ser verdade.
Se isso acontece, uma explicação plausível seria a de que se trata do clube que tem a maior torcida do Estado e a segunda maior do país. Mas desconfio que, pelo menos do ponto de vista dos colunistas, há também outra razão: o Corinthians oferece mais lances dramáticos e até patéticos.
Não falo apenas do que o time faz dentro de campo, como a inesquecível batalha de quarta-feira passada contra o Palmeiras, mas também de seus bastidores.
A alta voltagem emocional que envolve o clube do Parque São Jorge se deve, sem nenhuma dúvida, a sua relação umbilical com a torcida. Para o bem ou para o mal, a Fiel não é apenas uma torcida, é um fenômeno social que engolfa o clube e torna reféns sua direção e seus jogadores.
Basta ver o que aconteceu nas últimas semanas: primeiro, a torcida alvinegra derrubou o técnico, depois o goleiro.
Quer dizer: a mesma massa humana capaz de incendiar o estádio do Morumbi e empurrar o time a uma vitória heróica sobre o arqui-rival Palmeiras (depois revertida nos pênaltis) é capaz também de invadir o vestiário para tomar satisfações do treinador e de crucificar o mesmo goleiro que no ano passado era carregado nos ombros como herói.
Para ser fiel ao clube, a torcida corintiana frequentemente é infiel a seus ídolos -que o digam Nei, Neto, Souza, Ronaldo, Mirandinha, Rivellino. Todos eles foram em algum momento incensados e depois execrados pela Fiel.

Corre por aí a seguinte piada, espalhada certamente por palmeirenses: a diretoria do Corinthians finalmente se decidiu. Vai dar prioridade total ao Paulistão.
Aliás, uma diretoria que age como refém da torcida (me pergunto se poderia ser diferente) não tem condições de priorizar nada, pois o time é obrigado a vencer sempre, nem que seja um amistoso. Parece que há uma permanente ameaça de linchamento pairando no ar.

O Corinthians foi eliminado da Libertadores pelo acaso dos pênaltis, mas ninguém negará que o Palmeiras é um time mais sólido e competitivo para ir em busca da taça.
Locutores de TV já começaram com aquela lenga-lenga de que agora "o Palmeiras é o Brasil na Libertadores". Mas é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um corintiano torcer pelo Palmeiras. E vice-versa.
Quem gosta de futebol e de cinema tem uma boa opção neste mês em São Paulo.
Até o próximo dia 28, o Espaço Unibanco de Cinema estará exibindo, sempre às 18h, uma sessão com quatro curtas-metragens em torno do futebol: "Barbosa", de Ana Luiza Azevedo e Jorge Furtado, "Uma História de Futebol", de Paulo Machline (com roteiro do nosso amigo Torero), "Cartão Vermelho", de Laís Bodansky, e "Decisão", de Leia Hipólito.
Todos eles são bons -e a entrada é franca.

E-mail jgcouto@uol.com.br ˛
José Geraldo Couto escreve às segundas-feiras e aos sábados



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