São Paulo, sábado, 15 de junho de 2002

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Saudade é sentimento em preto-e-branco

WASHINGTON OLIVETTO

A segunda semana do Mundial trouxe boas lembranças para a comunidade alvinegra, formada por gente que normalmente alia cultura superior a memória privilegiada.
Assim, na partida entre Inglaterra e Argentina, vendo as atuações de Michael Owen, David Beckham e Trevor Sinclair, pudemos nos recordar de Charles W. Miller, J. G. Veitch e N. F. Shaw, astros do fabuloso Corinthian Football Club de 1892.
Já na panificadora, digo, avassaladora vitória de Portugal sobre a Polônia, o artilheiro Pauleta foi um verdadeiro Manuelzinho, atacante que honrou a camisa alvinegra entre 1961 e 1965 ao lado de craques como Aldo, Augusto, Eduardo, Amaro, Ari Clemente, Oreco, Ferreirinha, Cassio, Espanhol, Silva, Rafael, Adilson, Nei, Lima e Gelson.
Astros de primeira grandeza, capazes de influenciar novas gerações e motivar seus contemporâneos para que atingissem patamares maiores. É o caso de Nei, Espanhol e Oreco. Nei, o Nei de Oliveira, é o pai do campeão do Mundial de Clubes da Fifa Dinei. Espanhol, o ponta-direita, foi o precursor da fúria espanhola, uma espécie de Raúl, Morientes e Hierro reunidos numa só pessoa. E Oreco, o gaúcho do parque, foi a alternativa discreta, mas ameaçadora, da seleção de 1958 para a posição de Nilton Santos. A presença de Oreco entre os selecionados fez com que Nilton se superasse - a ponto de um dia ter sido considerado a Enciclopédia do Futebol. Pois bem: se Nilton foi a Enciclopédia, Oreco foi a Bíblia.
Mas, voltando aos destaques do Mundial, a Alemanha, com seu impecável uniforme alvinegro, mais uma vez repetiu a tradição de derrotar as equipes vestidas de verde, eliminando Camarões.
Por outro lado, ainda no quesito cores, quem não teve sorte foi a França, que, trajando um azul parecido com o do São Caetano, mostrou que só consegue ser um time realmente competitivo quando joga em seu campo, coisa que ocorre também com a simpática agremiação do ABC paulista.
Destaque na partida da França contra a Dinamarca para Zidane, que, atuando com uma perna só, lembrou Sócrates jogando machucado contra o Flamengo no dia 6 de maio de 1984. A única diferença é que a equipe de Zidane perdeu de 2 a 0, enquanto a de Sócrates venceu por 4 a 1.
Destaque também para a classificação do México, da Itália e, principalmente, da Suécia, que jogou um partidão contra a Argentina, tendo até um gol de falta de Anders Svensson que foi digno de um Roberto Rivellino, Neto ou Marcelinho Carioca.
Quanto ao Brasil, a classificação foi boa, mas o futebol foi ruim. No jogo contra a Costa Rica, Felipão errou não escalando Ricardinho, mas acertou substituindo Juninho. Espero que nas oitavas ele escale Dida, Cafu, Lúcio, Roque Júnior, Roberto Carlos, Gilberto Silva, Vampeta, Ricardinho, Ronaldinho, Ronaldo e Rivaldo. Sei que não é tão bom quanto Dida, Rogério, Anderson, Fábio Luciano, Kléber, Fabrício, Vampeta, Ricardinho, Deivid, Leandro e Gil, mas é o que ele tem de melhor. Triste constatar esse fato, mas vou deixar pra lá, já que hoje não é dia de tristeza, é dia de saudades.
A Copa tem sido pródiga em alimentar esse sentimento que faz parte da alma do brasileiro e que gerou essa palavra única do vocabulário mundial.
Até mesmo as arbitragens -como as de Pierluigi Collina, considerado hoje o melhor árbitro do mundo- trazem boas recordações para aqueles que apreciam o futebol a ponto de admirar até mesmo os juízes.
Muitas vezes perseguidos, esses abnegados profissionais do apito são parte fundamental do espetáculo. Como o inesquecível Javier Castrilli, que um dia foi o melhor do mundo. Mais precisamente no dia 26 de abril de 1998.


Washington Olivetto, publicitário sempre (e cronista esportivo eventual), acha as cores do uniforme do XV de Piracicaba lindas


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