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FUTEBOL
O dia em que o geraldino se deu bem
MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA
Acabaram, noutro dia, com
a geral do Maracanã. O Juca
Kfouri não achou ruim, já que
considera um abuso submeter o
torcedor a um espaço de onde mal
se consegue ver o jogo. O José Geraldo Couto foi contra: diz que
botaram os geraldinos não apenas para fora do seu território,
mas do estádio, por falta de grana
para ingressos mais caros.
Desconfio que os dois têm razão. A geral era expressão de segregação social. Quase ao nível do
campo, inexistia noção de profundidade para quem assistia à
partida dali. Os jogadores pareciam estar na mesma linha, como
no pebolim (denominação paulistana), totó (carioca) ou Fla-Flu
(porto-alegrense, quem diria).
Não é a mesma coisa que ir ao
Teatro Municipal, a 15 minutos
do Maracanã. A galeria, setor distante do palco, é a opção mais barata para quem não pode encarar
uma poltrona na platéia ou no
balcão nobre. Mas não se perdem
de vista os movimentos dos bailarinos. Na geral, se perdia, mesmo
quando uma concretada elevou
o piso.
Os geraldinos foram bons para
o Canal 100 e para os artilheiros
comemorarem seus gols com a
torcida. Quem mais exaltava a
"originalidade" dos geraldinos
não queria saber de acompanhar
jogo lá de baixo.
O que seria para aplaudir -o
fim do apartheid da geral- talvez não seja. Porque livraram os
geraldinos do buraco, mas nada
ofereceram em troca. A não ser
promoções demagógicas, com
fundos do Estado, de entrada a
R$ 1.
Foi como se anunciassem na
África do Sul de ontem: os negros
não estão mais condenados ao
curralzinho do fundão do ônibus;
agora, não podem nem mais entrar nos ônibus. Agitam-se prisões
na Daslu, mas se presenteia a
banca com lucros pornôs.
Para não elitizar ainda mais o
público, parte da arquibancada
ou das cadeiras deveria ter preços
de geral. Mas não duvido de que
haja quem sonhe com o fim da geral como a solução final para os
geraldinos: o olho da rua.
Só fui uma vez à geral do Maracanã. Tão desagradável quanto
ver mal é ficar o tempo todo de pé.
Assim fiquei na única incursão
na geral do Morumbi. A trabalho,
na decisão da Libertadores-92 entre São Paulo e Newell's.
Quis contar como seria ver, de
baixo, o time dos de cima, o clube
da elite. Nos pênaltis, os fotógrafos taparam a visão de quem estava atrás do gol. Na geral, esperava-se que arquibancadas e numeradas se manifestassem para saber se a bola fora boa ou não. Não
viram a defesa do Zetti.
Para celebrar o título, contudo,
quem invadiu o campo foram os
geraldinos. Invadi junto. Um deles abriu a bandeira são-paulina,
deitou-se sobre ela, cruzou as pernas, acendeu um cigarro e pediu:
"Apaguem as luzes, que eu quero
dormir".
Naquela noite, não sei se o Telê
dormiu. Dez anos depois do Sarriá, o gênio triunfava. E quem festejou ao seu lado, ali no campo,
não foram os de cima, mas os de
baixo, pois a hora dos geraldinos
chegara.
No dos outros
Em 92, o presidente são-paulino era José Eduardo Pimenta.
Anos depois, a torcida brindou-o com gritos de "Pimenta,
ladrão, São Paulo campeão".
Ele reputa injusto o coro. Registro: na gravação que custou a
carreira de Pimenta como cartola, feita por um empresário,
as instruções para o uso do gravador oculto foram passadas
por um jogador do clube.
Pingüim
Jogador em fase ruim vai para o
banco. Técnico é demitido. Por
que o árbitro Wagner Tardelli,
de desastradas atuações, ainda
não foi para a geladeira?
Fair play
Para não restar dúvidas: esta
coluna foi escrita antes da decisão de ontem da Libertadores.
E-mail
mario.magalhaes@uol.com.br
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