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São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 2003

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Secretária nacional de alto rendimento reivindica a ministro revisão de políticas para o esporte

Paula cobra autonomia e ataca elitismo do chefe

FÁBIO VICTOR
DO PAINEL FC

Os secretários do Ministério do Esporte não têm autonomia e estão angustiados. A política do governo Lula para o setor privilegia confederações e atletas de ponta em detrimento do investimento na base. É necessária uma revisão de critérios na distribuição das verbas públicas para o esporte.
As críticas à condução da política esportiva do país na gestão de Agnelo Queiroz (PC do B) não são de tucanos ou pefelistas. Vêm da própria Esplanada dos Ministérios, mais precisamente de dentro da pasta que Queiroz conduz há dez meses. A autora é a funcionária mais famosa do órgão, a ex-jogadora Paula, 41, secretária nacional de esporte de alto rendimento.
"Estou reivindicando coisas que são angústias de muitas pessoas aqui dentro [do ministério]. Nós, os secretários, precisamos ter mais autonomia. Vim aqui para trabalhar, não vim para brincar, para morar em Brasília. Vim para ver as coisas acontecerem e quero que as pessoas confiem na gente. Vou lutar até a hora em que eu achar que não tem mais jeito", afirmou Paula à Folha.
Há três secretarias no ministério: além da de Paula, as de Esporte Educacional (Orlando Júnior) e Desenvolvimento de Esporte e de Lazer (Lino Castellani Filho). Os titulares se queixam que a secretaria-executiva da pasta centraliza, sem diálogo, as decisões sobre projetos e verbas. A crise causou a queda do secretário-executivo Gil Castelo Branco, cuja exoneração será publicada hoje.
Segundo a Folha apurou, nos últimos dias Paula cogitou deixar o cargo, mas resolveu levar suas queixas a Queiroz e aguardar para ver se elas surtiriam efeito.
Outro incômodo da ex-jogadora é quanto à política do ministério para os esportes olímpicos.
Embora a sua secretaria seja responsável pelo alto rendimento (modalidades que objetivam resultados e performance), Paula defende que os recursos do governo para essa área não fiquem concentrados nas mãos de confederações e atletas de renome, que já têm patrocínios próprios.
Neste ano, a verba pública destinada ao Comitê Olímpico Brasileiro, proveniente da Lei Piva (que destina 2% da arrecadação de loterias federais ao esporte), deverá superar o orçamento do ministério, de R$ 43,1 milhões.
Ainda assim, Queiroz acena com mais dinheiro para o COB ao defender, por exemplo, que a verba do esporte educacional da Lei Piva (15% do que o comitê recebe) vá para a construção de um instituto para formar treinadores.
"Não dá para a gente aqui investir nossos poucos recursos numa confederação que tem patrocínio estatal, que tem a Lei Piva, enquanto o primo pobre não tem nada", criticou Paula.
"O que a Lei Piva aporta para outros esportes é maior do que temos para todos os nossos projetos. O que eles têm não está bom, mas a grana que teria que focar no atleta não está indo, o problema continua. A verba da Lei Piva favorece as confederações, para pagar despesas. E o atleta segue nessa insegurança, sem patrocínio. Temos de ter critérios diferentes."
A secretária também viu de forma atravessada o empenho do ministério para obter patrocínios de estatais a confederações, como o da Eletrobrás à CBB (basquete), entidade cuja administração é contestada pela ex-atleta.
A cobrança de hoje é a mesma feita na véspera de assumir o cargo, em maio. Disse Paula na ocasião: "As confederações têm de formar atletas. Várias delas empregam o dinheiro que recebem da Lei Piva apenas em competições, mas não acho certo esse dinheiro pagar só bilhete aéreo e estadia. Vou cobrar contrapartida".
Embora aparentemente nada tenha mudado em cinco meses, Paula -que antes de ir para Brasília era administradora do Centro Olímpico do Ibirapuera, da Prefeitura de São Paulo- disse não ter conversado ainda com Queiroz sobre suas angústias.
"Não, não tive tempo ainda. Vou conversar com ele, claro. Mas ele sabe de tudo isso."

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