São Paulo, quarta-feira, 15 de novembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

No Mundial, Brasil testa 1º ciclo da era Ricardinho

Levantador "roubou" a posição em 2002, quando seleção obteve título inédito

Bernardinho o aponta como diferencial do time, mas pede dedicação à defesa e ao bloqueio na busca por outro ouro a partir de sexta

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM

Roubar a posição de Maurício, titular durante 13 anos, parecia impossível. Manter a equipe em um nível praticamente inatingível também.
Parecia. Hoje intocável, Ricardinho, 30, estréia na sexta-feira, contra Cuba, com a favorita seleção brasileira de vôlei em busca de seu primeiro título mundial "completo".
Em 2002, depois de cinco anos no banco, o levantador foi chamado à quadra nas semifinais e mudou a história do jogo.
Na Argentina, o Brasil conquistou pela primeira vez um Mundial, e ele começou, enfim, a ganhar a vaga de titular.
"Não só o Bernardinho, mas o Brasil todo, me enxergou de outra forma. As pessoas viram realmente que eu podia pegar a posição do Maurício. Foi em 2002 que tudo começou a mudar para mim", diz ele, dono da posição na campanha do ouro olímpico em Atenas-2004.
Ricardinho se encaixa perfeitamente no espírito "operário" pregado por Bernardinho. É perfeccionista, dedica-se aos treinos e cobra isso dos companheiros. Tem a faixa de capitão.
"Ele levou este time a um patamar que talvez ninguém esperasse. É um dos responsáveis por essa grande ascensão que diz respeito à criatividade e à velocidade com que a equipe joga", elogia o treinador, que ainda cobra do pupilo. "Espero que, com a mesma intensidade com que ele se dedicou a ser um levantador cada vez melhor, dedique-se a bloquear e a defender", diz Bernardinho.
Ricardinho teve o primeiro contato com o vôlei aos 9 anos. Após retirar um tumor benigno do fêmur, foi aconselhado pelos médicos a praticar esporte.
Seu irmão, que era levantador do Banespa, convenceu o técnico a deixar o garoto acompanhar os treinamentos.
"Eu ficava brincando, aprendendo com os outros", diz.
Mesmo com a vasta experiência, Ricardinho ainda sofre com as imposições da profissão. Ficar longe da família -é pai de duas filhas- é um problema. Perder também.
"A distância às vezes me faz ficar de mau humor. Há dias em que não quero falar com ninguém, me tranco no quarto."
O mesmo acontece quando o resultado não é favorável. O levantador diz que fica "acabado" sempre que perde, até pelo Campeonato Italiano, no qual defende o Modena. Quando chega em casa, faz o mesmo que na concentração. Tranca-se no quarto até descobrir o que aconteceu de errado no jogo.
Apesar dessa dificuldade para assimilar as derrotas, Ricardinho não acredita que o Brasil tenha a obrigação de conquistar o bicampeonato mundial no Japão. Mas diz que ficar fora da final seria um resultado ruim para o time. "A equipe tem que ter tranqüilidade. Mas, se a gente perder, ninguém vai ficar sem um braço ou uma perna. Pode acontecer", afirma.
"O que eu sempre digo é que a gente tem que treinar mais que todo mundo, se preparar mais que todo mundo. Se a gente trabalhar mais que os outros, não tem por que não vencer."


Texto Anterior: Tostão: Mais que um bom time
Próximo Texto: Internet limitada faz equipe sofrer
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.