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No Mundial, Brasil testa 1º ciclo da era Ricardinho
Levantador "roubou" a posição em 2002, quando seleção obteve título inédito
Bernardinho o aponta como diferencial do time, mas pede dedicação à defesa e ao bloqueio na busca por outro ouro a partir de sexta
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM
Roubar a posição de Maurício, titular durante 13 anos, parecia impossível. Manter a
equipe em um nível praticamente inatingível também.
Parecia. Hoje intocável, Ricardinho, 30, estréia na sexta-feira, contra Cuba, com a favorita seleção brasileira de vôlei
em busca de seu primeiro título
mundial "completo".
Em 2002, depois de cinco
anos no banco, o levantador foi
chamado à quadra nas semifinais e mudou a história do jogo.
Na Argentina, o Brasil conquistou pela primeira vez um
Mundial, e ele começou, enfim,
a ganhar a vaga de titular.
"Não só o Bernardinho, mas
o Brasil todo, me enxergou de
outra forma. As pessoas viram
realmente que eu podia pegar a
posição do Maurício. Foi em
2002 que tudo começou a mudar para mim", diz ele, dono da
posição na campanha do ouro
olímpico em Atenas-2004.
Ricardinho se encaixa perfeitamente no espírito "operário"
pregado por Bernardinho. É
perfeccionista, dedica-se aos
treinos e cobra isso dos companheiros. Tem a faixa de capitão.
"Ele levou este time a um patamar que talvez ninguém esperasse. É um dos responsáveis
por essa grande ascensão que
diz respeito à criatividade e à
velocidade com que a equipe joga", elogia o treinador, que ainda cobra do pupilo. "Espero
que, com a mesma intensidade
com que ele se dedicou a ser um
levantador cada vez melhor,
dedique-se a bloquear e a defender", diz Bernardinho.
Ricardinho teve o primeiro
contato com o vôlei aos 9 anos.
Após retirar um tumor benigno
do fêmur, foi aconselhado pelos
médicos a praticar esporte.
Seu irmão, que era levantador do Banespa, convenceu o
técnico a deixar o garoto acompanhar os treinamentos.
"Eu ficava brincando, aprendendo com os outros", diz.
Mesmo com a vasta experiência, Ricardinho ainda sofre
com as imposições da profissão. Ficar longe da família -é
pai de duas filhas- é um problema. Perder também.
"A distância às vezes me faz
ficar de mau humor. Há dias em
que não quero falar com ninguém, me tranco no quarto."
O mesmo acontece quando o
resultado não é favorável. O levantador diz que fica "acabado"
sempre que perde, até pelo
Campeonato Italiano, no qual
defende o Modena. Quando
chega em casa, faz o mesmo que
na concentração. Tranca-se no
quarto até descobrir o que
aconteceu de errado no jogo.
Apesar dessa dificuldade para assimilar as derrotas, Ricardinho não acredita que o Brasil
tenha a obrigação de conquistar o bicampeonato mundial no
Japão. Mas diz que ficar fora da
final seria um resultado ruim
para o time. "A equipe tem que
ter tranqüilidade. Mas, se a
gente perder, ninguém vai ficar
sem um braço ou uma perna.
Pode acontecer", afirma.
"O que eu sempre digo é que a
gente tem que treinar mais que
todo mundo, se preparar mais
que todo mundo. Se a gente trabalhar mais que os outros, não
tem por que não vencer."
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