São Paulo, sexta-feira, 16 de janeiro de 2004

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BOXE

Tiro no pé

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

Pela primeira vez nos últimos 29 anos, os médios-ligeiros terão um único campeão unificado.
Mas o assunto do momento é mesmo a investigação do FBI (polícia federal norte-americana) na Top Rank, empresa de Bob Arum (na semana passada, o FBI recolheu material daquela firma). Todos nos EUA só falam sobre isso.
Tanto que durante teleconferência nesta semana para promover a unificação entre os médios-ligeiros Shane Mosley, dono dos cinturões do CMB e da AMB, e "Winky" Wright, campeão pela FIB, grande parte das perguntas girou em torno da investigação.
É que, como a luta mais polêmica organizada pela Top Rank recentemente foi a entre Mosley e Oscar de la Hoya, estrela daquela organização, o "New York Daily News" publicou que foi aquele combate que suscitou a ação do FBI, pois haveria suspeita de que o resultado teria sido armado.
E não é para menos que as pessoas fazem tal ligação. De la Hoya, derrotado, ameaçou financiar a sua própria investigação. Arum acrescentou que houve irregularidades e que, por conta delas, estaria se aposentando. Mas nenhum dos dois cumpriu sua promessa.
Por conta disso, durante a teleconferência, da qual esta coluna participou, as questões estritamente esportivas, sobre preparação, previsões de resultado etc., perderam espaço para perguntas sobre a tal investigação do FBI.
"Mosley, como a investigação do FBI afeta sua concentração [para a unificação com Wright]? Como você sente com relação a essa situação?", perguntavam.
Mosley disparava respostas-padrão, como por exemplo "[a investigação] não me afeta em nada, pois as informações [de que a luta com De la Hoya foi armada] são falsas. O que interessa é que minha preparação está boa".
Em certo momento, um exasperado Gary Shaw, promotor de Mosley, interveio e requisitou, repetidas vezes, que as questões ficassem limitadas ao combate.
"Não há alegação de que a luta com De la Hoya foi armada. Repito, não existe tal alegação. Apenas uma matéria do "New York Daily News". Ninguém do FBI veio conversar comigo, com Mosley ou com a nossa equipe. Perguntem sobre a luta com Wright."
Seu pedido foi ignorado, caiu em ouvidos surdos -apesar de sua argumentação lógica (se alguém tivesse de ser investigado em caso de suspeita por causa da luta De la Hoya-Mosley, teria de ser Shaw, e não Arum). No final, até mesmo Shaw se curvou à curiosidade dos jornalistas e teceu comentários sobre o assunto.
"De la Hoya pediu investigação, mas não pôs em prática a idéia. Mas agora com a investigação na Top Rank, acho que cai bem o ditado "cuidado com seus desejos, eles podem se realizar", disse.
"Espero que o FBI faça uma investigação profunda e que disso saia algo de bom para o esporte e para os atletas", finalizou Shaw.
Os federais devem mesmo estar loucos para pegar alguém do mundo do boxe. Eles foram "surrados" uma vez por Don "Only in America" King, arqui-rival de Arum. E também perderam a "revanche" para o famigerado promotor de cabelos arrepiados.

Brasil 1
Seis brasileiros do time de vale-tudo Brazilian Top Team participam dos dois eventos do Pride que ocorrem em fevereiro: Rodrigo ""Minotauro" Nogueira, Zé Mário Sperry e Ricardo Arona, no dia primeiro, e Carlão Barreto, Murilo Bustamante e Fabiano Caponi, no dia 15.

Brasil 2
A polêmica criada em torno de Eder Jofre e Popó, por conta da declaração do último, lembra a situação entre Larry Holmes e Rocky Marciano. Em 85, irritado após perder para Michael Spinks, Holmes, que com um triunfo igualaria a marca de 49 vitórias de Marciano, disse que este não era digno de carregar seu protetor de testículos. Apesar das desculpas, a imagem de Holmes sofreu prejuízo permanente. Popó teve sorte pelo fato de seu caso ter sido resolvido rapidamente.

E-mail eohata@folhasp.com.br


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