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São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 2003

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FUTEBOL

Mau marqueteiro

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Após três rodadas do Brasileiro, é muito cedo para analisar as equipes, as estatísticas e tirar conclusões. Ainda faltam 43 rodadas. Muitas das "verdades" de hoje serão desmentidas amanhã. O campeonato deverá ser um sobe-e-desce. Mas isso também pode se tornar furado e várias equipes dispararem.
Cruzeiro, Atlético-MG, Flamengo, Inter e Vitória estão na frente. Conseguiram sete pontos em nove disputados. Deve ser mais ou menos a média para quem quiser ganhar o título.
Antes do início do torneio, o Flamengo não tinha um timinho, nem tem agora um timaço. Não sei se vai continuar bem. Vejo algumas mudanças importantes.
Athirson está avançando mais pela ponta do que pelo meio, quando se confundia com Felipe. Há agora um jogador definido, Fabinho, para fazer a cobertura do lateral. Quando não está no ataque, Athirson está se posicionando como lateral, e não pela meia esquerda, como antes.
Se o Flamengo mantiver a determinação e a seriedade nos treinos e nas partidas, poderá fazer boa campanha. O problema é que a lua-de-mel com um novo técnico costuma ser curta. Logo, alguns atletas, não só os do Flamengo, relaxam. Não podem também receber elogios que passam a correr menos e a enfeitar mais.
Não entendi a contratação do Paulo Miranda. Em vez de chegar para somar, como falam os técnicos, o volante foi para diminuir. A esperança do Mengo é que costumam dar certo as contratações de armadores liberados pelo Luxemburgo, como ocorreu com Magrão, Claudecir e Jorge Wagner.
Vitória e Inter possuem jovens e promissores times. Essa é uma tradição do Vitória. O Inter, após anos de péssimas campanhas no Brasileiro, quando contratava atletas medianos e veteranos, sonha com uma grande equipe formada em casa. Esse é o caminho.
Atlético e Cruzeiro contrataram bons jogadores e tiveram tempo para se preparar para o torneio. No domingo, o jovem goleiro Gomes fez novamente ótima partida e foi muito elogiado pelo Parreira. Gomes poderá ser o goleiro da seleção pré-olímpica, já que o titular Rubinho nunca joga no Corinthians. É o goleiro fantasma. Ninguém sabe se ele é ótimo, bom ou fraco. Não dá para avaliar um jogador somente pelos treinos.
Celso Roth faz ótimo trabalho no Atlético. Neste ano, o time só perdeu um jogo, para o Cruzeiro, quando a equipe estava em formação. Apesar disso, poucos elogiam o seu trabalho. O mesmo ocorria no Palmeiras. O time ganhava, e grande parte da torcida vaiava o técnico. Celso não é simpático aos torcedores e à mídia.
Seria por causa do seu sorriso contido? Por que ele tem um discurso tradicional? Possui fama de retranqueiro? Não faz pose de inteligente e de profissional sério? É um mau marqueteiro? Ou seria por causa do seu bigode?

No caminho certo
A afirmação de que um time está mal no Brasileiro porque prioriza a Libertadores é uma boa desculpa. Equipe grande tenta sempre ganhar os dois títulos. A prioridade só acontecerá quando um time tiver raras chances de conquistar uma das competições.
Corinthians, Grêmio, Santos e Paysandu estão melhores na Libertadores porque os adversários que já enfrentaram são muito ruins. Se disputarem a Série B do Brasileiro, ficarão nos últimos lugares. Os times bolivianos são tão fracos que não ganham mais nem nas alturas. Não foi surpresa a classificação do Paysandu no primeiro lugar do seu grupo.
Isso poderá mudar na próxima fase, mas nem tanto. Os times brasileiros são os grandes favoritos. Cada ano que passa, pioram os rivais sul-americanos, inclusive os argentinos. É mais fácil para um time brasileiro ganhar na Libertadores do que a seleção do Brasil vencer nas eliminatórias.
Os clubes brasileiros são muito superiores porque revelam mais bons jogadores e gastam mais do que podem. Muitos não pagam. Se for aprovado e funcionar a nova lei de responsabilidade fiscal para os clubes e dirigentes, no início vai piorar a qualidade das equipes. Depois, os clubes mais organizados e que se adaptarem melhor à situação, vão se recuperar e formar equipes mais consistentes e duradouras.
Alguns clubes, que têm modestas equipes, estão na Série B e se preparam bem para o futuro, como o Botafogo, têm chances de se tornarem mais fortes do que os que estão hoje melhores e gastam mais do arrecadam. O torcedor do Botafogo não pode desanimar.

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