São Paulo, domingo, 16 de maio de 2004

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Escolha premia ação pioneira nos bastidores

DA REPORTAGEM LOCAL

O primeiro país não-europeu a se ligar à Fifa foi a África do Sul, mas oficialmente esse pioneirismo tem sido cortado da história por retratar o forte racismo que imperou durante quase todo o século 20 na sede da Copa de 2010.
Até 1909, a ""família do futebol" contava com um seleto grupo de 15 países europeus. Uma federação sul-africana então se inscreveu como membro da entidade internacional. A Associação de Futebol da África do Sul, depois conhecida como Fasa, nasceu em 1892 em um dos ""territórios britânicos" do país e era uma entidade ""100% branca", como se gabava.
Outras federações de futebol sul-africanas foram aparecendo com o decorrer dos anos devido ao racha racial no país -Saifa, Sabfa e Sacfa foram criadas, respectivamente, em 1903, 1933 e 1936. A Fifa, porém, apenas via a entidade genuinamente branca.
Só dois anos após a África do Sul estrear na Fifa outros não-europeus integraram a ""família". Argentina, Canadá, Chile e EUA foram os países de outros continentes que se filiaram antes da Primeira Guerra Mundial.
Consta que a África do Sul se filiou à Fifa só em 1992, mas essa é a data de admissão da atual federação sul-africana. Só nesse ano a comunidade internacional entendeu que havia uma única entidade dirigindo o futebol do país.
A África do Sul ficou décadas exilada por questões raciais. Nos anos 40, com várias federações atuando, houve algumas disputas envolvendo brancos e negros, mas a instalação do apartheid, regime de segregação racial implantado em 1948, ampliou o racha.
Em 1959, o profissionalismo chegou ao futebol sul-africano, mas a liga nacional nasceu apenas admitindo brancos. A Fifa havia atestado oficialmente a Fasa em 1958. A federação poderia representar o país, mas sua insistência em repudiar os negros resultou na suspensão da seleção em 1962.
A federação 100% branca, tentando amenizar a situação, chegou a sugerir à Fifa que poderia haver um revezamento racial em Copas. No Mundial de 1966, na Inglaterra, os brancos defenderiam a África do Sul. Para a Copa do México, quatro anos depois, o país enviaria um time de negros.
Para dar uma impressão menos racista, foi até armado um jogo entre os brancos do Germiston Callies e os negros do African Pirates em Maseru, no Lesoto.
Em 1972, uma liga profissional não-branca foi criada no país. A população negra tinha o futebol como seu esporte predileto. Quatro anos depois, o país era formalmente expulso do quadro da Fifa.
As ligas branca e negra se fundiram em 1978, mas houve pouca integração racial em campo. O apartheid perdurou até a primeira metade dos anos 90, quando o futebol do país pôde se ""libertar".
Em 1991, nasceu a atual federação sul-africana, entidade aberta a todas as raças e com princípios democráticos. Com brancos e negros juntos, o país recebeu e venceu a Copa da África em 1996 e foi à Copa em 1998 e 2002. (RBU)


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