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FUTEBOL
A perfeição quase existe
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Em uma das colunas anteriores, escrevi que o técnico ideal
seria o que tivesse a calma, a sensatez, a racionalidade e os conhecimentos científicos do Parreira e
a ousadia, a imprevisibilidade, a
emotividade e a capacidade de
incendiar e unir os atletas do Felipão. Esse supertécnico existe: é o
Bernardinho.
Numa ocasião, assistia a um
show do João Gilberto, que não
parava de reclamar da qualidade
do som da casa. Um espectador,
lá de trás, perguntou: "João, existe
a perfeição?". Ele respondeu:
"Não, mas a imperfeição me incomoda muito". Assim são os grandes vencedores, como Bernardinho. Sabem que a perfeição não
existe, mas a procura, insistentemente. Nunca estão satisfeitos.
Sofrem e comemoram os títulos.
No programa "Arena Sportv",
Cleber Machado citou uma entrevista do Bernardinho, em que o
técnico dizia: "No vôlei, um atleta
pior e que treina mais se torna
muito melhor do que um mais talentoso e que treina menos".
Isso parece evidente em qualquer esporte, porém é muito mais
verdadeiro e marcante no vôlei
do que no futebol. O vôlei é um esporte muito mais de técnica e de
jogadas ensaiadas do que de habilidade. Os lances são mais previsíveis. Talvez o levantador seja
exceção. A técnica pode ser muito
mais aprimorada com treinos do
que a habilidade e a criatividade.
A técnica, em qualquer esporte,
não é somente a execução dos
fundamentos básicos. É também
a capacidade de vencer e superar
obstáculos. Isso envolve outros fatores, como a preparação física e
emocional, o planejamento fora e
dentro de campo, a disciplina tática, a garra, a atenção, a consciência das virtudes e das deficiências, a competência da comissão técnica e muitas outras qualidades.
Resumindo, além de talento, é
preciso ter profissionalismo, como
acontece no vôlei brasileiro, dentro e fora da quadra.
Passado e presente
No futebol do passado, predominava muito mais a habilidade,
a fantasia e a criatividade do que
a técnica e a tática. Era mais lúdico, uma gostosa brincadeira, uma
pelada organizada. Os craques
repetiam nos gramados o que faziam na infância, nos campos de
terra.
Hoje, há em cada esquina uma
escolinha de futebol e de negócios,
tentando ensinar os fundamentos
técnicos aos garotos. Não é momento para isso. A criança precisa se divertir com a bola, sem regras e professores. Nessa fase é
que se descobrem e desenvolvem
a habilidade e a criatividade. Isso
acontece brincando.
Além disso, o menino não tem
adequado desenvolvimento psicomotor para aprender os fundamentos técnicos, as regras e as posições em campo. Isso deve ser feito nas categorias de base dos clubes.
A seleção brasileira de 70, ao
mesmo tempo em que encantou o
mundo pela fantasia, foi o início
do futebol mais técnico, tático e
disciplinado. Houve uma grande
preparação científica para o
Mundial no México.
Não é verdade que a seleção de
70 só se preocupava em atacar,
que cada um fazia o que queria
em campo e que não precisava de
treinador. A equipe unia o talento individual com o coletivo. Atacava com muitos jogadores, e todos recuavam quando perdia a
bola. É o que fazem hoje as grandes equipes.
A partir daí, houve uma supervalorização progressiva da tática,
do preparo físico, da marcação e
do cientificismo no futebol.
O esporte ficou menos vistoso e
mais competitivo. Há hoje uma
tendência ao equilíbrio. A beleza
e a eficiência são fundamentais.
Sem surpresas
Não há surpresas na posição das
equipes do Rio de Janeiro no
Campeonato Brasileiro.
O time do Fluminense é individualmente fraco.
O Flamengo poderia fazer uma
campanha melhor, pela qualidade de alguns jogadores, mas não
houve planejamento administrativo e técnico para isso. A equipe é
também muito irregular.
O Botafogo está se organizando,
dentro e fora de campo. A equipe
de Caio Martins fez uma longa e
boa preparação. Para a Série B, o
time individualmente é bom e
merece a liderança.
O Vasco fez uma opção totalmente equivocada, ao contratar
jogadores veteranos, em decadência. Se o Léo Lima e o Souza jogassem em equipes organizadas e
fossem mais bem orientados, teriam grandes chances de se destacar.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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