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MOTOR
Assim contou o Chico
FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL
A viagem durou umas duas
horas. Mas que poderiam ter
sido dez. No banco de trás do pequeno carro, porque se recusou a
ir na frente, estava o Chico Rosa.
O Chico, ex e atual administrador de Interlagos. O Chico, que
sujou a mão de graxa na equipe
Willys. O Chico, cuja obra-prima
foi ter identificado naquele moleque o maior talento da turma.
Que em 1969 argumentou e o convenceu a vender umas tralhas e
viajar para a Inglaterra. Que foi
um dos responsáveis pelos dois
primeiros títulos do país na F-1.
E, para prazer de quem o cerca,
o Chico, contador de histórias.
Silverstone, último fim de semana. Ele estava por lá, envolvido
em reuniões sobre o GP Brasil.
"Domingo, depois da corrida, vocês me dão uma carona até Londres?", pediu. "É claro, Chico."
Começava a cair a noite na ilha
quando ele se acomodou no banco de trás. Talvez não imaginando que teria que "pagar" a carona, pelo mesmo trajeto que percorreu dezenas de vezes com
Emerson, respondendo a curiosidades dos jornalistas à frente.
E, dos muitos causos que contou, e que estão sendo reunidos
em livro, o mais fascinante não se
passou na F-1, mas na extinta F-2.
Até meados dos 70, era comum
pilotos de F-1, campeões inclusive,
disputarem provas da categoria
inferior nos fins de semana de folga. Os salários, afinal, não eram
tão milionários e eles precisavam
colocar pão na mesa de casa.
Tudo começou com uma das
minhas muitas perguntas: quem
foi o maior piloto que ele viu? A
resposta, na lata: Jochen Rindt.
O ano não é tão importante, foi
nos 60. O circuito, sim, importa:
Rouen, no oeste da França, com
sua pirambeira "à la Eau Rouge".
Rindt era um garotão em meio
a macacos velhos como Clark,
Hill, Hulme e Brabham. E virou
alvo de gozações quando, dias antes, num bate-papo informal, disse que contornava a Sanson, no
fim da pirambeira, "flat". Ou seja,
sem levantar o pé do acelerador.
A trupe chegou a Rouen, e as
gozações aumentaram. Afinal,
era impossível alguém tentar fazer aquela seqüência de curvas
sem aliviar o pedal. O garoto, petulante, encheu-se de tanta provocação e aumentou o desafio:
não só percorreria o trecho "flat"
como o faria na primeira volta.
Pois bem, o início da tomada de
tempos foi autorizado e só o austríaco estava no carro. Todos os
outros pilotos, amontoados num
morro, à espera do acidente certo.
Rindt saiu dos boxes acelerando
como um louco. Apontou na descidona e veio "descascando a peroba", para usar as expressões do
Chico. Todos se levantaram, como que para ouvir melhor o som
da vacilada no motor. Que não
veio. O carro deu uma escorregada, o rapaz corrigiu o traçado e,
sim, fez as curvas sem aliviar.
Mas a quase escapada não estava planejada. Ficou na pista e, na
segunda volta, fez o trecho com
precisão. Parou então nos boxes e
inverteu a mão do desafio. "Agora batam o meu tempo", lançou.
Ninguém conseguiu. Com duas
voltas, Rindt foi pole. E venceu.
Fato ou lenda, assim contou o
Chico. Para nós, virou verdade.
Só é pena que Silverstone não
seja mais distante de Londres.
Resistência-1
Trinta e seis anos após cruzar o Atlântico com Chico Rosa, Emerson
enfrentará hoje em Nuremberg, na Alemanha, Prost, Scheckter,
Mansell, Doohan e Cecotto. Eles participarão da "Race of Legends",
que de corrida, aliás, não tem nada. Cada um dará nove voltas e o
mais rápido levará US$ 1 milhão. Ontem, nos treinos, Prost foi o mais
veloz. Admitindo estar enferrujado, o brasileiro ficou em quarto.
Resistência-2
Vai acabar em pizza, ninguém será punido, mas se engana quem
acredita que o fiasco de Indianápolis não terá conseqüências. Apesar
da iminente absolvição, os times continuarão a rebelião contra a FIA.
O movimento só faz crescer dia-a-dia, e Mosley terá que abusar de
sua lábia para continuar no poder nas eleições de outubro.
E-mail: fseixas@folhasp.com.br
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