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O diário do técnico
24 DE JULHO
Seguimos para o Galeão às
11h40. Fomos para o avião, e às
12h45 levantamos vôo. O dia está
simplesmente magnífico. Depois
de quatro horas de vôo, chegamos
a Recife. Após mais uma hora, seguimos viagem. A noite estava
maravilhosa. A lua cheia iluminava o interior do avião.
25 DE JULHO
Chegamos às 19h50. Ainda estava claro. Infelizmente houve confusão no horário e ninguém foi
nos esperar. Depois de passar pelo
serviço de alfândega, fomos para o
nosso alojamento.
26 DE JULHO
A primeira impressão é boa,
apesar dos contratempos. Estou
em um quarto sozinho. É um antigo local de treinamento de oficiais
e, em geral, os quartos são bons.
Nossa turma está toda em uma
ala dos diversos edifícios. O alojamento é constituído de numerosos pavilhões, e todos são de madeira, mas muito bem arrumados.
As camas são ótimas, e existe cada cobertor formidável, além da
lareira. As instalações sanitárias e
os chuveiros são ótimos (água
quente e fria).
A manhã está ótima. O clima está bem semelhante ao do Rio, no
momento. Alguns jogadores não
se sentiram bem.
Agora estamos descansando.
Pretendíamos ir à cidade, mas fomos informados de que os bancos
fecham às 15h. Não dá mais tempo. Aliás, neste particular está
ruim a coisa. Os alojamentos são
muito distantes uns dos outros.
Consta que o nosso é o pior. Estão conosco países eslavos e torna-se difícil a conversação. Assim,
sobre este aspecto de contato e
aprendizagem, a coisa está difícil.
O nosso alojamento fica em
West Drayton. Depois do jantar,
fomos fazer uma gravação para ser
transmitida pela BBC para São
Paulo. Passeamos e às 22h30 fomos dormir.
De um modo geral, o que chamou a atenção durante o dia de
hoje: as moças e rapazes que servem as refeições e limpam os
quartos são estudantes de universidades e pertencem às melhores
famílias; no alojamento há televisão, barbeiro, lavanderia, correio,
cafeteria, sala de estar com piano e
rádio, área gramada, livraria; a
grande limpeza de tudo; o grande
número de garotos (4 a 10 anos)
que pedem autógrafos; a água é
muito ruim, parece ser salgada;
número enorme de pessoas que
andam de bicicleta; camionetes dirigidos por moças ou senhoras à
disposição dos olímpicos.
27 DE JULHO
Levantamo-nos às 7h30 e depois
do café fomos ao centro, ou melhor, a Londres. São quase duas
horas de viagem.
Andamos quase 1 km e depois
apanhamos o trem e o subterrâneo. Fomos ao banco e aproveitei
para verificar alguns preços.
Comprei duas meias de lã. De
um modo geral, não se pode fazer
compras. Tudo depende de cupons de racionamento. A parte da
cidade em que fomos está bem estragada pelas bombas. Notam-se
ainda quarteirões inteiros totalmente arrasados.
Na volta, perdemos o caminho e
só chegamos às 14h30. Às 16h fomos treinar. Houve trapalhada, de
forma que fomos obrigados a voltar e seguir para outro lugar.
Fomos a Heston (bairro). O local
de treino é uma quadra coberta
(qualquer coisa do exército). Fizemos um bom treino. A camionete
que nos levou ficou esperando, e
às 19h estávamos de volta (20 minutos de camionete). Jantamos e
fomos informados do sorteio. Infelizmente não fomos felizes.
Foi o seguinte o resultado geral:
Grupo A - Canadá, Itália, Inglaterra, Hungria, Brasil e Uruguai (parece que Canadá, Uruguai e Brasil
são os mais fortes); B - Filipinas,
Iraque, Coréia, Chile, China e Bélgica (mais fortes: Filipinas, China
e Chile); C - EUA, Suíça, Tcheco-Eslováquia, Argentina, Egito,
Peru (mais fortes: EUA e Argentina); D - México, Cuba, Irlanda,
França e Irã (mais forte: México).
Jogaremos dia 30, às 16h40, na
Herringay Arena, contra a Hungria, e no dia seguinte contra o
Uruguai. Por enquanto, só temos
esperança e vontade de vencer. Á
noite ficamos no acampamento
conversando, assistindo televisão
e às 22h30 recolhi a turma.
28 DE JULHO
São 23h. Tivemos hoje um dia
bastante calmo, e por isso mesmo
não encontrei grandes novidades.
Levantamo-nos às 7h e fomos à ginástica. O Évora torceu o tornozelo. Logo em seguida, escrevi para
casa e enviei alguns cartões.
Fui almoçar e, pouco depois, fomos treinar na Herringay Arena,
que é a quadra onde serão efetuados os jogos.
A quadra é relativamente boa. O
piso é adaptado e não tem a mesma elasticidade em todos os lugares. Há acomodações para 7.500
pessoas sentadas.
Treinamos contra Tcheco-Eslováquia e Irã. Estes são bem fracos.
Assisti ao treino dos canadenses.
Têm o mesmo estilo dos norte-americanos e muita facilidade no
controle da bola.
Jogam com muita disposição, o
que provoca muito contato de
corpo. Em cinco minutos, arremessaram 14 bolas e acertaram 3.
A seguir, fomos para o acampamento, onde chegamos às 21h.
Jantamos e fizemos um pequeno
ensaio para o desfile de amanhã.
Durante o percurso para Herringay pudemos observar os graves
danos causados pela guerra, tendo-se notado ainda: não há bondes; existem muitos ônibus, alguns dos quais são elétricos (dois
andares); o calor está fortíssimo.
29 DE JULHO
Levantamo-nos às 8h. Às 11h tomamos os ônibus para o Wembley
Stadium, onde seria realizado o
desfile. A viagem durou uma hora.
Ficamos nas proximidades do estádio, onde comemos um lanche.
O calor continua bem forte. Tivemos oportunidade, nessa espera, de assistir a um grande espetáculo, pois a diversidade de línguas, cores e uniformes era notável. Às 14h, aproximamo-nos do
estádio. O povo das redondezas
nos auxiliou grandemente, fornecendo água aos competidores.
No tempo em que estivemos
perto do estádio tivemos oportunidade de apreciar a delegação do
Paquistão, com sua indumentária
típica. São camaradas, apesar de
não podermos conversar. Em geral, andam de mãos dadas. Tiramos fotos com o turbante deles.
Às 15h entramos no estádio, que
é maravilhoso. Tem acomodações
para 100 mil pessoas. Nesse dia havia 80 mil, bem acomodadas.
À nossa frente iam Grécia, Argentina, Austrália e Bélgica. Passamos em frente à tribuna onde estava o rei George e sua senhora, a
rainha-mãe, e um grande número
de pessoas de fraque e cartola, flor
no peito, apesar do calor intenso.
A emoção sentida é extraordinária quando se ouvem as palmas e
demonstrações de alegria dadas
pelo povo ao ver a representação
do Brasil. Ficamos parados junto
ao mastro da bandeira olímpica.
À passagem de cada delegação o
rei se levantava e fazia continência. Depois de estarem todas as delegações no campo, o rei declarou
abertos os Jogos Olímpicos. E
houve mais as seguintes cerimônias: canto por um coro de 2.000
vozes, acompanhadas pela banda
que tocou durante o desfile (todos
com uniformes branco e vermelho
e com aquele capuz preto, alto e
peludo); revoada de pombos; chegada da tocha olímpica; hasteamento da bandeira olímpica; canto de aleluia; juramento do atleta.
De um modo geral, impressionou-me muito bem a organização
e o cumprimento do horário. Os
uniformes são bonitos. Talvez o
do Brasil seja um dos mais simples. A grama dos estádio parece
um colchão, de tão macia. É de um
verde notável. Existem numerosas
portas de saída. Não há grande
preocupação de beleza ou arquitetura, mas sim de simplicidade e
comodidade.
Terminada a cerimônia, voltamos para o acampamento, onde
jantamos, descansamos e agora,
às 23h30, o pessoal já está na cama, pois jogaremos amanhã contra a Hungria. Creio que não poderei contar com Évora (tornozelo
torcido) e Alfredo (machucado na
perna). Estou reduzido a oito jogadores, mas o ânimo da turma é
ótimo. Creio que venceremos.
30 DE JULHO
Levantamo-nos às 8h. Saímos
para a Herringay Arena às 14h. Lá
chegamos às 15h30.
Antes de irmos à quadra, reuni
os jogadores para entusiasmá-los.
Juntos, de cortinas cerradas, pedimos a Deus que nos protegesse.
Entramos em campo e, às 16h40,
foi iniciado o nosso primeiro jogo,
contra a Hungria.
De início eles nos surpreenderam, pois jogam muito bem. São
altos e fortes. Iniciamos com Ruy,
Alex, Algodão, Braz e Pacheco.
A partida transcorreu muito
equilibrada. Não houve quem se
distanciasse mais de cinco pontos.
No final, conseguimos empatar:
39 a 39. Na prorrogação, que foi
emocionante, vencemos por 45 a
41. Foi uma grande alegria para todos nós. Ficamos sabendo depois
que os húngaros são os vice-campeões da Europa.
Voltamos às 18h30, muito satisfeitos e cantando durante toda a
viagem. Cantamos muito: "ai, ai,
ai, está chegando a hora".
Agora, 22h30, a turma já está na
cama, pois jogaremos amanhã.
Durante nossa viagem observei:
as casas são feitas em grupos e todas do mesmo tipo; as casas comerciais não têm vitrines luxuosas; algumas filas em açougues.
31 DE JULHO
Estou simplesmente satisfeitíssimo. Vencemos o Uruguai: 36 a 32.
O pessoal estava disposto e com
vontade de vencer o jogo, pois o
considerávamos o mais difícil.
E lembrando ainda que o Uruguai nos venceu no ano passado
no Rio -ocasião em que eu "meti
o pau" no nosso time.
Essa vitória, para mim, foi uma
vitória dupla. No princípio do jogo -Braz, Pacheco, Massinet, Algodão e Ruy- não tivemos muita
sorte, e eles logo marcaram 7 a 1.
Aos poucos, porém, fomos melhorando. Substituí o Braz por Alfredo e deu ótimo resultado.
No final do primeiro tempo,
vencíamos por 22 a 20. Logo no
começo do segundo tempo começamos a aumentar essa diferença,
que chegou a ser de 11 pontos.
Éramos os donos da quadra. Infelizmente, porém, o Massinet
completou quatro faltas e precisei
substituí-lo. Entrou o Alex. Pouco
tempo depois, o Ruy também fez a
quarta falta, e entrou o Vinícius.
Com essas substituições, o time
decaiu um pouco, e no final, graças a Deus, vencemos por 36 a 32.
Esse final foi emocionante. Quase todos estavam chorando de alegria. O Pacheco chorou como
criança. O Alfredo teve uma espécie de vertigem. Enfim, todos ficaram muito emocionados.
Creio que faremos melhor figura
daqui por diante. Chegamos no
acampamento às 19h30. Jantamos
e fomos dormir. Amanhã é domingo, teremos folga absoluta.
1º DE AGOSTO
Levantei-me às 9h. Agora,
10h30, escrevo cartões e uma carta
para a Wally. Estou preocupado
com a falta de notícias.
São 22h30. Passei o dia todo no
acampamento com os jogadores.
Agora à noite houve uma festinha
dos austríacos. Um deles tem uma
sanfona, e a música só serviu para
fazer com que eu sentisse mais
saudades de casa. Amanhã levantaremos às 6h, pois jogaremos às
9h contra a Inglaterra. Se Deus
quiser, venceremos.
2 DE AGOSTO
Levantamo-nos às 6h, e às 7h15,
depois do café, tomamos o ônibus
para Herringay. Chegamos às
8h30, e às 9h foi iniciado o jogo.
O nosso time era Alfredo, Algodão, Massinet, Pacheco e Ruy. Foram feitas várias substituições, e
no final vencemos por 76 a 11.
Julgamos que haveria vantagem
em fazer o maior número de pontos, porém, à tarde, descobrimos
que não havia "goal average" para todos os times, mas só para
aqueles que terminassem empatados. Foi pena, pois poderia poupar
um pouco mais os jogadores.
A vitória foi espalhafatosa. Os jogadores tinham ordem para supor
que faltavam cinco minutos para
terminar um jogo em que estávamos perdendo e, por isso, deveriam dar tudo.
Assim foi feito, e vencemos por
65 pontos de diferença. Agora tudo está OK. Tudo a nosso favor.
Não acredito ainda que reconheçam o meu trabalho, e por isso redobrarei os esforços, pois faço
questão de dizer no futuro muita
coisa a várias pessoas. Se Deus
quiser, assim será. O nosso lema
tem sido: "Com Deus e pelo Brasil". Com ele, pretendemos ir longe. Assistimos a alguns jogos, e às
23h30 estamos de volta.
Dos times que jogaram hoje,
gostei de EUA, Hungria, Canadá e
China. Os EUA têm grandes valores individuais. São velozes e arremessam muito bem.
Tivemos a oportunidade de assistir a dois deles executarem a
bandeja de cima para baixo (como
se fosse uma cortada no vôlei).
A Hungria joga feio e em posições elegantes, porém de forma
positiva. Venceu o canadá, que
não demonstrou ser grande coisa.
A China demonstrou conhecer
basquete, porém marcam mal e
fazem muito fricote com a bola.
Hoje à tarde choveu. Esfriou um
pouco.
3 DE AGOSTO
Levantei-me às 8h30, pois não
havia nada programado para o período da manhã. Depois do café
escrevi uns cartões e fiquei conversando com a turma.
Almoçamos às 12h30. Chegou a
mala do correio logo em seguida,
mas, infelizmente, a esperada carta de casa ainda não chegou. As
saudades estão aumentando, e nenhuma carta até hoje. Passei a tarde com a turma no alojamento.
Às 17h, fizemos um acerto em
nossa jogada de ataque para enfrentar o Canadá. Também fizemos uma gravação para ser irradiada para São Paulo. Jantamos e,
às 22h, fomos deitar.
4 DE AGOSTO
Levantamo-nos hoje às 8h. Depois do café, demos umas voltas e
acertamos mais alguns pontos da
nossa jogada para hoje. Almoçaremos às 12h, e às 2h, depois de um
repouso, tomaremos o ônibus para Herringay, onde jogaremos
com o Canadá. Todos estão bastante animados e com grande vontade de obter mais uma vitória.
Há pouco fomos verificar se havia cartas. Infelizmente, nada.
São 23h30. Graças a Deus, vencemos o Canadá, por 57 a 35. Foi
uma vitória simplesmente notável.
Nosso time começou com Pacheco, Braz, Ruy, Massinet e Algodão.
A produção foi extraordinária.
Executaram tudo o que fora previsto. Aproveitamos muito bem os
contra-ataques. Enfim, fizemos
verdadeira exibição de basquete.
O primeiro tempo terminou 32 a
12. No final, os dois técnicos canadenses vieram me cumprimentar.
Um deles declarou à imprensa que
eles perderam porque "não tinham jogo" para nos enfrentar.
Creio que continuaremos cumprindo a promessa de honrar o
bom nome esportivo do Brasil.
Terminado o jogo, fomos para o
acampamento cantando as célebres músicas das vitórias.
Jantamos, e estive cuidando do
Massinet (ameaça de gripe), Pacheco (idem), Alfredo (idem) e Algodão (torção no tornozelo). No
entanto, creio que não será nada.
Jogaremos amanhã com a Itália.
Se vencermos, o que acredito que
acontecerá, sairemos invictos da
nossa chave. À noite, ouvi algumas valsas vienenses (sanfona) e,
em parte, perdi a alegria da vitória, pois as saudades são cada vez
maiores. Continuo estranhando o
fato de não receber cartas.
5 DE AGOSTO
Levantamo-nos às 8h. Depois do
café, demos umas voltas e escrevemos cartas. Almoçamos às 12h.
Depois de um descanso, tomamos
o ônibus para a Herringay.
Às 16h40, jogamos com a Itália.
Vencemos por 46 a 31. Desse modo, terminamos invictos a série
inicial. Terminado o jogo, dissemos algumas palavras pelo rádio.
Infelizmente, a turma demonstrou cansaço, e alguns estão machucados. O Alfredo sofreu pela
segunda vez uma pancada no
músculo da perna. O Évora e o Pacheco sentiram o tornozelo. Todos
os dirigentes estão agora à nossa
disposição. Prometeram-nos doces e "bóia" mais reforçada.
Ficamos em Herringay até as
22h, assistindo a jogos. Jantamos
lá. Foi a primeira vez que comi fora do acampamento. Tive oportunidade de verificar que de fato o
pessoal daqui come muito mal.
Serviram-nos sopa de tomate,
frango com vagem e duas fatias
muito finas de pão com manteiga.
De sobremesa um sorvete, e para
encerrar um café muito ruim.
Fui para o alojamento na expectativa de encontrar uma carta, porém nada... mais uma vez.
6 DE AGOSTO
Levantei-me às 9h. Escrevi alguns cartões. Logo em seguida, tive a grande satisfação: um telegrama de papai informando que todos estão bem. Pouco tempo depois, uma carta da Wally aumentou a alegria. Ao que parece, sexta-feira é mesmo o meu dia.
Às 15h, levei o Alfredo, Algodão,
Pacheco e Évora à Herringay, pois
todos eles precisavam de tratamento mais completo para estar
em perfeita forma na segunda.
Hoje houve o sorteio. Pegaremos
os tchecos, que venceram os argentinos. Vemos a possibilidade
de sermos, ao menos, vice-campeões, pois se vencermos os tchecos teremos, a seguir, um adversário que não é dos melhores.
Vejo a possibilidade, mas ainda
não acredito. Penso que é muita
coisa. Quando me lembro, no entanto, que o que estamos fazendo
é sob o lema "Com Deus e pelo
Brasil", o entusiasmo já é outro.
Lembro-me sempre dos "amigos da onça" aí do Brasil. Com
certeza, eles agora acham que tudo
isso foi sorte.
Que pensem o que melhor entenderem. Eu sei o esforço que esses rapazes têm feito. O sacrifício a
que têm se submetido. Se Deus
quiser, porém, tudo isso será recompensado. Sem dúvida, hoje foi
uma grande sexta-feira: recebi notícias, e tivemos sorte no sorteio.
7 DE AGOSTO
Levantei-me às 8h. Fui com Pacheco, Évora, Alfredo e Algodão
ao massagista na Herringay. Felizmente todos estão bem melhores.
Voltamos às 12h30 e fomos almoçar. Às 15h, Massinet, Marson,
Ruy, Vinícius, Évora e Alex fizeram massagem. O comitê providenciou a vinda de um massagista
para nós. A turma continua com o
moral elevado, e todos estão bastante unidos. Acreditam que o jogo com os tchecos será difícil, no
entanto confiam na vitória. O desejo de chegar às finais é enorme.
Da minha parte também estou
menos preocupado. Os que estavam machucados já apresentaram
melhoras, e os demais demonstraram ter aproveitado o descanso.
Jantamos às 19h30, e em seguida
fui escrever uma carta para casa.
8 DE AGOSTO
Levantamo-nos às 8h30. Chove
bastante, de forma que não foi
possível dar a ginástica que eu pretendia. Como eu previra, passamos um dia bastante monótono.
Jantamos às 19h. Logo em seguida, aproveitando que a chuva parou um pouco, a turma armou um
samba, do qual participaram até
os egípcios. Filmei o pessoal. Agora -22h30- já estão todos na cama. Amanhã jogaremos com os
tchecos. Ainda não tenho certeza
de poder contar com todos os jogadores, pois o Alfredo e o Pacheco não estão perfeitamente bem.
9 DE AGOSTO
Levantei-me às 8h. Logo depois
do café, recebi uma longa carta da
Wally. Em seguida, carta de papai.
Recebemos um grande número
de telegramas. Creio que já estamos com 60 pregados na parede.
Às 13h fomos para a quadra. Às
15h20 começou o jogo com a
Tcheco-Eslováquia.
Graças a Deus, vencemos, por 28
a 21, depois de um jogo relativamente difícil. Eles marcaram por
zona, e o nosso pessoal encontrou
alguma dificuldade.
Mas vencemos, e com isso temos
o quarto lugar, no mínimo, garantido
Tivemos hoje uma grande
torcida. Quase todos os atletas que
aqui estão foram assistir ao jogo e
armaram um grande samba.
A França derrotou o Chile, na
prorrogação. Desse modo, jogaremos com os franceses. O México
venceu a Coréia, e os EUA, o Uruguai. O jogo com a França deverá
ser difícil, porém acredito que
venceremos. Seremos então, no
mínimo, vice-campeões.
10 DE AGOSTO
Levantei-me às 8h30. Creio que
hoje batemos o recorde em número de telegramas. Devemos estar
com cerca de 120 na parede. Dos
recebidos, destaco o assinado pelo
brigadeiro Eduardo Gomes.
Depois do almoço, fizemos uma
gravação para ser transmitida para
o Brasil. Às 14h, fui com Pacheco,
Alfredo e Braz à Herringay, pois
eles precisavam de tratamento.
Com exceção do Pacheco, creio
que poderei contar com todos.
Depois do jantar, tratei dos
doentes. Aplicamos de infra-vermelho no Braz, Pacheco e Algodão. Agora, 23h30, já estão todos
na cama. A confiança na vitória de
amanhã é grande. Faremos muita
força pelo vice-campeonato.
11 DE AGOSTO
Levantei-me às 8h. Fui com Pacheco, Braz e Évora fazer aplicações de infra-vermelho. Chove
bastante, de forma que a turma
não pode nem sair do alojamento.
Estamos com grande esperança
na vitória. São 19h. Estou satisfeitíssimo, pois conversei com a
Wally e papai, por meio da Rádio
Record. Foi uma oportunidade
admirável. Todos nós ficamos
bastante emocionados por ter ouvido a voz de nossos entes queridos. Vamos agora para a quadra.
Acabamos de chegar
-meia-noite e meia. Perdemos o
jogo com a França. Francamente,
não sei o que escrever. É muita
coisa que tenho em mente.
Eu me conformaria com outra
derrota, mas não com esta. Em
condições normais, tenho certeza
de que venceríamos com facilidade. Eles estiveram com muita sorte, e nós exatamente o contrário.
Perdemos por 42 a 32.
A turma está inconsolável. Vários deles choraram como crianças. Eu sinto imensamente essa
derrota, pois pretendia entregar o
vice-campeonato à Wally. Enfim,
só nos resta nos consolar.
É muito triste perder nestas condições, depois de uma série tão
grande de vitórias e de estar tão
perto do segundo lugar. Os jogadores estão simplesmente extenuados, e alguns deles bem machucados. Creio que não poderei
contar mais com Pacheco, Algodão e Évora. Outros -Alfredo,
Braz e Massinet- queixam-se de
dores musculares.
Jogaremos sexta-feira com o
México na disputa do terceiro lugar. No momento, acho difícil
vencermos. Acredito que eu tenha
feito o possível. Queimei todos os
cartuchos. Experimentei tudo,
mas não deu certo.
Sinto falta de palavras de estímulo e consolo neste momento. Vou
parar aqui, pois não consigo coordenar os pensamentos.
12 DE AGOSTO
Levantei-me tarde. Dormi muito
mal, pois a derrota não saía do
meu pensamento. Quase todos se
queixaram da mesma coisa.
São 23h. A turma já está na cama. A disposição de todos melhorou um pouco. Alguns já falam em
vencer o jogo amanhã. Da minha
parte, tenho entusiasmado os jogadores, mas intimamente não
acredito em vitória. Todos estão
cansados. O México só perdeu para os EUA e, anteriormente, venceu a França.
13 DE AGOSTO
Levantamos às 8h30. Está bem
frio. Escrevi vários cartões antes
do almoço. Agora, 17h, estamos
quase prontos para ir disputar
nosso próximo jogo.
A turma está animada, mas duvido que consigamos vencer.. Na
"hora H" sei que aparecerá o
cansaço. Tentaremos mais este
grande esforço.
Vencemos: 52 a 47. Somos os
terceiros colocados. A satisfação é
enorme. Francamente, não sei onde esse pessoal foi buscar tanta fibra, tanto entusiasmo. Depois de
uma série de sete jogos, ainda disputaram uma grande partida.
Além da vitória, ainda tivemos a
nosso favor: foi o México o único
país que havia derrotado a França;
chegamos ao terceiro lugar com
oito jogos e uma derrota (a França
disputou sete jogos, teve duas derrotas e ficou em segundo lugar); os
jogadores terão direito a medalhas; a bandeira brasileira será
hasteada amanhã, em Wembley, e
o basquete foi o único esporte do
Brasil que conseguiu isso.
O jogo foi duríssimo. No primeiro tempo, perdíamos por oito
pontos. No segundo tempo, acertamos mais nosso jogo e vencemos por cinco pontos. A vitória foi
em parte uma surpresa para mim,
pois eu não acreditava que os jogadores ainda tivessem forças para
mais uma luta dessas.
Terminei hoje meu compromisso. Estou com a consciência tranquila, pois cumpri meu dever de
brasileiro e de esportista. Exatamente depois de dois meses da minha indicação para o cargo de técnico (13 de junho), entrego ao
Brasil e à Wally o terceiro posto na
Olimpíada. Até a cama eu já acho
melhor. Talvez pela vitória. Talvez
por terem trocado a roupa de cama (trocam semanalmente).
Vou dormir sossegado, mais
uma noite, graças a Deus.
14 DE AGOSTO
Às 13h foi iniciada a cerimônia
de encerramento.
Fomos para o centro do campo,
e o capitão de cada turma (EUA,
França e Brasil) subiu no palanque, com os jogadores na sua retaguarda (Ruy foi o nosso capitão).
Feita a entrega das medalhas, foi
afixado no quadro: "Basquete:
EUA, França e Brasil".
Acima do quadro estavam as três
bandeiras. Depois da entrega das
medalhas, viramos para o lado das
bandeiras. Foi ouvido, então, o hino nacional norte-americano.
Enquanto tocavam, eu fiquei
olhando para a nossa bandeira e
me senti, ao mesmo tempo, emocionado e felicíssimo. Lembrei-me
de casa, da Wally, dos treinos, dos
"amigos da onça", enfim, de inúmeras coisas e pessoas.
Terminada a cerimônia, fomos
almoçar. Chegando, fiquei assistindo a todas as demais cerimônias de encerramento da Olimpíada pela televisão.
Depois do jantar, saí com alguns
rapazes. Fomos a um bar tomar
um chope. São interessantes os bares. A turma fica de pé bebendo,
cantando, e alguns dançando (sozinhos). Num canto ficam as mulheres, bebendo e cantando. Enfim, é o tipo de farra gozada.
Às 22h30, encerram a venda de
bebidas, e o pessoal é obrigado a ir
embora. Depois de muito conversarmos aqui no acampamento, fomos dormir.
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