São Paulo, quinta-feira, 16 de novembro de 2000

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FUTEBOL
Novo treinador da seleção credita vitória magra contra a Colômbia ao cansaço e ao fraco desempenho individual
"Temos que ensaiar esse balé", diz Leão

FÁBIO VICTOR
MAÉRCIO SANTAMARINA
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao assumir o cargo de técnico da seleção, há um mês, Emerson Leão prometeu um "futebol bailarino". Ontem, após a magra vitória sobre a Colômbia, o treinador admitiu que terá que afinar a sua companhia de dança.
"Temos que ensaiar esses bailarinos, senão não tem condição. Terei que ser um bom coreógrafo", disse Leão, em alusão à falta de tempo que teve para preparar a equipe -foram só dois treinos.
Diferentemente do seu antecessor, Wanderley Luxemburgo, Leão não se esquivou de nenhuma pergunta durante a entrevista coletiva. Admitiu que alguns jogadores sentiram cansaço (Júnior e Vampeta), que outros ficaram devendo futebol (Rivaldo) e que o Brasil precisou de sorte.
"Hoje (ontem) não teve espetáculo, mas foi um dia em que tivemos sorte. Mas, em síntese, a vitória sempre agrada", declarou.
Ainda assim, muito do seu discurso lembrou o de Luxemburgo.
Sobre as vaias da torcida paulistana, afirmou: "Não estou aqui para recriminar o torcedor de São Paulo. Compete a nós fazer com que eles sorriam junto com a gente. Não peço desculpas, mas um voto de confiança. Espero que, da próxima vez que a gente jogue aqui, seja com outro astral".
Também elogiou os jogadores, a quem disse ter cumprimentado individualmente após a partida.
"Fui dizer a cada um que eles têm a minha confiança, mas que ficaram devendo. Eles não são obrigados a fazer uma boa partida, mas têm que se dedicar."
Leão defendeu especialmente Rivaldo, o mais vaiado. "O melhor do mundo também erra."
O técnico contou que sentiu bastante por não ter comandado a seleção do banco de reservas. Suspenso por ter xingado o árbitro Fabiano Gonçalves após o jogo Vitória 4 x 3 Sport, ele assistiu à partida da tribuna do Morumbi, de onde passou instruções ao treinador de goleiros Pedro Santilli.
"Gostaria de estar lá (no banco), até para levar vaia junto com o time. Me sinto muito mais útil próximo. Mas superamos esse momento. Tenho que me policiar cada vez mais, melhorar cada vez mais", afirmou Leão.
Apesar da temperatura amena, o técnico chegou ao Morumbi sem terno, vestindo camisa e calça sociais. A chegada do treinador causou tumulto, já que vários seguranças da Federação Paulista de Futebol impediram que torcedores se aproximassem do treinador. Sempre cercado pelos seguranças, Leão se dirigiu para a tribuna de honra do Morumbi.
O técnico se negou a dar declarações à imprensa antes ou durante o jogo. Da tribuna, o treinador passou instruções, por meio de um rádio-transmissor, para Santilli. Passou com problemas, já que, segundo contou o treinador de goleiros após o jogo, o aparelho apresentou muitos problemas, dificultando a audição.
Santilli não seguiu a moda do seu amigo Leão. Vestia uma calça de agasalho azul e uma camiseta branca da comissão técnica.
Embora tenha ficado todo o tempo de pé, gesticulando, Santilli esteve calmo a maior parte do jogo. As principais orientações de Leão foram para que Júnior e Rivaldo ocupassem mais a lateral esquerda de campo.
As intervenções de Leão eram na maioria das vezes invisíveis, mas às vezes o torcedor podia observar as ordens do técnico.
Aos 46min do primeiro tempo, quando Rivaldo fez boa jogada e sofreu falta na entrada da área, o goleiro Rogério olhou para Santilli, querendo saber se tinha autorização para cobrá-la.
O treinador de goleiros colocou a mão no ouvido para isolar o ruído das arquibancadas e escutar melhor o que determinava Leão. Autorizou Rogério, que deixou a área correndo. Cobrou no meio do gol, e Yepes tirou de cabeça.
No intervalo, insatisfeito, o público ensaiou as primeiras vaias. Leão desceu da tribuna e fez apenas um sinal de positivo.
Na segunda etapa, ele nem esperou o apito final do árbitro e seguiu em direção aos vestiários, com cara amarrada.


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