São Paulo, terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

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Sem culpados?

Saldo do clássico vira jogo de empurra

Autoridades se eximem de responsabilidade pelo tumulto que deixou pelo menos 49 feridos após partida no Morumbi

Muro que reduziu espaço de circulação de torcedores corintianos durante o caos foi erguido pelo São Paulo sem autorização do Contru

Eduardo Knappl/Folha Imagem
Tênis de torcedores que foram perdidos na confusão no Morumbi

DA REPORTAGEM LOCAL

A responsabilidade por todo o tumulto que deixou pelo menos 49 torcedores feridos, após o clássico São Paulo x Corinthians, anteontem, transformou-se em um jogo de empurra entre as autoridades.
Em nota oficial, o Corinthians criticou o muro de concreto, construído por motivos comerciais, no anel de circulação interna, que dava acesso à arquibancada vermelha, local destinado à torcida alvinegra.
"A obra em execução na área da torcida visitante produziu um afunilamento de torcedores na saída, que desafia o bom senso e a prioridade que deveria ser atribuída à segurança dos clientes daquele estádio", afirmou o documento.
O corredor de circulação interna foi a área para a qual os corintianos correram após a suposta explosão de uma bomba caseira, que teria sido atirada do estacionamento dos diretores do São Paulo.
Com isso, policiais ficaram encurralados no corredor, cuja largura foi reduzida de 8 m para 4 m após a construção do muro. Acuada, a PM atirou três bombas, sendo duas de efeito moral, para dispersar os torcedores, causando tumulto na área.
"Se não tivesse o muro, os policiais seriam acuados adiante. E o confronto haveria de qualquer jeito", minimizou Hervando Velozo, tenente-coronel da Polícia Militar (PM).
Segundo tese de doutorado sobre estádios do arquiteto Carlos de La Corte, o anel de circulação superior do Morumbi comportaria um fluxo de 109 pessoas por minuto com 8 m.
Com a construção do muro para separar os corintianos das cadeiras especiais dos da arquibancada e a consequente redução da largura, estima-se que o fluxo tenha caído para 55 pessoas, o que prejudicou a circulação no local, que recebeu cerca de 4.000 torcedores.
"Qualquer novidade que você coloque na estrutura interrompe todo um fluxo natural para o qual originalmente foi pensado o estádio. Cria problemas para a circulação", disse o arquiteto Vicente de Castro Mello, que, em 2007, vistoriou o Morumbi durante um estudo conduzido pelo Sinaenco (Sindicato da Arquitetura e Engenharia).
"O Juvenal Juvêncio [presidente do São Paulo] sempre diz que faltam pouquíssimas adaptações para deixar o Morumbi pronto para a Copa [de 2014], e a gente viu que não é bem assim", concluiu Castro Mello.
O São Paulo pediu autorização ao Contru (Departamento de Controle de Uso de Imóveis) para a construção do muro. Entretanto, por problemas burocráticos, o órgão ainda não concedeu a permissão. Segundo a assessoria do Contru, não há problemas se o Morumbi foi utilizado sem a autorização.
"Não sei se existe necessidade de autorização para construir um muro que facilite a entrada dos torcedores", falou Carlos Augusto de Barros e Silva, vice de futebol do São Paulo.
A Folha apurou que o Contru já havia realizado uma vistoria e não considera que o muro ofereça riscos à segurança. Ainda segundo a assessoria da entidade municipal, a construção do muro foi uma exigência da PM, que negou este fato.


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