São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2004

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ATLETISMO

Índice é 3 pontos percentuais superior ao normal

Brasil aumenta número de testes e vê recorde de casos de doping

DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil teve incidência recorde de casos de doping no atletismo em 2003. Do total de testes promovidos pela CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo), 4,2% tiveram resultado positivo.
O balanço foi fechado neste mês pela entidade, quando ficaram prontas as análises dos dez testes feitos com os atletas que subiram ao pódio na última São Silvestre.
O processo foi lento porque duas amostras de sangue haviam indicado alterações. Porém os testes de urina, analisados pelo Laboratório Nacional de Controle de Doping, em Paris, não detectaram uso de substância proibida.
O índice brasileiro parece pequeno, mas não é. O normal, segundo o médico Eduardo de Rose, membro do conselho principal da Agência Mundial Antidoping, é que esse número seja de até 1%.
Para efeito de comparação, a poderosa Usada (Agência Antidoping dos EUA), que no ano passado flagrou pela primeira vez o THG, um novo esteróide anabólico, realizou 6.890 testes em 2003.
"Tivemos apenas 1% de resultados positivos", revelou Terry Madden, presidente da agência.
Com menos verba disponível, a CBAt realizou 119 exames em 2003. Esse número representa um aumento de 33,7% em relação ao ano anterior. Cinco atletas foram flagrados pela confederação, que despendeu cerca de R$ 100 mil em seu programa contra drogas.
O caso mais retumbante foi o da saltadora Maurren Maggi, flagrada para clostebol, um esteróide anabólico. Ela alega que houve contaminação de um creme usado em uma sessão de depilação.
Suspensa preventivamente pela Iaaf, entidade que comanda o atletismo, Maurren perdeu o Pan e o Mundial em 2003. Tem pouca chance de ir aos Jogos de Atenas.
"Esse número é normal", acredita Roberto Gesta de Melo, presidente da confederação. "Intensificamos os testes nas corridas de rua, nas quais haviam a suspeita de que houvesse mais uso de substâncias proibidas", aponta.
De fato, competidores que participam desse tipo de prova, que engloba as maratonas, foram responsáveis por 100% dos testes positivos em 2002. No ano passado, a incidência diminuiu para 60%.
Com tantas fraudes descobertas, a própria CBAt não acredita que os números brasileiros fiquem altos durante muito tempo.
"A tendência é que isso caia. É importante que haja casos. Assim, os atletas se conscientizam de que quem usar drogas será punido", opina Thomaz Mattos de Paiva, diretor jurídico da CBAt e especialista em legislação antidoping.
Outro índice alarmante é o de flagrados em provas. Normalmente, os atletas são pegos em exames feitos de surpresa. Mas, no país, 80% dos positivos foram surpreendidos em competição.
Os brasileiros também foram flagrados no exterior. Paiva lembra que, em 2003, o TJD da CBAt realizou nove julgamentos.
"O tribunal examinou até acusação de tráfico de substâncias proibidas", diz ele, referindo-se ao caso de um atleta que esqueceu, na geladeira do quarto do hotel em que se hospedara, uma caixa de EPO e o recibo de compra.
Flagrada em controles desde 1998, a EPO estimula a produção de glóbulos vermelhos, melhorando a oxigenação sangüínea. (ADALBERTO LEISTER FILHO)


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