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FUTEBOL
Pular etapas
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
S e o Parreira tivesse experimentado alguns jogadores,
um ou dois de cada vez, nestes
quase dois anos de partidas amistosas e pelas eliminatórias, a seleção não perderia o conjunto e o
treinador teria mais condições de
definir o time, o elenco e os reservas para os titulares absolutos, como Ronaldo.
Luis Fabiano e Adriano não jogaram uma única vez, desde o
início do jogo, no time titular. Entrar 20 minutos não adianta.
Apesar de suas qualidades e da
experiência nos seus clubes, qualquer um dos dois que substituir o
Ronaldo terá mais dificuldades
do que deveria nesse difícil jogo
contra o Paraguai.
A única surpresa na convocação foi a ausência do Emerson.
Há quatro volantes pela direita
(Renato, Kleberson, Juninho Pernambucano e Júlio Baptista).
Nem o Roque Júnior, que é reserva do pequeno time do Siena (Itália), entende quando vê o seu nome no time titular. Ele deve perguntar ao espelho: "Espelho, espelho meu, será que não existe ninguém melhor do que eu?".
Quando digo que o Robinho deveria jogar no lugar do Zé Roberto (excelente jogador), não seria
para fazer a mesma função. O time jogaria como a maioria das
equipes da Europa, com dois volantes e um armador ofensivo de
cada lado. Robinho seria esse jogador, pela esquerda.
Em alguns momentos, Parreira
deveria pular etapas, dar um descanso à sua coerência, à sua prudência e à sua racionalidade -e
convocar o Robinho.
A diferença é o técnico
Corinthians e Atlético-MG, dois
times de muita torcida e tradição,
viveram situações parecidas no final do ano passado. Os dois clubes não conseguiram vaga na Libertadores, não tinham dinheiro
para contratar excepcionais jogadores, trouxeram técnicos novos e
fizeram grandes reformulações
nos seus elencos.
Os jogadores contratados pelas
duas equipes tinham mais ou menos o mesmo prestígio. Talvez os
do Corinthians tenham custado
mais caro. O prestígio nem sempre coincide com a qualidade.
Hoje, o Atlético, mesmo sem os
dois melhores jogadores de 2003
(Velloso e Cicinho), tem um bom
conjunto, um time competitivo e
vibrante, com chances de ganhar
o Campeonato Mineiro e de fazer
boa campanha no Brasileiro. A
equipe já está no nível da do Coritiba do ano passado, que era treinada também pelo Bonamigo e
que conseguiu vaga na Libertadores. Mas se o Atlético quiser ter
chances de ganhar o título nacional terá de contratar reforços.
Bonamigo indicou jogadores
pouco valorizados para serem
contratados, mas com chances de
evoluírem e com características
para atuarem nas posições corretas. A equipe foi planejada. Se esses mesmos atletas tivessem ido
para o Corinthians, provavelmente estariam hoje na mesma
situação dos atuais jogadores da
equipe paulista.
Enquanto isso, o Corinthians
está totalmente desfigurado, com
os atletas abatidos e amedrontados. Em pouco tempo, será difícil
formar um bom conjunto e o clube contratar excelentes jogadores,
pois há pouquíssimos disponíveis.
A principal diferença entre o
Corinthians e o Atlético foi o técnico. A grande importância de
qualquer treinador está na formação da equipe, nas contratações e no planejamento, dentro e
fora de campo. Nesse péssimo momento financeiro do futebol brasileiro, os dirigentes, a comissão
técnica e, principalmente, os treinadores precisam ser mais competentes e criativos do que antes.
Os principais responsáveis pela
péssima situação do Corinthians
são os diretores de futebol (há
muitos), que planejaram e contrataram mal, e o inexperiente
Juninho, que indicou e/ou concordou com os nomes sugeridos e que
não conseguiu dar um padrão tático à equipe, como fez o Bonamigo no Atlético.
O time piorou ainda mais com
Oswaldo de Oliveira. A média de
aproveitamento caiu de 33,3%
para 25%. O técnico e o Rivellino,
que é o diretor mais ligado aos
atletas e ao treinador, não podem
cometer mais erros. Oswaldo precisa recuperar o prestígio obtido
no início de sua carreira, e Rivellino tem de mostrar que, além de
ter sido um supercraque, poderá
se tornar um bom diretor técnico.
Para se destacar em qualquer
atividade ligada ao futebol, o ex-jogador precisa ter outras qualidades e conhecimentos, se identificar e se dedicar totalmente à nova função. Ele necessita usar a experiência do passado e também se
desligar do passado.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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