São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2004

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FUTEBOL

Pular etapas

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

S e o Parreira tivesse experimentado alguns jogadores, um ou dois de cada vez, nestes quase dois anos de partidas amistosas e pelas eliminatórias, a seleção não perderia o conjunto e o treinador teria mais condições de definir o time, o elenco e os reservas para os titulares absolutos, como Ronaldo.
Luis Fabiano e Adriano não jogaram uma única vez, desde o início do jogo, no time titular. Entrar 20 minutos não adianta. Apesar de suas qualidades e da experiência nos seus clubes, qualquer um dos dois que substituir o Ronaldo terá mais dificuldades do que deveria nesse difícil jogo contra o Paraguai.
A única surpresa na convocação foi a ausência do Emerson. Há quatro volantes pela direita (Renato, Kleberson, Juninho Pernambucano e Júlio Baptista). Nem o Roque Júnior, que é reserva do pequeno time do Siena (Itália), entende quando vê o seu nome no time titular. Ele deve perguntar ao espelho: "Espelho, espelho meu, será que não existe ninguém melhor do que eu?".
Quando digo que o Robinho deveria jogar no lugar do Zé Roberto (excelente jogador), não seria para fazer a mesma função. O time jogaria como a maioria das equipes da Europa, com dois volantes e um armador ofensivo de cada lado. Robinho seria esse jogador, pela esquerda.
Em alguns momentos, Parreira deveria pular etapas, dar um descanso à sua coerência, à sua prudência e à sua racionalidade -e convocar o Robinho.

A diferença é o técnico
Corinthians e Atlético-MG, dois times de muita torcida e tradição, viveram situações parecidas no final do ano passado. Os dois clubes não conseguiram vaga na Libertadores, não tinham dinheiro para contratar excepcionais jogadores, trouxeram técnicos novos e fizeram grandes reformulações nos seus elencos.
Os jogadores contratados pelas duas equipes tinham mais ou menos o mesmo prestígio. Talvez os do Corinthians tenham custado mais caro. O prestígio nem sempre coincide com a qualidade.
Hoje, o Atlético, mesmo sem os dois melhores jogadores de 2003 (Velloso e Cicinho), tem um bom conjunto, um time competitivo e vibrante, com chances de ganhar o Campeonato Mineiro e de fazer boa campanha no Brasileiro. A equipe já está no nível da do Coritiba do ano passado, que era treinada também pelo Bonamigo e que conseguiu vaga na Libertadores. Mas se o Atlético quiser ter chances de ganhar o título nacional terá de contratar reforços.
Bonamigo indicou jogadores pouco valorizados para serem contratados, mas com chances de evoluírem e com características para atuarem nas posições corretas. A equipe foi planejada. Se esses mesmos atletas tivessem ido para o Corinthians, provavelmente estariam hoje na mesma situação dos atuais jogadores da equipe paulista.
Enquanto isso, o Corinthians está totalmente desfigurado, com os atletas abatidos e amedrontados. Em pouco tempo, será difícil formar um bom conjunto e o clube contratar excelentes jogadores, pois há pouquíssimos disponíveis.
A principal diferença entre o Corinthians e o Atlético foi o técnico. A grande importância de qualquer treinador está na formação da equipe, nas contratações e no planejamento, dentro e fora de campo. Nesse péssimo momento financeiro do futebol brasileiro, os dirigentes, a comissão técnica e, principalmente, os treinadores precisam ser mais competentes e criativos do que antes.
Os principais responsáveis pela péssima situação do Corinthians são os diretores de futebol (há muitos), que planejaram e contrataram mal, e o inexperiente Juninho, que indicou e/ou concordou com os nomes sugeridos e que não conseguiu dar um padrão tático à equipe, como fez o Bonamigo no Atlético.
O time piorou ainda mais com Oswaldo de Oliveira. A média de aproveitamento caiu de 33,3% para 25%. O técnico e o Rivellino, que é o diretor mais ligado aos atletas e ao treinador, não podem cometer mais erros. Oswaldo precisa recuperar o prestígio obtido no início de sua carreira, e Rivellino tem de mostrar que, além de ter sido um supercraque, poderá se tornar um bom diretor técnico.
Para se destacar em qualquer atividade ligada ao futebol, o ex-jogador precisa ter outras qualidades e conhecimentos, se identificar e se dedicar totalmente à nova função. Ele necessita usar a experiência do passado e também se desligar do passado.

E-mail tostao.folha@uol.com.br

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