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JUCA KFOURI
Taça Al Capone
Outra vez o Caixa D'Água
revela sua coerência. Professor de direito, ele batizou a
Taça Guanabara com o nome
de Castor de Andrade.
Eurico Miranda e Antônio
Soares Calçada, do Vasco;
Kleber Leite e Michel Assef, do
Flamengo; Álvaro Barcelos,
do Fluminense, e José Luís Rolim, do Botafogo, enfim, a fina flor da cartolagem carioca
aprova a idéia por unanimidade.
Por enquanto, a única voz
contrária na sociedade carioca é a do procurador de Justiça Antônio Carlos Biscaia.
Amanhã, se o Ministério Público não intervir e proibir a
homenagem ao amado contraventor, uma criança perguntará ao pai quem foi esse
tão importante Castor de Andrade e ouvirá como resposta
uma meia verdade.
"Foi presidente do Bangu,
filho", responderá o cidadão.
Um dia o menino saberá a
verdade, como nos tempos em
que era a cegonha que trazia
as crianças ao mundo.
Enquanto isso, o professor
Caixa D'Água dirá aos seus
alunos que vivemos numa sociedade hipócrita e que a homenagem foi feita ao dirigente e não ao bicheiro, como se
fosse possível separar um do
outro.
Mais: mostrará na sala de
aula fotos de Castor de Andrade sendo beijado carinhosamente por Rico Terra, da
Casa Bandida, e por João Havelange, da Fifa.
Este último, aliás, que sempre gostou de ditadores, dos
brasileiros aos argentinos, e
que agora, desesperado diante
da perda de poder na Fifa,
extrapola em seus métodos
como um Pinochet sem exército, já deve estar pensando em
dar à Copa do Mundo o nome
de Al Capone, um gangster internacional jamais reconhecido pelas benfeitorias legadas
à sociedade norte-americana.
E assim caminha o futebol
brasileiro, homenageando bicheiros em vez de, por exemplo, dar a um troféu o nome
de Mané Garrincha.
E o torcedor, anestesiado, a
tudo assiste, calado.
Pobre país.
Como nem só de cartolas vive o futebol, o excelente e inédito filme de Ugo Giorgetti,
"Boleiros", com estréia marcada para o dia 24, ganhou uma
adesão de peso: Pelé escreveu
aos organizadores do Festival
de Cannes endossando sua
inscrição no concurso internacional de cinema.
Como Pelé no milésimo gol,
de pênalti, Oscar marcou seu
ponto 40 mil de lance livre.
Para o mundo parar e aplaudir.
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