São Paulo, terça, 17 de março de 1998

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JUCA KFOURI
Taça Al Capone

Outra vez o Caixa D'Água revela sua coerência. Professor de direito, ele batizou a Taça Guanabara com o nome de Castor de Andrade.
Eurico Miranda e Antônio Soares Calçada, do Vasco; Kleber Leite e Michel Assef, do Flamengo; Álvaro Barcelos, do Fluminense, e José Luís Rolim, do Botafogo, enfim, a fina flor da cartolagem carioca aprova a idéia por unanimidade.
Por enquanto, a única voz contrária na sociedade carioca é a do procurador de Justiça Antônio Carlos Biscaia.
Amanhã, se o Ministério Público não intervir e proibir a homenagem ao amado contraventor, uma criança perguntará ao pai quem foi esse tão importante Castor de Andrade e ouvirá como resposta uma meia verdade.
"Foi presidente do Bangu, filho", responderá o cidadão.
Um dia o menino saberá a verdade, como nos tempos em que era a cegonha que trazia as crianças ao mundo.
Enquanto isso, o professor Caixa D'Água dirá aos seus alunos que vivemos numa sociedade hipócrita e que a homenagem foi feita ao dirigente e não ao bicheiro, como se fosse possível separar um do outro.
Mais: mostrará na sala de aula fotos de Castor de Andrade sendo beijado carinhosamente por Rico Terra, da Casa Bandida, e por João Havelange, da Fifa.
Este último, aliás, que sempre gostou de ditadores, dos brasileiros aos argentinos, e que agora, desesperado diante da perda de poder na Fifa, extrapola em seus métodos como um Pinochet sem exército, já deve estar pensando em dar à Copa do Mundo o nome de Al Capone, um gangster internacional jamais reconhecido pelas benfeitorias legadas à sociedade norte-americana.
E assim caminha o futebol brasileiro, homenageando bicheiros em vez de, por exemplo, dar a um troféu o nome de Mané Garrincha.
E o torcedor, anestesiado, a tudo assiste, calado.
Pobre país.

Como nem só de cartolas vive o futebol, o excelente e inédito filme de Ugo Giorgetti, "Boleiros", com estréia marcada para o dia 24, ganhou uma adesão de peso: Pelé escreveu aos organizadores do Festival de Cannes endossando sua inscrição no concurso internacional de cinema.

Como Pelé no milésimo gol, de pênalti, Oscar marcou seu ponto 40 mil de lance livre. Para o mundo parar e aplaudir.



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