JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

As mulheres de 30 anos, ou um pouco mais, são chamadas de balzaquianas.
Já nós, homens que ainda estamos abaixo dos 40, não temos nenhum nome especial para nos designar, se bem que é por essa idade que nos começam a chamar de "tio".
Esta é uma fase difícil, na qual a barriga cresce mais do que esperamos, e alguns fios de cabelo não crescem mais como esperávamos.
Mas, se a mulher de 30 une beleza e maturidade, para o jogador de futebol essa é uma época muito dura. São as vésperas da aposentadoria.
Os dirigentes os olham com desconfiança, os torcedores os vaiam quando não conseguem alcançar um lançamento, e os empresários (essa gente tão sentimental) evitam responder seus telefonemas.
É com grande espanto, entretanto, que vejo a terceira idade futebolística estar tão em alta no Paulistão.
A maioria dos times conta com, pelo menos, dois ou três confiáveis veteranos, e eles vêm dando conta do recado.
Aliás, neste fim de semana estreou o mais velho dos jogadores do Paulistão: o zagueiro Júlio César, que veio do Werder Bremen para o Rio Branco.
Aos 37 anos, o jogador atuou pela primeira vez no campeonato, depois de quatro meses de recuperação.
E são tantos os jogadores com mais de 30 que até poderíamos fazer uma seleção só com eles.
No gol, por exemplo, poderíamos escolher Zetti (36), que, antes de se transferir para o Sport de Recife, andou evitando catástrofes no União Barbarense. Seu reserva poderia ser Sérgio (30), do Palmeiras.
Para a lateral direita, única posição onde há escassez de trintões, escolheria o veterano Capitão (34), da Portuguesa Santista, que fez muita falta ao time neste fim de semana.
Para a esquerda, escalaria Jorge Luiz, do Guarani, com seus 35 aninhos.
Na zaga sobram opções. Mas fiquemos com os veteranos Ronaldão (35), da Ponte, e com o vovô Júlio César (37).
Mas é para a posição de volante em que há maior oferta de veterano no Paulista.
Entre os vários cabeças-de-área espalhados por aí, eu escalaria Élson (32), da Lusa, e Simão (32), do São Caetano.
Na reserva, poderiam ficar o competente Fernando (30), do Palmeiras, e Gallo (33), do Corinthians.
Os jogadores para as posições de meias poderiam ser convocados no geriátrico time do ABC.
Ali estão o regularíssimo Adãozinho (32) e o habilidoso Esquerdinha (30). Mas estes todos ainda são jovens comparados a Silas, do Rio Branco, e João Santos, agora no União São João, ambos com 35 anos.
No ataque também sobram opções. Não se pode deixar de fora o matador Mauro (32), do União Barbarense, com nove gols, e Zinho (33), da Santista, sensação da terceira idade com seu dinamismo e seus oito gols.
No banco, teríamos uma boa disputa entre o campeão mundial Macedo (31), da Ponte Preta, e João Paulo (36), do União São João, aquele ponta-esquerda que foi ídolo na Itália e deu brilhantes dribles nos seus tempos de Guarani.
Enfim, neste Campeonato Paulista, aquela música que dizia "não confie em ninguém com mais de 30 anos" está perdendo o sentido.

Lira dos 20 anos
E, ainda falando em balzaquianos, se o Chico Buarque topasse mudar um pouco a letra de "Doze Anos", a gente podia fazer uma música mais ou menos assim: Ai que saudades que eu tenho/ dos meus 20 anos/ que saudade ingrata./ Nos times por aí/ fazendo grandes planos/ ganhando alguma prata./ Fazendo firulinha/ eu, todo gostosinho/ o craque da maloca./ Jogando um bolão/ correndo feito leão/ pulando qual pipoca./ Ai que saudades que eu tenho/ dos carros com frescura/ a cabeça na lua./ O abdômen duro/ cabelo sem tintura/ sempre com mulher nua./ Chamado de "Pelé"/ driblando o pontapé/ eu era o rei da Mooca./ Hoje engordo ao léu/ só penso em pastel/ e depois uma paçoca./ Ai que saudades que eu tenho/ de entrar de sola/ e correr mais que biga./ Hoje a coisa mudou/ hoje mal vejo a bola/ embaixo da barriga./ Dou aula na escolinha/ brigo com a vizinha/ e bebo uma Ypioca./ Pareço o Burt Lancaster/ sou reserva do master/ do Radium de Mococa.

E-mail: torero@uol.com.br



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