UOL


São Paulo, quinta-feira, 17 de julho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Obstinadamente

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Depois da derrota para o México na estréia na Copa Ouro, alguns jogadores da seleção reclamaram do resultado injusto e concluíram que o problema foi a quantidade de erros nas finalizações. De fato, várias chances foram desperdiçadas, mas esse não foi o nosso único defeito. O Brasil não jogou bem, e o resultado foi injusto porque o México foi pior.
Mas essa história das finalizações perdidas está ficando séria. Temos muitos bons jogadores que têm uma deficiência irritante no chute a gol. Robinho, Gil e Diego (Inter) são atacantes talentosos que já fizeram gols belos e difíceis, mas perderam outros razoavelmente fáceis em número maior que o aceitável. Em um treino na última Copa, Denílson deu mil demonstrações de habilidade brincando com a bola e ouviu do repórter André Plihal: "Tem alguma coisa que você não saiba fazer?". Com sinceridade e simpatia características, admitiu: "Gol!".
Se um volante que chute bem a gol é um senhor trunfo, assim como um zagueiro que saiba finalizar, o que dizer de atacantes habilidosos que também tenham essa capacidade? Quebram um galhão, hein? Falando sério agora, dentro da esperada polivalência dos jogadores de hoje, parece que alguns homens de frente estão aprendendo a marcar e desaprendendo o chute a gol. Em compensação, os chamados "matadores", que às vezes são jogadores pesados, desajeitados, sem muita precisão no passe ou habilidade no drible, têm uma ânsia de gol admirável. Eles giram e chutam de canela, de orelha, do jeito que der, e acertam finalizações inacreditáveis. Seria ótimo combinar a fome destes com o brilho daqueles.
Acho que os jogadores habilidosos deveriam se indignar mais com os gols perdidos. Quando a bola sai pela linha de fundo, eles lamentam com sinceridade, mas não acho que fiquem indignados por dias e tenham a firme determinação de nunca mais fazer igual. Até por serem talentosos, talvez sejam menos obstinados que outros menos favorecidos. E como colaboram com dribles e arrancadas, talvez até inconscientemente se desobriguem um pouco de fazer o gol.
Aqui entra a afirmação do Bernardinho citada ontem pelo Tostão: um jogador menos talentoso que treina muito pode superar o talentoso que treina pouco. E um jogador talentoso pode ser muito melhor que ele mesmo se treinar obstinadamente. Alex, Rogério Ceni e Marcelinho não param de treinar cobranças de falta. Luis Fabiano, destro, tanto treinou os chutes com a perna esquerda que hoje ela é sua favorita. Telê Santana era famoso por insistir um milhão de vezes em determinadas jogadas, como a histórica cobrança de falta de Raí contra o Barcelona. Muitos agradecem até hoje ao velho mestre pela "chatice".
É certo pedir à torcida que não cobre demais dos jovens talentos; eles estão em fase de formação e podem errar, como todo ser humano. Mas a recomendação não vale para seus técnicos, muito menos para eles mesmos: seu grau de exigência deve ser o mais alto possível. Começando pelos treinos.

Cabo eleitoral
Helio Ferraz desceu do proverbial muro para defender sua adesão a Ricardo Teixeira ("É para o bem do clube") e para criticar Zico, que trabalhou para a CBF na Copa de 98. Ora, dar apoio político é diferente de prestar um serviço para a seleção brasileira, como fez o craque. A se levar a crítica ao pé da letra, ninguém que discorde da administração Ricardo Teixeira deveria aceitar qualquer convite para trabalhar na seleção. Um boicote assim teria seu valor, mas é tão difícil de colocar em prática quanto torcer contra o Brasil. Eu, por exemplo, não consigo. Ademais, o presidente canta as vitórias da seleção brasileira como se fossem dele, mas, na verdade, não são elas que o reelegem, e sim as trocas de favores.

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


Texto Anterior: Ação - Carlos Sarli: Brasileiros nos Mundiais de surfe
Próximo Texto: Futebol: Pequeno, Corinthians empata com Goiás
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.