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FUTEBOL
Obstinadamente
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Depois da derrota para o
México na estréia na Copa
Ouro, alguns jogadores da seleção
reclamaram do resultado injusto
e concluíram que o problema foi a
quantidade de erros nas finalizações. De fato, várias chances foram desperdiçadas, mas esse não
foi o nosso único defeito. O Brasil
não jogou bem, e o resultado foi
injusto porque o México foi pior.
Mas essa história das finalizações perdidas está ficando séria.
Temos muitos bons jogadores que
têm uma deficiência irritante no
chute a gol. Robinho, Gil e Diego
(Inter) são atacantes talentosos
que já fizeram gols belos e difíceis,
mas perderam outros razoavelmente fáceis em número maior
que o aceitável. Em um treino na
última Copa, Denílson deu mil
demonstrações de habilidade
brincando com a bola e ouviu do
repórter André Plihal: "Tem alguma coisa que você não saiba fazer?". Com sinceridade e simpatia
características, admitiu: "Gol!".
Se um volante que chute bem a
gol é um senhor trunfo, assim como um zagueiro que saiba finalizar, o que dizer de atacantes habilidosos que também tenham essa capacidade? Quebram um galhão, hein? Falando sério agora,
dentro da esperada polivalência
dos jogadores de hoje, parece que
alguns homens de frente estão
aprendendo a marcar e desaprendendo o chute a gol. Em compensação, os chamados "matadores",
que às vezes são jogadores pesados, desajeitados, sem muita precisão no passe ou habilidade no
drible, têm uma ânsia de gol admirável. Eles giram e chutam de
canela, de orelha, do jeito que der,
e acertam finalizações inacreditáveis. Seria ótimo combinar a fome destes com o brilho daqueles.
Acho que os jogadores habilidosos deveriam se indignar mais
com os gols perdidos. Quando a
bola sai pela linha de fundo, eles
lamentam com sinceridade, mas
não acho que fiquem indignados
por dias e tenham a firme determinação de nunca mais fazer
igual. Até por serem talentosos,
talvez sejam menos obstinados
que outros menos favorecidos. E
como colaboram com dribles e arrancadas, talvez até inconscientemente se desobriguem um pouco
de fazer o gol.
Aqui entra a afirmação do Bernardinho citada ontem pelo Tostão: um jogador menos talentoso
que treina muito pode superar o
talentoso que treina pouco. E um
jogador talentoso pode ser muito
melhor que ele mesmo se treinar
obstinadamente. Alex, Rogério
Ceni e Marcelinho não param de
treinar cobranças de falta. Luis
Fabiano, destro, tanto treinou os
chutes com a perna esquerda que
hoje ela é sua favorita. Telê Santana era famoso por insistir um
milhão de vezes em determinadas
jogadas, como a histórica cobrança de falta de Raí contra o Barcelona. Muitos agradecem até hoje
ao velho mestre pela "chatice".
É certo pedir à torcida que não
cobre demais dos jovens talentos;
eles estão em fase de formação e
podem errar, como todo ser humano. Mas a recomendação não
vale para seus técnicos, muito menos para eles mesmos: seu grau de
exigência deve ser o mais alto possível. Começando pelos treinos.
Cabo eleitoral
Helio Ferraz desceu do proverbial muro para defender sua
adesão a Ricardo Teixeira ("É
para o bem do clube") e para
criticar Zico, que trabalhou para a CBF na Copa de 98. Ora,
dar apoio político é diferente de
prestar um serviço para a seleção brasileira, como fez o craque. A se levar a crítica ao pé da
letra, ninguém que discorde da
administração Ricardo Teixeira deveria aceitar qualquer convite para trabalhar na seleção.
Um boicote assim teria seu valor, mas é tão difícil de colocar
em prática quanto torcer contra o Brasil. Eu, por exemplo,
não consigo. Ademais, o presidente canta as vitórias da seleção brasileira como se fossem
dele, mas, na verdade, não são
elas que o reelegem, e sim as
trocas de favores.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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